Silêncio. Eu podia ouvir os barulhos de insetos. Nós estávamos deitados na grama do parque, a caixa de pizza, já vazia, entre nós. E eu estava me sentindo em paz, apesar de estar longe de casa, com a perna machucada, do lado de um praticamente estranho e estar jurada de morte pelo meu pai. Sim, eu consegui achar paz olhando para o céu, deitada sem dizer uma palavra.
- Você está melhor? Tem certeza? - ele parecia meu pai
Ok, foi só uma expressão. O pai que eu tenho – ou tinha – nunca se preocupou mesmo comigo.
- Estou perfeitamente bem agora. Pelo menos estava antes de você abrir a boca.
Ele riu. Eu estava sendo grossa, por que ele estava rindo?
- Você ficou um pouco atordoada com tanto movimento, não é? Ansiosa? Perdida?
- Eu estou deitada na grama e não em um divã.
- É que eu realmente me interesso por psicologia. Já li alguns livros sobre ansiedade e síndrome do pânico.
- Que ótimo - eu falei sem interesse - Mas eu não tenho isso.
- O que você teve na praça de alimentação me pareceu uma crise... Você ficou perdida com tanta coisa nova para prestar atenção, tanto barulho e tanta gente junta. Você não deve estar acostumada, eu sei lá, a reação me pareceu um sintoma mais grave.
- Quanto eu te devo por essa sessão inútil e completamente errada de terapia?
Ele riu. E o assunto parou por aí. Parou pelo menos por uns cinco minutos.
- Meu nome realmente é Zach - ele disse e eu não disse nada - Você pode conferir minha carteira de motorista se quiser. Eu não estou mentindo.
- Tudo bem, Zach. Já que estamos nessa hora de confissões, quando é que você vai claramente me explicar por que raios está me seguindo? E não venha com a história da Chevy!
- Eu só preciso de um pouco de aventura. Eu estou dirigindo pelo país, sem rumo, tentando entender um pouco mais do mundo, um pouco mais de mim mesmo.
- Tudo isso é muito filosófico, mas eu não acredito.
- Meu pai queria que eu fizesse advocacia. Eu odeio Direito. Eu o convenci de que queria conhecer o mundo antes de entrar em uma faculdade e passar o dia inteiro em um escritório. Já faz quatro anos.
- Você está na estrada por quatro anos? Sem voltar para casa?
- Só volto para o Natal.
- E como você consegue dinheiro?
- Meu pai não sabe, mas eu estou gastando quase todo o dinheiro guardado para pagar a faculdade.
Eu não aguentei e gargalhei.
- Sim, eu sei, é engraçado. Eu não gostaria de estar fazendo isso, mas ele não me deu escolha.
- Então você está fugindo?
- Sim. E aparentemente você também.
- Meu pai também não me deu escolha - eu disse, olhando pro céu
- Eu não tenho muito o que reclamar. Eu gosto de viajar, de dirigir, de conhecer culturas e pessoas diferentes.
- E analisá-las psicologicamente - eu concluí e ele riu
- Você é um belo caso a ser estudado - eu ignorei essa frase dele - Quem imaginaria? Uma francesa que não sabe nada de beijo francês.
- O quê? É claro que eu sei - eu ri - E você é um quarterback profissional que não sabe nada de futebol!
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Freedom's Last Bullet
General FictionVERSÃO REVISADA 2016. Não é como se eu quisesse ser assim, mas a verdade é que, se eu não fosse assim, eu provavelmente não estaria contando essa história, talvez eu estivesse nesse momento cozinhando para um homem bruto, cheirando a cigarro e borde...