Capítulo VIII

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Os barulhos ensurdecedores me fizeram cair junto com a cadeira.

Depois de alguns milésimos, senti o líquido avermelhado quente em contato com a minha pele, minhas roupas e minhas feridas. Como em câmera lenta, Jack caiu ajoelhado e começou a berrar e sacudir Renan. Eu ainda estava atordoada, não consegui distinguir corretamente o que ele dizia, mas já entendia a mensagem.

Filho d...merda... Foda-se.... E agora... essa garo...o que f... seu merda!

Desejei profundamente que tivesse mais uma bala naquele revólver. Só mais uma. Era tudo que Renan precisava para dar um fim nisso. Só mais uma...Só mais uma...

Mas que cagada! Seu bosta! Você matou meu parceiro, cara. Chega, não quero mais participar disso... se vira com essa vadia.

Não...você não vai embora agora. Vamos terminar isso juntos, todos merecemos isso.

Você só está cavando mais fundo. Não vai ter saída pra você e seus jogos com ela. Sabe que não vai ficar livre disso.

Até no poço mais fundo conseguimos ver a luz. Eu não vou me ferrar por essa cadela. Vamos sair daqui vitoriosos, cara. Temos um plano e vamos cumprir com...

Do que você está falando! Hein? Me diz! Você fodeu com a vida do meu amigo e agora quer acabar com a minha? Que se foda você e sua vingança medíocre, eu não vou voltar pra cela! Brinque com sua poodle aí e resolva sua vida depois.

Sentia que ia desmaiar, não iria segurar mais.

Você não vai amarelar, cara.

Ah, é? Então vai ter que me impedir.

Eu tive um momento de silêncio. Instantes de paz que aquele lugar horrível me proporcionou, onde poderia pensar em ter duas alternativas: reunir todas as forças que eu tenho e pelo menos dar um fim ou machucar permanentemente Renan e morrer, ou apenas perder a vida passivamente. A segunda opção era tentadora, ainda sabia que a primeira opção era quase impossível.

Mas eu não deixaria de viver meus últimos segundos indo para o matadouro sem tentar.

O que eu vi foi um relance. Um faixo de movimentos sincronizados como um filme de luta. Renan lançou o revólver vazio na direção da face de Jack, que por sua vez, segurou o golpe e o devolveu com um murro. O estampido de uma feroz briga aconteceu e depois disso, apenas conseguia escutar ganidos, respiração ofegante, coisas caindo no chão e ataques. Num dado momento, vi Renan cair no chão com o nariz ensanguentado e depois disso, os olhos se atentaram para mim.

Jack me arrastou para trás, puxando pela perna me lançando para algo mais frio e a sensação de que não teria mais chão. Eu não tinha forças para levantar à tempo de me defender. Ouvi mais socos e em seguida um som muito parecido como quando minha mãe martelava a carne para o jantar. Ouvi repetidas vezes.

A mim interessava saber quem tinha ganho aquilo. Caso fosse Jack, ele talvez me largaria lá e fugiria antes que a polícia chegasse. Se fosse Renan...era apenas fechar os olhos.

Escutei sons de arma sendo carregada e vários disparos posteriores. Com muita dificuldade, tentei virar o corpo para frente, na ideia de ver quem tinha morrido. As botas pretas ainda pisavam no sangue fresco e nos braços estendidos de Jack, que olhava para mim, estirado no chão frio.

Outro som de arma sendo carregada.

Eu já sabia o que tinha que fazer. Apenas me certifiquei de olhar para trás.

Passos.

Passos.

Passos mais perto. Pesados.

Sons de tiro disparado para o alto.

Um movimento, uma vontade. A única vontade que me restava. Ser egoísta nessa hora e não deixar que aquela situação terminasse de outra forma era reconfortante, agora sei a sensação das pessoas que se vingam. Brota um frio na espinha e uma vontade enorme de gritar.

Apenas rolei as feridas doloridas e me entreguei à queda. Aos berros.

O Jogo do PoçoWhere stories live. Discover now