Capítulo V

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Acordei com uma dor lancinante na cabeça. Como se uma bigorna tivesse atravessado meu crânio. Me dei conta de que estava estirada mais uma vez no chão do túnel, precisamente numa curva. O lugar tinha um cheiro diferente. Parecia lavanda. E não estava tão frio assim, apesar de metade do meu rosto está congelado por ficado adormecido no chão.

Ouvia uma respiração.

- Ei, você está bem?

Uma voz. Perto de mim. Estava de olhos fechados. Os abri e vi um All Star preto surrado na minha frente.

Tentei levantar, mas foi difícil devido a dor na cabeça. O cara tentou me ajudar, mas recusei.

- Pelo visto você machucou feito. Tem um galo bem em cima.

- Pousei as mãos bem na cintura, perto das facas.

- Quem é você? - indaguei.

- Quem é você? - indagou.

Não tinha nada a perder.

- Julie.

- Renan, prazer.

-Não posso dizer o mesmo.

Ele deu um sorriso ligeiro e me ofereceu um pedaço de pano rasgado.

-Como veio parar aqui?

-Do mesmo jeito que você. Cometi um crime.

-Fizemos isso juntos?

-Não, roubei um supermercado sozinho.

-Não faço esse tipo de coisa.

-Não importa o que você fez. Pelo menos não aqui onde a jurisdição policial é inexistente. Você está nas mãos de outros caras.

-Conhece?

-Sim, já os vi. Parecem ter aquela cara de nerd. Mas, são extremamente rudes. Quer ajuda com as pernas? Consegue se mover?

-Sim -respondi, enquanto apoiava na parede do túnel para me erguer e andar.

-Vamos, precisamos sair daqui.

-Esse é o meu mantra. Mas não vou com você.

-Bom, ou você volta de onde veio ou vai ter que aguentar minha companhia.

Analisei o cara por alguns segundos.

-Achou mais alguém?

-Não, por enquanto é só você.

Assenti com a cabeça e começamos a andar. O garoto aparentava ser um pouco mais velho, os cabelos castanho claro estavam na altura do ombro e a barba por fazer escondia um pouco seu rosto branco. Era mais alto e a voz parecia de um locutor de rádio. Não parecia que Renam, o cara hipster, tinha roubado um supermercado. Não sozinho.

Caminhamos por um tempo até ele tirar do bolso uma pequena garrafa de água.

-Você precisa beber. Tome.

-Guarde para quando um de nós estiver morrendo de sede. Ainda consigo aguentar. Onde conseguiu?

-De um marceneiro que queria me partir em quatro. Foi de consegui água e isso - mostrando um pedaço de pão com queijo - estou guardando isso também.

-Ok. Ah...sabe como desmaiei?

-Encontrei você caída no chão.

-Mas eu te vi antes de cair.

-Tem certeza? Fui eu que te acordei.

-Mas isso não quer que...o que é aquilo?

-Ah, não tinha visto antes? Peguei umas duas vezes já. Irônico, não?

O Jogo do PoçoWhere stories live. Discover now