IV

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Finjo ler a Bíblia, meus pensamentos estão em outro lugar. Especificamente, em minha conversa com Alexandre noite passada, se é que aquilo pode ser considerado uma conversa.

Eu vou ser sua maçã, Eva.

Balanço a cabeça tentando tirar a sensação de sentir o hálito dele perto de minha pele, e de como sua mão subia e descia por meu braço.

— Com frio, irmã? — Padre Fernando pergunta quando se aproximar.

— Não — digo enquanto fecho a bíblia.

— Percebi que você não foi se confessar essa semana ainda.

— N-não aconteceu nada de diferente que possa me levar a me confessar padre. — minto. Ele me olha estranho.

— Andou falando com Alexandre?

— Não senhor. — abaixo a cabeça envergonhada. Eu estava mentindo para um padre.

— Hm. Tenha um bom dia, irmã.

— Bom dia para o senhor também.

Padre Fernando se afasta, no meio do caminho encontra Alex e faz ele parar. Os dois começam a conversar e em um determinado momento olham em minha direção, desvio o olhar rápido. Segundos depois, Alexandre senta ao meu lado.

— Andou dizendo o que para ele?

— Nada. — me viro para ele — Eu não sou um brinquedo.

— O quê?

— Você quer me fazer de fantoche.

— Eu nunca pensei isso, o que tenho em mente é uma causa maior.

— E o que seria?

— Liberta esse diabinho que tem ai dentro de você.

— Eu vou rezar por você, Alexandre. Sua alma precisa ser salva.

— Minha alma já é esfolada, não preciso de salvação doçura, agora a sua… estou louco para explorar.

— Você é o diabo?

— Quase isso, sou filho dele.

— Vou rezar muito por você.

— Reze comigo, a visão de ter você ajoelhada não sai de jeito nenhum da minha cabeça — tinha um significado malicioso por trás de suas palavras, pelo seu tom dava para perceber que sim, mas eu não entendi.

— Adeus, Alexandre. — começo a levantar, no entanto sou impedida quando ele segura meu pulso.

— Você quer que eu te beije no meio de todas as suas irmãs? — puxo meu braço de seu toque.

— Você não faria isso — ele levanta. — Faria?

— Farei. — entro em pânico. Olho para os lados e muitas irmãs estão circulando pelos corredores. Aqui não… nem aqui e nem nunca! Isso era o que eu quis dizer.

— Desculpe, Alexan... — ele me olha feio. — Alex!

— Agora sim estamos nos entendendo. Até mais doce Eva.

E sai me deixando com o coração a mil.

                           🍎🍎🍎

— Esse aprendiz de padre é bastante bonito.

Meredite segue Alexandre com o olhar, atravessando o corredor, logo em seguida sumindo. Deve ter ido fumar. Balanço a cabeça negativamente.

— Que foi? Somos freiras, não cegas.

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