Quando eu tinha 12 anos, me apaixonei por uma menina índia chamada Dawn. Ela era alta, morena e a melhor dançarina tradicional dos powwows da nossa reserva. Suas tranças, enroladas em pele de lontra, eram famosas. É claro que ela não dava atenção alguma a mim. Às vezes zombava de mim (me chamava de Junior High Honky por algum motivo que desconheço). Mas isso só fazia com que eu a amasse ainda mais. Ela estava absolutamente fora do meu alcance e, embora eu só tivesse 12 anos, já sabia que seria um desses caras que sempre se apaixonam por mulheres inatingíveis, impossíveis e indiferentes.
Certa noite, por volta das duas da madrugada, quando Rowdy estava dormindo lá em casa, fiz uma confissão completa.
- Cara - disse -, eu amo muito a Dawn.
Deitado no chão do meu quarto, ele fingiu que dormia.
- Rowdy - falei -, você está acordado?
- Não.
- Você ouviu o que disse?
- Não.
- Eu disse que amo muito a Dawn.
Ele ficou em silêncio.
- Você não vai dizer nada? - perguntei.
- Sobre o quê?
- Sobre o que acabei de dizer.
- Não ouvi você dizer nada.
Ele estava só me enchendo o saco.
- Vamos lá, Rowdy. Estou tentando te dizer uma coisa da maior importância.
- Você está sendo burro - disse ele.
- Que burrice há nisso?
- Dawn não está nem aí pra você - disse ele.
Isso me fez chorar. Cara, eu choro mesmo à toa. Choro quando estou triste e choro quando estou alegre. Choro quando estou bravo. Choro porque estou chorando. Isso é sinal de fraqueza. É o oposto do que faz um guerreiro.
- Pare de chorar - disse Rowdy.
- Não consigo - respondi. - Eu amo Dawn mais do que jamais amei outra pessoa.
Pois é. Eu era bem dramático para um adolescente de 12 anos.
- Me faz um favor - disse Rowdy. - Para com essa choradeira, tá?
- Tá bem, tá bem - disse. - Desculpa.
Enxugue o rosto com um dos meus travesseiros e joguei-o no outro lado do quarto.
- Céus, você é um bebé chorão - disse Rowdy.
- Mas não conta pra ninguém que eu chorei por causa da Dawn, tá?
- Alguma vez já contei seus segurados? - perguntou Rowdy.
- Não.
- Então não vou contar pra ninguém que você chorou por causa de uma menina estúpida.
E ele não contou pra ninguém. Rowdy era meu confidente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Diario Absolutamente Verdadeiro De Um Índio De Meio Expediente
Non-FictionMeu nome é Arnold Spirit Junior, mas me chamem de Junior, eu sou um índio, mas não fiquem imaginando um belo e musculoso índio, existe alguns assim sim, mas não sou um modelo de índio, sou magro, tenho um globo como cabeça e pés enormes, então se vi...