O Encontro

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O sol começava a despontar no horizonte. Olhei para o lado em que vira os índios e amulher para vê-los melhor agora. Lá estava minha esposa aos prantos. Os índios também davam gritos de dor com a visão da chacina. Aproximei-me dela. Tinha o rosto sofrido, mas ainda era bela. Estava mais amadurecida como sofrimento que passara. Eu procurei tocá-la, mas ela me repeliu com um grito de horror.

_ Afaste-se de mim, seu assassino!

_ Não sou assassino. O homem que causou esta selvageria está morto. Acabei de matá-lo pelo que fez.

_ Que adianta tê-lo matado, se os mortos não vão reviver?

_ Eu não ordenei isto, acredite-me.

_ Pequeno Trovão falou-me que se eu não voltasse, você mataria a todos na aldeia. Por que tenta se justificar agora?

_ Aquilo foi somente para assustá-los. Queria que a trouxessem de volta. Eles saberiam como encontrá-la, pois conheciam bem a floresta.

_Sim, eles conhecem muito bem a floresta. Viveram aqui por centenas de anos em paz. Masnão conhecem bem aos brancos, como você. Por que veio procurar-me? Não disse que eu o havia desonrado com um negro? Qual o homem que procuraria pela esposa que o desonrou?

_ Prometi a seu pai que a levaria de volta, não importa o tempo que demorasse. Eu vou levá-la de volta !

Eu tentava me justificar diante dela.

_ Eu não quero voltar nunca mais para o seu meio. Fui ultrajada, chamada por um nome que até hoje me magoa, sem ter feito nada. Deixe-me em paz, oh poderoso barão.

_ Esta expedição foi um tormento tão grande que agora você vai de qualquer jeito, mesmo que eu tenha que amarra-la para isto.

_ Pois terá que fazer isto, pois eu não irei por livre vontade.

_ Não me force a isto. É a última coisa que eu faria para levá-la de volta.

_ Eu não vou voltar, prefiro morrer.

Nisto um dos homens aproximou-se e disse:

_ Senhor barão, é melhor matarmos estes índios e partirmos logo. Os homens já estão ficando impacientes com sua demora.

_ Faça o que achar melhor, homem. Eu já não me incomodo com mais nada.

_ Vou assumir o comando da expedição a partir de agora, senhor.

_ Como queira, homem.

Ele deu uma ordem e os índios foram amarados. Iria fuzilá-los ali mesmo. Minha esposa deu um grito.

_ Não façam isto, é um crime! _ Eu nada falei, apenas fiquei observando a movimentação dos homens. Ela tornou a falar. _ Não permita isto, eu lhe imploro. Voltarei com você caso deixe que eles vivam.

Ao ouvir isto eu dei um grito:

_ Não atirem, deixe que eles vivam.Solte-os, comandante.

_ É uma loucura, senhor barão. Irão até alguma outra aldeia. Seremos perseguidos em nosso retorno, após o que lhes fizemos aqui.

_ Então, amarre-os bem para que possamos nos afastar desta região sem sermos molestados.

Fizeram isto, depois partimos. O silêncio reinava entre os homens. Penso que eles despertavam do pesadelo em que haviam sido protagonistas. Isto pesava em suas consciências e quebrava a moral de todos. Eu ia à frente com minha esposa ao lado. Não trocávamos palavras. Centenas de mortos. Inocentes pagando por um erro estúpido de minha parte.Tudo era conseqüência de um plano maldito desde o início, engendrado por mim para me vingar de uma esposa não virgem. Que loucuras eu havia cometido por causa de um preconceito mesquinho! Em breve chegamos ao lugar onde havíamos deixado nossas bagagens. Apanhamos tudo e continuamos a caminhada. Quando chegamos nas canoas fizemos uma rápida refeição e partimos. A volta foi mais difícil, pois agora remávamos contra a correnteza. Navegamos até o entardecer. Quando o sol já se punha no horizonte, paramos à margem do rio num lugar de fácil acesso. O cozinheiro preparou o jantar. Todos estávamos em silêncio. Não havia mais as brincadeiras ou as gargalhadas da ida. Todos experimentavam o gosto amargo da louca aventura. Sim, que loucura!

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