Anelaris - A Caixa de Pandora

O Homem no Espelho

     -Olá! –Yosh disse ao abrir os olhos.

    Ele estava em um lugar que desconhecia. Era um lugar muito bonito, grande e cheio de móveis que ele estava acostumado a ver em filmes que mostravam pessoas abastadas.

     Ele caminhou bem devagar.

     Eu disse para parar de lutar.

    Eu disse para parar de lutar.

    A voz ecoou.

    Por uns instantes Yosh pensou que estava acordado, mas depois de ouvir a voz ele percebeu que estava em um de seus "sonhos".

    Isso fez com que ele agisse com menos cautela. Nos "sonhos" ele não podia ser machucado, não podia ser tocado. Ele correu para o andar de cima, na escada. Esperando encontrar Auros, o dono da voz.

    Pare de lutar.

     Pare de uma vez por todas.

    O andar de baixo ficou escuro, como nos últimos sonhos de Yosh. E isso o assustou um pouco. Ele continuou a correr pelo corredor, e tudo que estava atrás ia desaparecendo na escuridão.

    Não tinha medo da escuridão em si, tinha medo das coisas que sentia quando estava naquele escuro. A dificuldade para respirar, o suor que tomava conta de seu corpo.

    Pare. É inútil lutar. Só está adiando o inevitável.

    Finalmente Yosh encontrou uma coisa. Atrás de uma porta entreaberta ele viu Dimitri. Estava caído no chão, se contorcendo. Os olhos estavam vermelhos, do mesmo jeito que estavam no show. A coisa nova era um rabo idêntico ao de Auros.

    Pare de lutar. A voz saiu da boca de Dimitri.

    Yosh abriu os olhos.

    Estava deitado em sua própria cama, com o corpo coberto pelo suor.

    Ele olhou para os lados, com medo de ter alguém por perto. Medo de que tivesse dito alguma coisa durante o "sonho". Ele estava sozinho.

    Yosh se sentou, ficou olhando pra janela.

    O "sonho" tinha sido ruim. Ruim por ter feito ele se sentir mal fisicamente. Mas tinha sido bom. Bom por ter mostrado para ele que Dimitri realmente não estava morto.

    Apesar de tudo, Yosh conseguiu rir.

    Tudo vai ficar bem. Pensou. E faremos o piquenique no morro.

    -Volte para a cama, querido. –Hyoko disse quando Yosh ameaçou colocar os pés no chão. –A enfermeira disse que você deve ficar em repouso absoluto.

    -Ah, estou desmaiado a muito tempo? –Yosh perguntou colocando os pés de volta embaixo da coberta.

    -Dois dias. –Hyoko disse. –Eu sugeri que fosse para um hospital, mas eles disseram que não era nada grave, querido. Ainda bem que estavam certos. Disseram que só estava em choque, que precisava de um tempo para se recuperar.

    Hyoko se sentou ao lado da cama de Yosh, estava com um prato cheio de caldo verde.

    -Yumi?

    -Saiu. –Hyoko disse. –Falou que tinha que se encontrar com um amigo seu, querido. Um tal de Roger.

    -Ah, claro. –Yosh disse. –O que você está fazendo? –Yosh segurou a colher que sua mãe estava prestes a colocar em sua boca.