Noites mal dormidas nunca foram um problema para pessoas com a insônia que eu tenho. Acho que já estava acostumada a dormir três ou quatro horas no máximo por dia. Mas noites mal dormidas no banco de couro da minha caminhonete abafada e ainda sendo acordada com raios de sol era um grande problema. Se eu já era rabugenta normalmente, eu era pior de manhã, e pior ainda em manhãs seguintes a noites assim. Acordei rabugenta, mais do que o normal. Saí da caminhonete, respirando ar puro e me espreguiçando, fazendo minha coluna estalar. Olhei para o lago à minha frente e não pensei duas vezes: arranquei minha bota, deixando minha arma cuidadosamente dentro da mesma e arranquei também minhas peças de roupas. Confesso que tiraria todas se não fosse a caminhonete do meu lado ainda ocupada. Joguei meu corpo na água gelada do lago e acho que nunca um banho conseguiria ser tão refrescante.
Só que meu momento de relaxamento durou pouco, já que logo ouvi um outro barulho de alguém entrando na água enquanto eu boiava com os olhos fechados. Eu não precisava abrir os olhos para ver quem era.
- Está um belo dia! - sua voz cortou o silêncio
Eu bufei.
- Eu sei. Eu não preciso de um narrador da previsão de tempo para saber.
E ele não falou mais nada até eu decidir sair do lago. Se meus dedos não estivessem parecendo passas de tão enrugados, eu ficaria ali o dia inteiro.
- Então... Vamos assistir aquele filme que eu disse ontem? - Zach perguntou enquanto eu tentava secar meu cabelo, balançando para todos os lados
Acho que acabei molhando-o, mas ele não se importou. Afinal, também estava molhado.
- Agora?
- Hoje é a estreia, deve ter fila.
Eu suspirei.
- Eu vou tomar café antes. Minha barriga está roncando.
- Tudo bem - ele concordou enquanto eu entrava na caminhonete. Ele também não tinha muita escolha, era ele quem estava me seguindo, e não o contrário. Eu não estava ali de horário marcado.
Dirigi pelo lago antes de entrar na cidade. Conneaut era uma cidade pequena, mas bonita. Eu dirigia olhando para a água, vendo os raios de sol brilharem em sua superfície. Era no mínimo estranho pensar que, do outro lado de tanta água, já era território Canadense. Eu nunca imaginei sair dos Estados Unidos, mas, se eu considerar esse pensamento, eu também nunca havia considerado dirigir sem rumo por vários estados, mas olha eu aqui, agora, fazendo exatamente isso. Encontrei um restaurante de estrada, desses que é de tudo um pouco: restaurante, lanchonete, bar e até pousada quando necessário. Foi lá que tomei uma xícara de café sem açúcar e um waffle. Zach pediu o mesmo, só que adoçou o café. Não dissemos uma palavra e foi melhor assim.
Continuamos em silêncio enquanto entravamos no centro da cidade. Eu percebi que havia decorações americanas em todos os lugares. Bandeiras, estrelas azuis, faixas vermelhas em todo o lugar ao qual meus olhos alcançavam. Ele buzinou fraco e eu olhei para o retrovisor. Seu braço estava do lado de fora da janela, seu dedo indicador apontando para o outro lado da rua. Eu olhei pela janela e vi o cinema. Havia algumas pessoas já na fila.
- Espera, que dia é hoje? - eu perguntei a Zach assim que estacionei e saí da Chevy
- Dia três.
- Três do quê? Julho?
- Sim - ele estranhou minha pergunta - Está escrito no pôster. Hoje é dia três de julho de 1985.
Eu cheguei mais perto do pôster do tal filme e eu mal pude acreditar.
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Freedom's Last Bullet
General FictionVERSÃO REVISADA 2016. Não é como se eu quisesse ser assim, mas a verdade é que, se eu não fosse assim, eu provavelmente não estaria contando essa história, talvez eu estivesse nesse momento cozinhando para um homem bruto, cheirando a cigarro e borde...