15. It ain't love but just like nicotine

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O Sol estava quase totalmente posto e eu e Zach estávamos correndo, literalmente, até nosso quarto. Tudo começou quando estávamos falando de como queríamos tomar banho para tirar aquela lama seca da nossa pele e ele, por pura criancice, gritou "quem chegar primeiro, toma banho primeiro". E então disparou a correr. Eu até corri também, mas deixei para lá. Não valia a pena. Era só um banho, eu aguentaria mais alguns minutos suja. Ele continuou correndo sem olhar para trás; eu estava mais interessada na Lua contrastando com o céu escurecendo.

Fiquei mais alguns minutos vendo o céu e quando entrei, Zach ainda estava no banho. Eu então bati forte na porta, mandando-o sair. Ouvi o barulho de água corrente cessar-se e quando ele saiu de dentro do banheiro, com a toalha enrolada na cintura e o cabelo encharcado, senti o vapor forte sair também lá de dentro, apesar da água ser gelada. O banheiro era quente demais então não adiantava a temperatura da água, ela condensava. Um pouco irritada com a demora - e suja - eu entrei no banheiro, que estava mais pra sauna, e fechei a porta. Tomei um banho também demorado, tirando cada gota de lama da minha pele e cabelo. Eu gostava de tomar banho em rios, mas não se comparava a ter um chuveiro, ainda mais um com uma ducha forte como aquele. Enrolei meu corpo na toalha e foi aí que percebi que eu não tinha levado uma roupa limpa junto comigo. Em qualquer outra situação, eu teria vestido as roupas de antes para ir ao quarto buscar uma roupa limpa, mas a roupa de antes estava marrom de terra. E daí eu me dei conta: por que eu estava com tanto pudor? Eu, que desde criança tomei banho sem roupa em lagos e em riachos? Eu que já tinha até feito isso na frente dele? Ir ao quarto enrolada na toalha não tinha nada demais. Eu estou é ficando louca.

Eu saí do banheiro, abrindo a porta e deixando o vapor sair também. Zach continuava de toalha, mas deitado na cama. Ele estava ali o tempo todo fazendo o quê? Pensando na morte da bezerra ou em quão ruim ele era cavalgando?

Em silêncio, eu fui até a penteadeira que ficava na parede oposta à cabeceira da cama. Era uma passagem estreita entre o colchão e a mesma, mas a minha mochila, com algumas roupas limpas, pelo menos as menos sujas, estava lá. Fingi não notar Zach se levantando da cama e tentando passar por entre o mesmo espaço onde eu estava em pé procurando as roupas dentro da minha mochila para tentar ir ao banheiro novamente. Ele tentou se espremer no espaço, eu tentei também lhe dar espaço, encostando ainda mais meu corpo contra a mesa da penteadeira. Só que ele parou atrás de mim. Era só dar um passo de carangueijo ao lado, era tudo o que precisava ser feito. Precisava ser feito, mas não foi. Ele não queria. Eu parei de mexer em minha mochila e olhei para frente, encarando-o no espelho da penteadeira. Ele não ia se mover?

Ele olhou de volta para o reflexo do espelho e senti seus dedos passarem de leve pelo meu ombro, levando algumas gotas d'água com eles. E eu assisti com atenção aos seus lábios beijando meu ombro, em um gesto um pouco contido. Suas mãos se deslocaram para minhas costas, fazendo com que eu inclinasse mais meu tronco sobre a mesa. E, por mais que eu estivesse gostando de seu toque, aquela posição me incomodava por motivos fortes.
- Sabe o que eu acho de caras que insistem em chegar por trás? Que querem porque querem a mulher de quatro em sua frente? - eu disse
Ele não estava esperando que eu disesse nada. E também não disse nada à minha pergunta retórica. Apenas continuou a me olhar indiretamente pelo espelho.
- Eu os acho covardes. Acho que querem uma mulher apenas como um objeto, já que assim não precisam nem ao menos colocar um rosto no corpo que estão usando.
Zach me virou de frente a ele com rapidez e um pouco de agressividade ao ouvir essa minha conclusão. Era o que eu pensava. Talvez por ter exemplos próximos desse tipo de homem.
- Eu não sou assim, Freedom - ele disse, respirando forte contra a minha boca

Sua mão em meu pescoço começou forte, mas se afrouxou. Os seus dedos passearam devagar pelo pequeno colar dourado que eu nunca tirava de meu corpo. Seus olhos pararam de olhar os meus e se fecharam. Era como se ele estivesse se concentrando, se torturando, se comedindo. Sua testa se encostou à minha e ele sussurrou algo como "eu não posso". Eu vi que talvez soubesse a razão de seu conflito.
- Meu aniversário é em Julho. Dia 4 - eu sussurrei de volta
Ele parou por um minuto. Não tenho poderes sobrenaturais, mas sabia o que ele estava pensando. Ele ligou os pontos. Se eu tinha dezessete anos antes, agora eu tinha dezoito. E, mesmo que ele não se lembrasse que eu tinha dezessete, eu só podia ter uma razão para falar do meu aniversário naquele momento, afinal. Só que ele continuou se torturando mais um pouco, eu não sabia se eu tinha acertado no dilema, não sabia qual outra razão ele tinha para não continuar, para não fazer o que queria. Só que o fato de eu ser agora adulta, não como se eu não fosse antes, mas agora legalmente, ajudou-o a se decidir.
- Feliz aniversário atrasado - ele voltou a sussurrar aos meus lábios, pausadamente
E, depois desse sussurro, nossas bocas se uniram. E foi aí que eu percebi que, tirando aquele beijo na festa de colegial, aquela na qual ele tomou tanta cerveja que ficou mais metido do que era, esta vez tinha sido a primeira que ele havia me beijado e não o contrário. Tudo bem, ele me provocou a beijá-lo na segunda vez, mas se eu não quisesse aceitar a provocação, não teria o beijado. Desta vez, foi ele quem começou. Foi ele que quis me beijar. E o fez com vontade.

Freedom's Last BulletOnde histórias criam vida. Descubra agora