Capi†ulo Dois

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Capítulo Dois - Visitas Frequentes.

A luz do sol entrando pela janela alta do hospital despertou Lucy. Olhou ao redor com os olhos semi-cerrados por causa de claridade e sentiu uma pontada aguda na cabeça, se inclinou para frente com a cabeça latejando, ela sentia que havia colidido a cabeça em uma pedra de concreto, passou as mão sobre a cabeça e sentiu algo áspero em volta, era uma faixa. Ela voltou a se deitar na cama.


— Lucy ? Está acordada? - Uma voz familiar soou da portas, mas Lucy não se deu ao trabalho de olhar.

— E-es-t-tou... - Respondeu gaguejando.

Theresa entrou no quarto em passos lentos, observando qualquer movimento da filha como se ela estivesse vendo um animal raro que não quisesse assustar, foi em direção a Lucy e se sentou na poltrona ao lado da cama. Lucy estava com as duas mãos na cabeça, sentindo que segurava uma bomba em suas mãos, sua cabeça antes a dor aguda, era intensa a ponto dela achar que iria explodir.
Quando Theresa se acomodou na poltrona ao lado da cama hospitalar da filha, a porta se abriu novamente.

— Trouxe um remédio para dor de cabeça - Disse a enfermeira fechando a porta atrás de si, observando o estado em que Lucy estava — o doutor já sabia que algo assim iria acontecer e trouxe uma gelatina algo leve para você comer.

Entregou a Lucy um copo d'água, um comprimido e uma embalagem pequena de gelatina de uva e se retirou da sala. Lucy levantou tomou o comprimido e voltou a se deitar com os olhos fechados.

— Filha... Por que ? - A voz de Theresa saiu falhando

— Por que o que mãe ? - Disse esperando que a dor passase.

— Você tentou de novo ? - Podia notar-se o tom de decepção na voz de Theresa.

— Não mãe, eu não tentei... - Lucy respondeu com um tom sério na voz, abrindo os olhos devagar.

— Mas então o que ouve? - Ela perguntou se inclinando na cama da filha.

— Foi um... - Lucy deu uma pausa para suspirar e continuou — ele deve ter caido na minha cabeça, ou sei lá mãe...

— Como assim sei lá? - Theresa começava a ficar irritada.

— Não sei - Falou Lucy perdendo a calma

— Como assim não sei ?! - aumentou o de voz Theresa

— Eu já disse que não sei ! - gritou Lucy.

O quarto ficou em silêncio, Theresa sentiu-se mal por ter começado aquela discussão, em um momento como aquele ela não deveria piorar a situação, ao olhar para Lucy reparou que ela havia fechado os olhos com muita força, o grito havia feito sua cabeça doer ainda mais.

— Filha eu te amo muito, seria uma enorme dor te perder, você sabe disso não sabe Lucy?

Ela apenas balançou a cabeça em afirmativa. Ficaram em silêncio por vários minutos, Lucy queria que a dor passase o mais rápido possível, para que assim não precisasse aguentar sua mãe e sua falação insuportável sobre a amar, e o medo de perde-la. Um bater na porta fez com que as duas se virassem para ver quem era, um doutor alto, careca e sorridente entrou trazendo uma prancheta.

— Puxa vida Lucy, você anda me visitando com frequência.

— É doutor Alexander, pelo jeito estou - Respondeu Lucy sem humor.

— Certo... E a dor passou ? - Ele perguntou tirando o sorriso da boca e indo até Lucy.

— Está passando, antes estava pior....

— Tudo bem... Vou deixar então a receita desse remédio para você, pelo menos por alguns dias - Falou escrevendo em sua prancheta, retirando a folha de dando a ela — Você não precisa mais cuidar do ferimento em seu pescoço, só evite que fique sujo, ok ?

O doutor saiu do quarto depois de dar instruções do remédio e fez Lucy comer a gelatina em sua frente para comprovar que ela havia comido. A enfermeira voltou logo em seguida para tirar a faixa dela. Ao retirar a faixa, havia um machucado roxo do lado superior da cabeça, ela passou os dedos delicadamente pelo local e sentiu uma ardência ao toca-lo. Ficaram algumas horas fazendo alguns exames, enquanto esperavam a enfermeira chegar para fazer exame de sangue, Lucy viu a mãe brincando com um imã entre os dedos.

— O que é isso?

— É um imã, pedi uma pizza ontem a noite enquanto ficava com você.

— Que bom que comeu alguma coisa - Disse em uma tentativa frustante de sorrir enquanto via o modo triste da mãe.

Soube que algo a preocupava, mas resolveu não perguntar, ela sabia que se ela hesitava em contar era porque se preparava internamente para contar.
Voltando para casa, Lucy foi direto para o quarto, ela não queria que a mãe viesse com essas perguntas sobre ter tentado se matar, nem que ela gritasse novamente. Seu quarto era um espaço quadrado, com as paredes de um tom marrom quase preto, o chão era de madeira, com uma cama de casal, uma mesa do lado esquerdo com uma cadeira, um guarda roupa, um criado mudo ao lado da cama, era um quarto simples, mas para ela era o melhor esconderijo,

— Já te disse Inácio! Não tenho dinheiro, não posso pagar, não este mês, está tudo muito apertado para mim, não entende? Tenho uma filha para cuidar... - Falou Theresa tentando abaixar o tom de voz.

— Uma filha suicida! Deixe-a morrer de uma vez assim as despesas acabam! - Era a voz de Inácio na sala da casa.

— Não fale assim de Lucy! Ela não tem culpa se a vida não está sendo justa! Ela sofreu não entende?!

— A vida é sofrida para todos ! Até para você ! Mas você não tenta se suicidar ! Sua filha tem problemas mentais, ela só pode ser doente! Ela é uma praga ! - gritou Inácio, parecendo colocar os pulmões para fora.

Lucy estava escutando toda a discussão, e ouviu um estralo vindo da sala. A marca vermelha da mão de Theresa estava estampada no rosto de Inácio.

— Nunca mais fale assim de Lucy de novo... - Ela disse perdendo o fôlego.

Inácio era magricelo, baixinho, com os cabelos loiros com falhas, a pele parda, levava sempre com sigo a expressão fria e zangada, era o dono da casa em que elas moravam que estava cobrando Theresa.
Inácio se virou na direção de Theresa, com as mãos cobrindo a marca vermelha na bochecha controlando a respiração com a raiva que estava.

— Você tem até o final desta semana - Saiu batendo a porta.

Lucy fechou os olhos prendendo a respiração para não chorar, pegou o travesseiro e enterrou o rosto nele para conter as lágrimas.
Na sala, Theresa estava de joelhos, com as mãos abraçando a si mesma enquanto as lágrimas molhavam o tapete vermelho.

Suicide And The Killer |†Jeff The Killer†|Onde histórias criam vida. Descubra agora