Um erro gera outros erros

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Eu estava sentado e meditando sobre minha vida, quando um ente espiritual se aproximou e mesaudou:

_ Salve, Taluiá!

_ Salve, amigo! Como vai?

_ Hoje estou ótimo.

_ Fico feliz em ouvir isto. Mas porque tanta alegria se era tão calado?

_ Houve uma grande mudança em meu modo de ser.

_ Como assim? Mesmo a pós a morte, quando resta apenas a alma, ainda há mudanças?

_ Sim! Gostaria de ouvir a minha história?

_ Claro, nada tenho a fazer no momento. Talvez sua história me ajude em algo. Conte-a, estou ouvindo.

_ Bem, você já me conhece há muito tempo, certo?

_ Sim, são muitos anos de esforço conjunto dentro da Lei.

_ Pois é, mas fique sabendo que eu já fui um grande fora da Lei.

_Como foi isso, meu amigo?

_ Tudo começou há duzentos e trinta anos atrás. Eu era um barão, um homem rico e poderoso. Tinha muitas terras, escravos, plantações e muitas parelhas de animais. Eu vivia do transporte da produção de alimentos do planalto até o porto de Santos. 

_ Como isso era feito?

_ Através de carroções com rodas de madeiras, puxados por parelhas de bois ou de burros. Cavalos não eram bons para este serviço.

_ Entendo. Continue, não quero atrapalhar a sua história.

_ Bem, eu era o maior transportador da região, por isso era muito bajulado por todos. Se eu não gostasse de alguém, seus produtos se perdiam, pois não chegavam até o porto, para posterior exportação. Por isso todos procuravam ser amigos meus. Eu sabia do poder que possuía, e também me aproveitava disso. Sempre que podia, procurava tirar vantagens da minha posição. Acabei recebendo título de barão, pois tinha alguma influência na corte real de Portugal. 

Quando ganhei meu título de nobreza, fiz uma grande festa para todos os meus amigos. Estava exultante com a minha nova posição. 

Os anos foram passando, e eu comecei a pensar: 

"Riquezas eu já possuo, e muitas terras também. O que mais pode me interessar? "

_ Sim, o que mais?

_ Uma mulher, meu amigo.

_ Você não era casado?

_ Não. Estava com quarenta anos e nunca tinha pensado em me casar.

_ Mas até esta idade nunca tinha pensado em mulheres?

_ Não é bem assim. Eu tinha muitas escravas, e também mulheres brancas que vinham dePortugal. Conhecia, e muito bem, o prazer da boa companhia feminina.

_ Então...

_ Sim, achei que devia escolher uma para ser minha esposa.

_ Acho isso muito bom!

_ Errado, amigo Taluiá. Foi aí que eu cometi o grande erro de minha vida.

_Só porque pensou em se casar?

_ Sim. Logo que resolvi fazer isto, comentei com um amigo íntimo a minha intenção de fazê-lo. Disse-lhe que iria escolher uma moça bonita e preparada para ser minha esposa. Logo, toda colônia estava sabendo. Amigo íntimo é bom para isto: você lhe conta um segredo, e logo todos sabem o teu segredo. Só você não sabe que seu segredo já não é segredo, pois corre como um serelepe. 

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