Por que os russos não são sempre gênios

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    Quando minha avó morreu, minha vontade era de entrar no caixão com ela. Quando o melhor amigo do meu pai morreu com um tiro na cara, eu me perguntei se não estaria destinado a morrer com um tiro na cara também.

    Nossa, já estive em enterros demais em minha vida ainda curta.

    Tenho 14 anos de idade e já fui a quarenta e dois enterros.

    Esta é mesmo a maior diferença entre índios e brancos.

    Uns poucos colegas de turma meus já foram ao enterro de um dos avós. Um outro foi ao enterro de um tio ou uma tia. O irmão de um deles morreu de leucemia quando estava no terceiro ano.

    Mas nenhum ali esteve em mais de cinco enterros.

    Todos os meus amigos brancos podem contar suas mortes nos dedos de uma das mãos.

    Eu posso contar nos dedos das duas mãos, nos dos pés, braços, olhos, orelhas, nariz, pênis, duas metades da bunda e nos mamilos e ainda não chego perto da quantidade das minhas mortes.

    E querem saber da pior parte? Da parte mais feliz? Cerca de noventa por cento dessas mortes foi por causa de bebida.

    Gordy me mostrou o livro de um carinha russo chamado Tolstoi, que escreveu o seguinte: "As famílias felizes parecem-se todas; cada família infeliz é infeliz à sua maneira." Bem, detesto discutir com um gênio russo, mas Tolstoi não conheceu índios. E ele não sabia que todas as famílias indígenas são infelizes exatamente pela mesma razão: o diabo da bebida.

    Pois é. Então façamos um brinde a Tolstoi e deixemos que ele pense um pouco mais sobre a verdadeira definição de famílias infelizes.

    A essa altura vocês devem estar me achando extra-amargo. E eu devo concordar com vocês. Estou sendo extra-amargo, mesmo. Mas eu vou dizer por quê.

    Hoje, por volta das nove horas da manhã, quando eu estava na aula de química, ouvimos uma batida à porta, e a senhora Warren, a orientadora educacional, entrou na sala. O professor de química, dr. Noble, detesta ser interrompido. por isso ele olhou para a senhorita Warren já com má vontade.

    - Posso ajudá-la, senhorita Warren? - Perguntou o dr. Noble. O jeito que ele falou parecia um insulto.

    - Pode - disse ela. - Posso falar com o Arnold em particular?

    - Não dá para esperar? Vamos fazer um teste dentro de alguns minutos.

    - Preciso falar com ele agora. Por favor.

    - Então está bem. Arnold, por favor acompanhe a senhorita Warren.

    Juntei meus livros e segui a senhorita Warren até o corredor. Eu estava um pouco preocupado. Tentei me lembrar se havia feito alguma coisa errada. Não consegui pensar em coisa alguma que eu tivesse feito que merecesse repreensão. Mas continuava preocupado. Eu não queria me meter em nenhuma confusão.

    - O que houve, senhorita Warren? - perguntei.

    Subitamente ela começou a chorar. Caiu em prantos. As lágrimas escorriam pelo rosto dela. Pensei que ela fosse se jogar no chão e começar a gritar e a se debater como uma criancinha de dois anos.

    - Nossa, senhorita Warren, o que houve? Qual é o problema?

    Ela me deu um abraço apertado. Devo admitir que a sensação que senti foi boa. A senhorita Warren deve estar chegando aos cinquenta aninhos, mas ainda é bem gostosa. É toda magrinha e musculosa porque está sempre fazendo jogging. Então eu... bem... reagi fisicamente ao abraço dela.

Diario Absolutamente Verdadeiro De Um Índio De Meio ExpedienteOnde histórias criam vida. Descubra agora