Cap. 6.: O Valor de Burtan

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Sua primeira vigia foi aos 12 anos, mais ou menos pronto para maioria da gente do seu povo, despreparado para seu pai Boatengue e muito despreparado para sua mãe, Nykitan. Burtan cresceu e já naquela idade tinha a mesma altura de seu primeiro pai e os primeiros pelos da sua juba começavam a crescer. Sua determinação o levou para melhor da turma em arco e flecha e nas armas de seu povo, como o bumerangue e as boleadeiras. Também possuía uma percepção afiada e conhecimento da floresta, reconhecia pegadas de animais e assumia com satisfação o trabalho de batedor para identificar animais e gentes que atravessaram suas fronteiras.

Entretanto, treinava bastante essas habilidades para que o colocassem entre os caçadores, apenas eles saíam dos limites da tribo para caçar. E ao lado de Zithembe, o líder. Uma honra.

Sua primeira vigia não teve nada de interessante. Torcia que, ao menos, algum animal furioso fosse estúpido suficiente para atravessar a fronteira, mas muitas vezes, o animal rastreado era inofensivo. Um elefante ou um hipopótamo que poderia ser afastado com algum esforço. Os rinocerontes provocavam algum desafio e as presas dos caçadores como cervos apareciam de vez em quando, mas os vigilantes apenas o abatiam no outono, pouco antes do inverno, apenas garantindo caso ficasse difícil.

Pediu as vigias mais próximas da fronteira, mas Boatengue achava que o filho estava verde e sugeriu a mesma região que seu pai patrulhava, perto do Lago Macumaína, ao norte. Não foi de todo ruim, se dava muito bem com todos os vigilantes e eles o apelidaram de Homem-Leopardo pela sua velocidade, astúcia e a juba que ainda parcialmente crescida. Nada de ruim aconteceu até seis meses depois da primeira vigia de Burtan.

Um dos seus companheiros fora mordido por uma víbora negra, precisaram três homens para tirar as presas da cobra da perna do azarado. Boatengue não estava por perto, por isso Burtan pediu para que improvisassem uma maca e ele mais dois homens levassem o vigilante para os curandeiros. Dois carregariam a maca e o terceiro elevaria a perna do vigilante para dificultar que o veneno se alastrasse para o resto do corpo.

É uma boa hora para falar de Hoya. Quem atendeu Burtan quando ele chegou na cabana dos curandeiros.

Hoya assumiu o mesmo caminho que Burtan: aquele escolhido pelo seu segundo pai. Burtan e ninguém soube se Hoya gostava do seu trabalho, ela possuía aquele rosto endurecido e sempre sério, mas o sacerdote de Obad-hai, Yuu gostava da atenção da aprendiza e também da sua capacidade de aprender rápido. Na mesma velocidade que Burtan, Hoya já era uma das principais curandeiras da tribo e trabalhava ao lado dos dois sacerdotes dos deuses da natureza por ali.

Entretanto Burtan sabia do fundo do seu coração que Hoya o odiava. Ele tomara a posição que ela queria, a mesma de seu pai, e também tornara-se mais silenciosa com o tempo, e ácida em algumas ocasiões quando Burtan aproximara-se.

- Nunca o vi sem aquele sorriso, Burtan – ela olhou para trás do leão, enxergando a maca – Venham. Entrem.

Os momentos seguintes foram a combinação de poções e alguns mantras recitados. Quando Yuu chegou junto com os caçadores, carregando algumas ervas silvestres e componentes, elogiou a pupila longamente por resolver o problema sem seu auxílio. "Como esperado!" dizia ele sorrindo.

Em determinado momento, os olhares de Burtan e Hoya se encontraram. Burtan sorria sinceramente, mas Hoya o olhava, seus dois olhos cinzentos e frios, aquele seu sorriso indecifrável, impassível, indiferente... Não soube se o odiava. Tampouco soube se ela sentia qualquer coisa pelo homem-leão. Foi assim que ele compreendeu que nunca deveria incomodá-la.

O Leão e a ElfaOnde histórias criam vida. Descubra agora