Capítulo VII

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Mais uma vez estava eu num túnel escuro.

Eu tinha um pressentimento, uma vibração, algo me dizia que iria morrer. Que isso acabaria logo.

Sentei no chão, na escuridão. Aquele pensamento me confortava, em meio a quase ser morta pelas chamas, sentia que isso acabaria rápido. Talvez, uma facada, uma explosão, ou mesmo envenenamento. Algo ágil, que acabasse com isso.

Eu não entendi o por quê de eu lutar contra o incêndio. Instinto de sobrevivência? Não, talvez apenas a vontade de continuar viva e tentar descobrir quem fez isso. Mas...no momento, não estou mais interessada em ver o rosto dos meus sequestradores. Acabou, cansei, cansei de lugar contra pessoas que sabem meus passos e decisões, cansei de gritar, de tentar escapar, de bancar a boba e ajudar o próximo, de ver pessoas morrendo na minha frente.

Talvez seja melhor assim. Talvez eu deva ter feito algo imperdoável e eles merecem essa vingança. Eles querem isso.Querem que eu implore pra viver. Poderia ser meu último ato de rebeldia e evitar esse sabor de misericórdia. Não quero mais ser o ratinho. Posso ser o animal que vai silenciosamente e ingenuamente para o abate. Eu quero o abate.

Nem o sentimento de repulsa a derrota incomoda mais. Ele vem sussurrando agora, como uma brisa. A vontade de lutar não existe mais pra mim.

Algo cai no chão, como um pequeno toco. Aproximei e peguei a pequena lanterna esverdeada. Aquilo devia ser um sinal de que eu deveria levantar a bunda do chão e começar a andar e os jogos começarem. Chorei um pouco, me dei alguns segundos de inércia e levantei.

Me lembrei de quando uma garota valentona do jardim de infância me empurrou da fila para usar o escorregador, e como puxei o cabelo dela para trás e fiz ela tropeçar. Bom, se fosse nos tempos de hoje, ela estaria com o pé em cima das minhas costas.

Meus passos eram rápidos. Queria terminar logo com isso. Dane-se. Comecei a correr, corri o máximo que pude. Emaranhados de teias apareciam e eu abruptamente destruía elas, dando tapas no ar, gastando minha raiva nelas. Dobrei a curva. Eu chorava, insistindo para que caísse todas as lágrimas que eu tinha guardado. Foda-se. Não quero mais viver. Não quero mais estar aqui, quero fechar os olhos e não ver mais nada.

À frente, tinha a entrada, feita de pedras. Uma câmara aparentemente antiga se projetava e no centro, uma cadeira avermelhada, de madeira e acolchoada. Cheguei no local e havia à minha direita um armário mogno com uma mesa ao lado.

Parei.

Uma luz vinha de cima, fluorescente, e mostrava que o lugar não era tão grande. Uma sala de estar. O local parecia mais frio do que o túnel e a cadeira era extremamente chamativa. Abri o armário e ele tinha apenas biscoitos amanteigados e uma jarra com suco. Acredito que eles seja fãs de Lewis Carrol e coloquem tais coisas na minha frente para comer. Então, comi. Estava faminta.

Havia um fundo falso no armário com uma fechadura. Óbvio que a chave não estaria disponível para mim.

Pode se sentar, Julie.

A voz grave familiar me fez olhar para trás. Três homens, um ao lado do outro, com as mãos para trás, me encaravam.

Por favor, sente-se.

Ele parecia ser o mais velho dos três, cerca de 30 anos. Tinha cabelos escuros, negro, alto e tinha um arranhão no rosto. Estava com as mãos para trás, exibindo os braços largos pela camiseta cinza. Hesitei em assentar, mas eu não sabia que não poderia mais passiva do que antes.

Ele esboçou um sorriso.

Meu nome é Charles. Este e Jack e Renan, como já se conhecem - apresentou, mostrando cada um deles. Jack era o mais baixo. Tinha cabelos ruivos e um sorriso tipo de um serial killer.

O Jogo do PoçoWhere stories live. Discover now