Zach acordou quando eu bati a porta de sua caminhonete, saindo dela para ir até a lanchonete. Não demorou muito para ele também sair e me seguir, entrando pela porta principal do lugar. Eu escolhi a opção mais barata. Eu sabia que não ia matar a minha fome por completo, mas eu não podia gastar mais dinheiro. Sentei-me em uma mesa antes mesmo de Zach fazer seu pedido; eu estava ficando tonta e eu sabia que era fraqueza. Eu havia dirigido seis horas sem comer nada depois de passar mal por desidratação. Eu até deveria estar bem pior do que realmente estava, se pensar por esse lado.Zach se sentou à minha frente enquanto eu encarava a TV passando a previsão do tempo. Vento forte, porém seco. Calor, talvez alguma chuva, risco de tornado. Eu não estava prestando muita atenção, mas foi algo que me fez não pensar em nada por um intervalo de tempo, algo que me fez apagar mentalmente e, apesar de ter sido curto, foi um alívio ficar alienada.
- Freedom? - a voz chamou meu nome enquanto sua mão chacoalhava à frente de meus olhos
Eu não estava com a mínima vontade ou força de responder, eu só queria meu lanche. Cadê essa garçonete?
- Freedom, você está bem? Está se sentindo melhor? Está com vontade de vomitar? Qualquer coisa eu posso tentar dirigir, sabe, tirar a tipoia e tentar controlar de leve o volante com esse braço...
Apesar dele ter falado meu nome duas vezes como só ele fizera até agora - de forma completamente natural - eu continuei sem querer responder. A garçonete se aproximou com a bandeja e eu quis agradecer, mas nem isso consegui ter forças para sair de minha boca. Ela entregou primeiro o meu, depois o de Zach. Este pegou a batata frita de sua bandeja e colocou na minha. Eu fiz cara de desentendida.
- Ninguém merece comer hambúrguer sem batata frita - ele então sorriu
Eu comecei a comer sem falar nada e até agora me lembro de como a sensação de preencher meu estômago naquele momento foi boa. O hambúrguer simples pareceu um banquete aos meus olhos e eu acabei devorando a batata. Talvez Zach havia percebido que meu dinheiro estava curto, talvez ele quis ser simpático - como ele sempre tentava ser. Ele falava que não conseguia me entender, eu é quem não consiguia desvendá-lo.
- Está melhor?
Eu afirmei com a cabeça, ainda de boca cheia. Ele esticou sua mão à minha testa.
- Ei, o que acha que está fazendo? - eu levantei a voz, mas saiu um pouco embolado por falar de boca cheia, tirando seu braço de perto de mim
- Eu ia conferir se você estava com febre, mas nem precisa mais. Você está bem melhor... Já até voltou a ser grossa comigo.
Eu sorri ironicamente.
Continuamos mais um tempo sentados. Eu não queria voltar a dirigir. Eu queria ficar parada, sem pensar em nada. Usei a TV como minha lavagem cerebral por pelo menos mais uma hora. Zach lia um jornal que havia pego na entrada da lanchonete e, quando me cansei de olhar à TV, com o pescoço já dolorido, repousei meus olhos no jornal. Campbellsville? Esse era o nome da cidade no qual estávamos? E então olhei melhor, vendo a sigla ao lado do nome da cidade. KY. Kentucky. Eu estava maluca? Como eu havia dirigido até o Kentucky? Eu estava querendo me entregar tão fácil? Eu fiquei com raiva de mim por tanta burrice, era o estado logo acima do Tennessee!
Zach foi abrindo o jornal e eu fui tentando ver se eu não havia me enganado com o nome do estado. Foi aí que me deparei com algo pior, deparei-me com meu nome. Não meu nome de agora, meu nome antigo. Era uma nota de desaparecimento. Não havia uma foto minha, o que era estranho. Talvez meu querido papai estivesse pobre e não conseguiu pagar por um anúncio maior? Bom, o que importava era que minha cara não estava estampada naquele papel, senão já o tinha arrancado da mão de Zach.
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Freedom's Last Bullet
General FictionVERSÃO REVISADA 2016. Não é como se eu quisesse ser assim, mas a verdade é que, se eu não fosse assim, eu provavelmente não estaria contando essa história, talvez eu estivesse nesse momento cozinhando para um homem bruto, cheirando a cigarro e borde...