Nunca pensei que viesse a ser um bom jogador de basquete.
Isto é, eu sempre gostei de jogar, principalmente porque meu pai gostava tanto de basquete e porque Rowdy gostava mais ainda. Mas eu achava que seria um jogador desses que ficam torcendo, do banco, na vitória ou na derrota, por seus companheiros de time maiores, mais rápidos e mais talentosos.
Mas, de um jeito ou de outro, no decorrer da temporada, eu me tornei, ainda no primeiro ano, um titular da seleção de basquete da escola. E, não deu outra coisa: todos os meus companheiros de time eram maiores e mais rápidos. Mas nenhum fazia cesta como eu.
Eu era o matador de aluguel.
Quando eu estudava na reserva, até que não fazia feio, acho. Eu pegava os rebotes e corria pela quadra sem tropeçar. Mas algo mágico aconteceu comigo quando fui para Reardan.
De um dia para o outro, passei a ser um bom jogador.
Acho que isso deve ter sido alguma coisa a ver com confiança. Eu explico. Eu sempre havia ocupado o lugar mais baixo entre todos os índios no totem da tribo. Não esperava que eu fosse bom e eu não era. Mas em Reardan, o treinador e os outros jogadores queriam que eu fosse bom. E aí eu passei a ser bom.
Queria corresponder às expectativas.
Acho que isso explica tudo.
O poder das expectativas.
Como eles esperavam mais de mim, eu esperava mais de mim mesmo. A coisa foi crescendo e de repente eu estava fazendo doze pontos por jogo.
COMO NOVATO!
O treinador começou a dizer que eu estaria na seleção estadual dentro de poucos anos. Ele achava que talvez eu jogasse em alguma universidade pequena.
Uma loucura.
Quantas vezes na vida um menino índio ouve isso?
Quantas vezes na vida vocês ouviram as palavras "índio" e "universidade" em uma mesma frase? Principalmente na minha tribo.
Mas eu não acho que esteja ficando convencido ou coisa assim.
Continuo absolutamente apavorado antes dos jogos. Morro de medo de competir, de ter que vencer.
Eu vomito antes de cada jogo.
O treinador disse que ele também vomitava antes dos jogos.
- Rapaz - disse ele -, algumas pessoas precisam limpar os tubos para poder jogar. Eu sempre fui um vomitador. Não há problema algum em ser vomitador.
Então perguntei a meu pai se ele era vomitador.
- O que é um vomitador? - perguntou ele.
- É um cara que vomita antes das partidas de basquete - disse eu.
- E por que alguém vomitaria?
- Eu vomito. É porque fico nervoso.
- Você quer dizer amedrontado?
- Nervoso, amedrontado, é tudo a mesma coisa, não é?
- Nervoso significa que você quer jogar. Amedrontado significa que não quer.
Foi assim que meu pai esclareceu as coisas.
Eu era um vomitador nervoso em Reardan. Em Wellpinit eu tinha sido um vomitador amedrontado.
Ninguém mais na minha equipe era vomitador. Mas acho que ser ou não ser vomitador não fazia diferença. Nós éramos uma boa equipe e ponto final.
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Diario Absolutamente Verdadeiro De Um Índio De Meio Expediente
Non-FictionMeu nome é Arnold Spirit Junior, mas me chamem de Junior, eu sou um índio, mas não fiquem imaginando um belo e musculoso índio, existe alguns assim sim, mas não sou um modelo de índio, sou magro, tenho um globo como cabeça e pés enormes, então se vi...