Cap. 3.: O Essencial para um Filho

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Não existia amor, amizade ou confiança na sociedade Drow. Por isso todos queriam tanto extinguir sua espécie da face da terra. Nerina tinha consciência disso, os próprios deuses haviam feito sua raça cega na luz do sol justamente para mantê-la afastada dos domínios dos elfos. Mas a maioria vivia daquela maneira, seguindo essa cultura, seja por inveja dos habitantes da superfície ou por ganância para expandirem seus domínios, um dia desses, para a montanha dourada ou para Alvhold. Quem discordava da escravidão, das traições e do ciclo vicioso de busca de poder acabava morto não muito tempo depois. E segundo os próprios drows, não importava para onde fossem, eles não seriam recebidos em lugar algum: seja na superfície ou no subterrâneo.

Nerina estava quase na idade de casar quando Castelo-de-Bronze, finalmente, foi invadido por orcs e goblins, duas hordas tão grandes que sugeriam apenas uma coisa: uma expansão dos domínios do clã Sanguinorium.

Com o fim da guerra de Vargas e o retorno de Wolfgang Escudo-de-Calipto ao Grande Carvalho, no Deserto de Gelo. Ele e Faust Alvgar reuniram-se e decidiram eliminar, de uma vez por todas, os Sanguinorium do Norte. Juntaram-se a maioria dos clãs de anões à batalha: os Holderheck e os Escudo-de-Calipto do deserto de gelo; os orgulhosos anões dourados, os Ungart da Montanha Dourada; os Duvah, os Fallvalley, os Dalvador e os Alvgar do golfo nórdico e mais um clã de bárbaros, os Dragão-de-Ferro, com Abélia, a Furiosa, no comando.

Os orcs que recuaram uniram-se a um grupo de Goblins. Estes conspiraram entre si e consideraram seu número muito superior e o suficiente para que invadissem e tomassem para si Castelo-de-Bronze dos Drow. E de certa forma estavam certos. A guarnição da cidade inteira fazia um drow para cada três goblins e orcs. As raças subterrâneas viviam desgraçadamente: banidas da superfície e matando-se nos subterrâneos.

Liderados por Thokk Castanho, atual líder dos Sanguinorium, eles lideraram uma investida contra Castelo-de-Bronze e uma contingência foi montada.

Nerina lia alguns livros seus quando escutou o estrondo do portão de ferro caindo e os gritos do outro lado da cidade. Gritos furiosos de ambos os lados. Quando se vive na miséria, não há mais raiva que aquele que tenta tirar tudo de você. Os não-combatentes correram na direção inversa. Eram mercadores, servos e alguns escravos, não todos. Seu pai, Laleor, teve a brilhante ideia de armar os escravos e força-los como linha de frente para absorver fogo inimigo. Muito esperto para ganhar tempo, mas pouco para posteriormente. Como eles minerariam ferro e cobre com os escravos mortos na batalha.

Em primeiro lugar a nossa própria vida. Depois pensamos nas consequências.

A ideia da morte apavorou Nerina.

Na sociedade Drow, não importava a maneira, morte sempre era considerada uma desonra. Um drow que morresse em uma batalha, morria como um sujeito fraco, pior ainda se morresse para um elfo da superfície, seus inimigos naturais. Se o drow morresse de doença também, antes morresse em batalha que na cama em febre. Mesmo o drow que morresse de velhice acabava exposto ao ridículo, a família do morto o pendurava em um casulo de ponta cabeça em frente a porta. E, como previra sua cultura, Nerina temeu a desonra que causaria em sua família. Sua parte mais rebelde, respondia irritada: "pelo menos, se todos nós morrermos nesse ataque, Shaert não poderá usar sua varinha". Temia que morresse e Castelo-de-Bronze suportasse o ataque, assim, Shaert marcaria a pele do seu cadáver.

"Não... Não vou deixar isso acontecer!". Ideias começaram a passar na sua cabeça. Fugiria! Para superfície. Para longe de tudo aquilo. Nerina se encantava com as histórias e o mundo maior que a parede de uma caverna. Queria comer as frutas que narravam nos seus livros, conhecer as cidades onde nasceram os heróis, fugir de todo aquele cenário de traição antes que a matassem. "E mesmo assim, terei meu poder nobre e minha magia para me proteger". No começo receou, mas quando viu a fileira dos escravos quebrar e dar passagem a uma onda de orcs, mudou de ideia e saiu correndo da varanda. Podia enxerga-los como um rio avançando em direção as fileiras drows. Eram do tamanho de formigas, mas a visão a aterrorizava. Fugiu para seu quarto e colocou tudo que importava para ela dentro da mochila.

O Leão e a ElfaOnde histórias criam vida. Descubra agora