6 - As aulas com as crianças...

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O dia amanheceu e nem foi necessário despertador tocar, saltei da cama e despachei-me rapidamente, estava entusiasmada com o meu primeiro dia de trabalho, desci e tomei o pequeno almoço, estava a acabar quando a Tara e a Maria se juntaram a mim. Dexamos Maria no trabalho e seguimos para o centro desportivo, a Danielle já estava à nossa espera com um dos alunos e à  medida que foram chegando fui falando com todos de modo a tentar conhecê-los, o que não era fácil, são miúdos com vidas difíceis e criam barreiras para se defenderem. A abordagem com estes miúdos tem de ser de forma ponderada, mostrar autoridade mas sem ser evasiva, Danielle já tinha alguma experiência com estes casos e diz que é uma luta diária. Consegui aproximar-me com o truque da máscara, tal como a minha mãe gostava de colocar uma máscara para dançar sem preconceitos, os miúdos aderiram bem à ideia assim consegui que cedessem um pouco,  pedi que cada um me trouxesse na próxima aula uma música para dançar, algo de que gostassem para que podes se conhecer os seus gostos. Não recebi um único sorriso, somente olhares de desconfiança e a aula passou entre episódios de muita falta de regras e educação. Atendiam os telemóveis, paravam a meio para descansar sem pedir, gozavam com tudo, enfim... saí da aula com sensação de ter falhado e desiludida comigo mesma. Será que consigo chegar a eles um dia?

A Tara veio ter comigo para podermos falar sobre a primeira aula de cada uma, decidimos ir até à cafetaria do clube onde dei de caras com Mark e Brian.

— Então meninas como correu a primeira aula?

— Bem obrigado mas não sabia que frequentavam o centro. - digo surpresa.

— Sim nós fazemos desporto aqui já a alguns anos por isso vamo-nos cruzar por aí mas na verdade vocês não estão com um ar muito contente!

— Estes miúdos vão dar mais trabalho do que estavamos à espera, enfim amanhã será mais um teste à nossa paciência, mas se pensam que vou desistir estão enganados! - despedi-me e puxei a Tara para o balcão.

Bebemos o café e ficámos por lá até que Danielle se juntou a nós, perco-me nos meus pensamentos e recordo que como uma das paredes da sala de aula é vidro, isso quer dizer que estamos constantemente com olhos postos em nós. Ok volto do devaneio e continuo a falar sobre a estratégia de trabalho com os miúdos, o problema é que Danielle relata-nos que alguns miúdos passam fome e por isso não podemos exigir que se esforcem e se concentrarem. Alguns sofrem maus tratos físicos e psicológicos.

— A sério?! - A Tara está chocada.

— Sim a verdade é que alguns só tem o almoço na escola e mais nada. - A Danielle denúncia revolta na voz.

— Temos de fazer algo! - Não vou aceitar isto.

— Mas o que vamos fazer?

— Bem, Tara fala com os os avós para ver se a empresa pode dar um donativo, Danielle propõe à direcção que 1 de cada mensalidade dos associados reverta para nós e eu vou falar com uma pessoa, pelo menos quero que cada criança tenha um lanche de manhã e à tarde. - saí a correr.

Fui à mala e liguei para o dono da discoteca, depois de muita conversa consegui negociar com ele em troca de dançar todas as sextas na discoteca ele fornecia o centro com sumos naturais para os miúdos. Ao almoço também já Danielle tinha convocado uma reunião com a direcção e Tara convenceu os avós a fazer pequeno donativo em nome da empresa. Danielle falou também com a cafetaria que aceitou de bom agrado ajudar, iriam fazer sacos com os lanches todas as manhãs, a minha intenção seria que cada saco contivesse: uma peça de fruta, iogurte, uma sandwich, um pacote de leite, um pacote de sumo e água. Fui até à sala de aula e acabei a dançar para descontrair, alguns minutos depois a Tara juntou-se e acabamos por treinar mais coreografias. Quando acabámos era hora da aula e os miúdos da turma da tarde realmente não tiveram qualquer rendimento, a verdade é que aqueles miúdos têm uma vida complicada, por isso parei a aula após cinco minutos, chamei a Tara e fomos com as duas turmas comer, sei que o silêncio era o agradecimento de cada um e fiquei feliz por vê-los comer, alguns lançaram um olhar de desconfiança mas nenhum se opôs a lanchar. Ainda tivemos quinze minutos a falar mas fiquei frustrada por não conseguir chegar até eles, fecham-se com medo de que os magoe, criam barreiras que mesmo com tão pouca idade já são bem sólidas. Vou ter de trabalhar muito mas conseguirei mudar estes miúdos.

Terça feira chegou e o concelho diretivo aceitou a doação de um euro para nos ajudar, próxima semana já haveriam lanche para os miúdos. A Maria ajudava com condelhos e pedia para não desistirmos, como o tempo voa, a semana passou e os miúdos estavam menos reticentes, senti que estavam a ceder, mais devagar do que queria mas...

Hoje é sexta-feira, toda a semana falei por telefone com Richard pois estava no Brasil em trabalho e hoje combinei com Jo e Brian encontramo-nos na discoteca. É a noite africana, como sempre Júlio vai connosco e como decidi não beber álcool, levei a pick up.

Dancando para ti...também (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora