Um dia eu resolvi ir pessoalmente até à casa de minha antiga esposa, a madre. Quando cheguei não vi movimento algum e estranhei.
A casa que antes era um centro da linha branca estava abandonada. O que teria havido?
Estava triste sim pela ausência da madre. Um exu também sente tristeza. A falta de movimento de pessoas e almas, ali tornava aquela casa triste também. "Pena que eu não tive coragem de lhe contar toda a verdade enquanto podia. Não a verei mais, deve ter se elevado muito", eu pensava alto.
_ O que não teve coragem de me falar, Guardião da Meia-Noite?
Eu me assustei. Era a madre.
_ Eu falava para mim mesmo, Madre. O que aconteceu com seu templo?
_ Meu pai terminou sua missão na terra e os que ficaram responsáveis pelo grupo mudaram-se para outro local. Saberia disto se pudesse ter vindo aqui antes.
_ Sinto saber disto mas folgo em ver que conseguiu vencer mais uma luta, Madre.
_ Vim aqui para ver se havia alguma alma em busca da luz do saber divino e quando o vi, aproximei-me e ouvi seus pensamentos. O que o atormenta tanto, Guardião? Ainda posso ouvi-lo, caso queira dizer-me algo.
Tomei coragem. Afinal, eu era ou não um guardião?
_ Eu sou um canalha, Madre.
_ Porque se julga assim? Acaso age como tal?
_ Isto eu não sei dizer mas agi assim há muito tempo atrás com a senhora.
_ Eu não me lembro de ter tido tal desprazer.
_ Pois eu sou o barão que a fez sofrer tanto no passado.
_ Você é o Barão?
_ Sim. O Cavaleiro não lhe falou quem era eu?
_ Não. Ele sempre dizia que você estava bem, quando eu pedia noticia suas.
_ Muito nobre da parte dele.
_ Sinto pelo seu estado atual, Barão.
_ Não sofra por minha causa pois não mereço compaixão alguma.
_ Por que diz isto? Todos somos merecedores de compaixão.
_ Não alguém como eu. E ainda mais, sendo você a vitima e eu o réu. Até hoje sinto vergonha pelo que...
_ Nós sofremos só um pouco e você sofreu demais. Acho que não devia se condenar tanto.
_ Eu poderia viver toda a eternidade nas Trevas e ainda assim acharei que é pequeno o castigo que recebi pelo mal que causei a você e a tantos outros.
_ Pois eu não guardo mágoas do que houve. Afinal eu pude me realizar como freira e meu pai já o perdoou há muito tempo.
_ Eu quero agradecer por ter usado tão bem a minha fortuna. Este é um ponto a meu favor.
Saí da terra e desci ao inferno mas você soube transformar toda ela em paz aos menos favorecidos.
_ Achei que você gostaria de saber disto.
_ Soube há pouco tempo e foi isto que me deu coragem de vir aqui hoje.
_ Espero que me perdoe por não ter sido a esposa que esperava que eu fosse.
_ Você foi a melhor esposa que eu poderia ter merecido. Eu é que não me portei como marido nem como homem. Só quero que saiba que eu a amei muito, ainda que ao meu modo.
_ Fico feliz em ouvir isto. Eu também o amei e depois que passou a mágoa pela sua desconfiança, senti sua ausência. Foi por isso que eu ingressei numa ordem religiosa. Quero que saiba que eu nunca fui tocada por outro depois de você.
_ Eu sei disto. Não estou aqui para acusa-la de nada mas assim para pedir-lhe perdão.
Perdão por tê-la tirado de sua família, por não ter sido um marido à altura e por tê-la julgado tão mal. Se não fosse por mim, você teria sido uma mulher feliz.
_ Eu não tenho por que perdoa-lo, Barão. Quem sabe qual teria sido o meu destino, se você não tivesse surgido em minha vida? Também tenho que lhe pedir perdão por ter travado sua ascensão devido a uma falha em meu corpo físico. Se não fosse por isso, sua história seria outra.
Eu fui culpada por sua queda.
_ Não vim aqui para perdoa-la, Madre mas sim para ser perdoado. Perdoe-me, por favor, só assim terei um pouco de paz.
_ Se isto vai alivia-lo, eu o perdôo com toda minha sinceridade. Mas peço também seu perdão pois assim eu terei um pouco de paz, sem julgar-me culpada por sua queda.
_ Eu não sou ninguém para perdoa-la. Sou um ser das Trevas e não posso dar nada a um ser da Luz.
Eu soluçava quando disse isto.
_ Pois eu lhe peço: se um dia me amou de verdade, então perdoe-me.
Ela estava chorando também.
_ Só farei isto se parar de chorar, Madre. Não estou preparado para o pranto.
Ela olhou para mim e disse:
_ Então, porque está chorando?
_ Eu não choro pois um esqueleto não pode verter lágrimas. São apenas soluços engasgados por séculos que saem de mim.
_ Pois eu vejo isto como choro. Perdoe-me por te tirado até isto de você.
_ Eu a perdôo se isto a deixa menos triste mas saiba que fui eu mesmo quem tirou isto de
_ Penso que agora vamos ter um pouco de paz, não Barão?
_ Sim Madre, agora vamos ter paz. Peço sua licença para ir-me embora. Caso algum dia venha a precisar de minha ajuda, ordene e a servirei com prazer.
_ Você também Barão, caso precise do meu auxilio é só me chamar e o atenderei no que puder.
_ Obrigado Madre. Até a vista.
Envolvi-me com minha capa e saí andando da casa. Não tinha pressa alguma em voltar ao meu ponto de força. Quando saía da casa ainda olhei para trás. Vi lágrimas em seus olhos. Ela era por demais elevada por isto julgava-se culpada pela minha queda.
Que pena...eu consegui o seu perdão mas não tirei a dor e a mágoa do seu peito. Já estava distante quando tornei a olhar para trás. Ela estava na calçada olhando para mim. Resolvi acabar com a dor, tanto dela quanto minha e me volatizei no espaço.
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O Guardião da Meia-Noite
SpiritualEste é um livro de ensinamentos éticos, envolvendo os tabus da morte e dos erros vistos sob uma nova ótica. Nova porque somente agora está sendo quebrada a resistência da ciência oficial, mas que é, realmente, muito antiga, anterior aos dogmas que i...