Abri meus olhos devagar. Eu estava em um quarto? Parecia meu quarto... Com as paredes de madeira. Eu esfreguei meus olhos, tirando um pouco a remela. Eu estava com meus olhos inchados de tanto dormir, eu podia sentir. Era algo inusitado, eu nunca dormia muito. Eu sempre acordava cedo. Que lugar era aquele? A pouca luz entrando pela janela não me deixava ver muita coisa além das paredes. Eu estava sonhando esse tempo todo?- Ah! Aí você está! - Zach disse, abrindo a porta e consequentemente fazendo o quarto se iluminar
Eu reclamei, puxando o cobertor pra cima de meu rosto. Foi como se tivessem apontado uma lanterna direto aos meus olhos. O que ele estava fazendo ali? Que quarto era aquele?
- Vamos lá, o jantar está servido! E eles fizeram um frango frito que está cheirando daqui! - ele estava animado
Eu apenas o encarei. O que ele estava fazendo? Quem eram "eles"? Que jantar? O quê? Eu estava drogada?
- Vamos lá, Freedom! - Zach sentou-se na cama e me chacoalhou - Você precisa comer. Está tão fraca que dormiu a tarde toda.
- Só me responde uma coisa: que lugar é esse? - eu disse com voz de sono, apertando meus olhos para focar a imagem
- Ué? - ele riu - Não lembra? Encontramos essa pousadinha no meio do caminho! Isso é uma comunidade Amish, eles estavam oferecendo esse quarto por uma barganha! Oito dólares a noite por quarto! E ainda nos ofereceram jantar. Você não vai recusar frango frito com purê de batata né?
- Ugh! - eu resmunguei, me lembrando - Eu achei que tudo isso tinha sido parte do meu sonho.
Ele riu.
- Não, não foi. Eu insisti para a gente ficar aqui, lembra? Você não queria, achou barato demais e ficou desconfiada desse povo que vive em outro mundo. Mas acho que eu te convenci com o argumento do banho. Finalmente um chuveiro e não um lago ou piscina de casas alheias. Mas anda, senão o frango vai acabar.Eu resmunguei mais um pouco, mas acabei levantando e seguindo Zach até passar por uma grande área rural e chegar em uma outra casa. Era estranho, para não se dizer outra coisa. Eu achava que eu, por morar em Sweetwater minha vida toda, era bem desatualizada, bem antiga. Aquele povo era a definição do antigo. Suas roupas eram costuradas por eles mesmos, eles tiravam leite das vacas que eles mesmo criavam, ovos das galinhas que possuíam, tinham uma horta só para eles. Andavam de carroça e não tinham praticamente nenhum contato com o mundo moderno. Eram tão conservadores que podia se notar no jeito com o qual falavam, usando palavras que ninguém mais usa. Também percebi que eles falavam um idioma que eu não entendia entre eles. Tentei o máximo da minha simpatia com todos e eles eram tremendamente amigáveis, o problema era que o cheiro do frango estava me matando e eu estava implorando mentalmente para alguém acabar com a conversa e começamos a jantar logo.
Um homem mais velho, com uma barba grisalha, foi quem disse que era hora de comer. Ele se sentou na ponta de uma mesa enorme de madeira. Sua esposa, com cabelos brancos, se sentou ao lado. Depois seus filhos e seus outros parentes, irmãos, primos, sobrinhos, era uma família grande. Eu e Zach nos sentamos timidamente nas cadeiras. Eu encarava o frango, quase salivando. Quando percebi, Zach estava estendendo a mão a mim. Olhei ao redor e todos estavam de mãos dadas. Eu me rendi e ouvi a oração deles de olhos abertos. O homem mais velho agradeceu pelo dia, pela comida e, bom, por mim e por Zach. E depois finalmente começamos a comer. Confesso que nunca havia comido um jantar tão caseiro como aquele. Tudo tinha um gosto tão real, eu queria repetir trezentas vezes mas sabia que era falta de educação. O assunto na mesa eram coisas banais, que não envolviam Zach e eu, pelo menos não no começo.
- E vocês gostaram do quarto? - o homem mais velho resolveu puxar assunto
Eu estava mastigando, então Zach se encarregou de falar.
- Excelente, exatamente o que procurávamos! - ele disse
Bom, pelo preço, ter uma cama confortável e um chuveiro estava de bom tamanho, pensei comigo mesma.
- E a senhorita dormiu bem? Como é seu nome mesmo, Frida?
Eu quis gargalhar quando ele me chamou de Frida, mas respondi educadamente depois de engolir o que estava mastigando.
- É Freedom. E sim, eu dormi bem, dormi até demais!
- Freedom! Que inusitado... Mas bonito - a senhora, que presumi ser a matriarca da família, disse
- Obrigada! O jantar está maravilhoso, muito obrigada por nos incluir - eu respondi
- Nisso tenho que concordar, está tudo muito bom, obrigado por nos convidar - Zach completou
- Não há de quê. Tínhamos que comemorar nossos primeiros hóspedes! Sabe, a gente nunca pensou em alugar quartos aqui, mas a situação está difícil. Mesmo produzindo tudo e tentando viver da maneira mais sustentável possível, não dá para se livrar de alguns custos, que só aumentam... - o senhor comentou
- Eu entendo. Está ficando cada vez mais caro viver. Mas então somos os primeiros? Tenho que dizer que fiquei impressionado com o tamanho da propriedade.
- Ah, essa terra aqui foi passada de geração em geração! É como é boa, não é? Tem até espaço para cavalgar. Mas, conte-nos mais, como vocês se conheceram? Queremos conhecer mais nossos primeiros hóspedes! - a senhora respondeu e olhou diretamente a mim
Eu fiquei intrigada. Como a gente se conheceu? Um silêncio parou no ar durante os segundos que eu levei para lembrar que Zach e eu falamos que éramos casados. Afinal, eles eram conservadores, não iam deixar que ficássemos no mesmo quarto se não estivéssemos em matrimônio.
- Nós nos conhecemos na escola - Zach foi rápido - No colegial. Começamos a namorar e foi algo que durou até agora. Parece não ter nada de extraordinário na nossa história, mas eu acho que o fato de duas pessoas se apaixonarem assim uma pela outra já é algo especial.
E daí Zach, mentindo bem demais, colocou sua mão sobre a minha. Eu quase engasguei.
- Eu gosto do jeito que você pensa, rapaz! - o patriarca comentou - São poucos os homens assim no mundo, os que conseguem entender o valor de uma mulher!
Eu quis rolar meus olhos, mas ia ficar muito evidente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Freedom's Last Bullet
Ficțiune generalăVERSÃO REVISADA 2016. Não é como se eu quisesse ser assim, mas a verdade é que, se eu não fosse assim, eu provavelmente não estaria contando essa história, talvez eu estivesse nesse momento cozinhando para um homem bruto, cheirando a cigarro e borde...