Capítulo 1: A Chamada

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Acordei sobressaltado. O telemóvel começou a tocar. 

Olhei para o despertador... 3h02 da manhã. Mas quem é que poderia ser àquela hora?

"Estou? Estou a falar com o Sr. Bruno Gaspar??" Era uma voz feminina estranha, mas soava preocupada. Isto inquietou-me.

"É o próprio",  respondi, prontamente. "Quem fala?", perguntei, ainda sonolento.

"É do hospital de Leiria. Desculpe incomodá-lo a estas horas, mas..."

Congelei. Não consegui ouvir mais nada. Passado uns segundos, saí do meu transe e questionei a senhora:

"Desculpe... pode repetir?"

"O senhor é amigo de André Teixeira?"

Não. Não podia. Não era possível. Ou pelo menos não devia ser possível. Debilmente, respondi-lhe, gaguejando:

"Aaaahh... sim...sim, sim sou. O que aconteceu?".

"Ocorreu um acidente numa praia local, e o seu amigo está envolvido".

Desta vez, a minha reação não foi paralizar, mas sim gritar.

"O quê?! Como assim, envolvido? O que é que aconteceu?", gritei, enfurecido.

"Por favor, senhor Bruno, permaneça calmo. Eu não tenho mais informações, vim apenas pedir-lhe que venha ao encontro do seu amigo o mais depressa possível, se puder!", ouvi do outro lado da linha, num tom preocupado, e um tanto apressado.

"Sim, sim! Estou já a ir para aí", disse, num tom de determinação, enquanto começava a vestir as calças.

"Obrigada. Mais uma vez, pedimos desculpa pela hora tardia. Aguardamos a sua chegada." 

A chamada terminou.

De repente, parei, com as calças pelos joelhos, e sentei-me na cama. O que teria acontecido, estaria ele bem? Será que a Rita também tinha sido contactada?... tantas e tantas dúvidas! Mas o pior não eram as dúvidas.... era o medo. O medo de o perder. O medo de ele ter de passar o resto da vida condicionado. O medo pela Rita, porque não sabia onde ela estava nem se ela tinha conhecimento do sucedido... 

NÃO!

Não posso deixar que o medo me paralize! O André precisa de mim!

Peguei na primeira t-shirt que encontrei, e saí.

Era uma noite amena de verão, com um teto de escuridão decorado com pequenas luzinhas sobre a estrada deserta. Incrivelmente, o silêncio dominava este cenário, até que toda esta serenidade foi interrompida pelo motor do meu carro, e com as minhas preces para que o André estivesse bem.

Normalmente, o caminho para o hospital demoraria cerca de 20 minutos. Mas sem trânsito e com a velocidade a que eu ia, fi-lo em 7 minutos.





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