Cap. 7.: Parceira

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- Então? O que meu tenente fez ao ver aquilo? – perguntou Nerina. Aninhava-se no peito de Burt. Sua juba algumas vezes fazia cócegas no pescoço de Nerina, mas isso não a incomodava hoje, totalmente centrada nas histórias do homem-leão.

- O que os heróis do meu povo fazem: rezam três vezes e tocam sua flauta mágica – disse Burt, num sorriso nostálgico – Fiz como Hoya ordenara, uma oração para Ehlonna, uma oração para Obad-hai e outra oração para Lucida. Então, apesar dos temores, enxerguei que o pássaro me analisava silenciosamente. Estava cheio de medo, mas não fraquejei. Boatengue, meu primeiro pai, sempre falou que a melhor hora para demonstrar coragem, era quando você estava com medo. Não sei se ele falou isso em tom de piada ou sério, mas de qualquer forma funcionou: a flauta surtiu algum efeito e um som bem agudo passou pelos meus ouvidos, um som que encheu toda a savana...

Nerina escutava atenta toda a história dele. Sobre a história do homem-leão sabia apenas algumas partes, seu nascimento, algumas histórias do seu segundo-pai, outras do primeiro-pai, o chamado Boatengue que ele tanto falava. Também contava alguns ditos da sua mãe quando os dois em particular e mostrava tudo que aprendera com as "nem-tão-donzelas", como Nerina as chamou, do seu povo. Burt dizia que ele pretendia escolher uma das duas como esposa para formar uma família, mas essas coisas nunca saíram do papel.

Naquela noite, Nerina perguntou pela primeira vez como Burt adquirira tanta precisão no arco e tanta força na espada. A pergunta veio com a típica malícia do homem-leão:

- Quais delas, senhora? – deu um longo sorriso mostrando todos os dentes. Aquela visão seria terrível se não acompanhasse uma risada logo em seguida e Burt escondesse com tenacidade o que ele sabia ser uma visão aterradora, mas Nerina aprendera isso na convivência dele. "Acho que apenas nós dois sabemos quem nós somos. Não importa quanto tempo conheça Lutero, Sylph ou mesmo Davis" – É uma história comprida, não me aterei à teoria se desejar, minha senhora.

Quando menos esperava, saía do assunto das espadas, esquecia do arco e contava toda sua história para Nerina. Inclusive essa parte nova, a dos Desafios de Uruk. Nerina tinha alguma ideia do porque Burt abandonou sua tribo, mas nunca ouvira que ele se candidatara a líder do seu povo. Isso apenas tornou a história de Burt cada vez mais amarga para o fim que levou.

- Quem é essa Hoya, afinal? Você já falou muito sobre Cyntianna e Romã, suas manias, suas aventuras e seus sortilégios. Agora nunca ouvi falar sobre essa Hoya, nem mesmo um pingo dessa rivalidade – disse Nerina – Exijo saber quem é ela!

Com isso, Burt riu.

- Mulheres, bastam enxergar uma concorrente e já começam a flanqueá-la, encontrar algum buraco na armadura, um ponto cego... – ele começou a alisar o cabelo de Nerina – se Akahr Anvisa me visse agora perceberia o que eu gosto mesmo: é do perigo. De brincar com as terríveis Drows que ele tanto me mandou ficar longe – com o soco na barriga, sua opinião mudou, apesar das risadas – Tudo bem, a terrível Drow...

"Será que ele passou o mesmo que eu? Essa tal Hoya tentou mata-lo também?" perguntou-se Nerina "Não. Estou pensando como uma Drow, o povo dele é completamente diferente. Burt era apaixonado por Hoya, ou ainda é?". Nerina sentiu pela primeira vez nos seus 100 anos e tantos o ciúme.

- ...E o pássaro me ouviu – Burt parou subitamente, esperava alguma replicação de Nerina. "Claro que sim, já fiz isso antes quando escutei o Paladino e a Princesa ou a encenação da batalha do Filho do Dragão com a Maga Ígnea. Espera a consulta de algum especialista, aquilo divertiu Nerina" – Escutou, senhora? O pássaro-roca me ouviu.

O Leão e a ElfaOnde histórias criam vida. Descubra agora