Meu nome é Arnold Spirit Junior, mas me chamem de Junior, eu sou um índio, mas não fiquem imaginando um belo e musculoso índio, existe alguns assim sim, mas não sou um modelo de índio, sou magro, tenho um globo como cabeça e pés enormes, então se vi...
Foi um feriado sem neve. Comemos um peru que mamãe preparou à perfeição. Comemos também puré de batatas, vagem, milho, molho de cranberry e torta de abóbora. Foi um banquete. Eu sempre acho engraçado quando índios comemoram o Dia de Ação de Graças. Tudo bem que os índios e os peregrinos estivessem numa boa no primeiro Dia de Ação de Graça, mas pouco tempo depois os peregrinos já estavam matando índios a tiro. Por isso eu nunca sei bem por que nós comemos peru como todo mundo. - Ei, Pai- perguntei, por que os índios devem dar tantas graças a Deus? - Devemos ser gratos por não terem matado todos nós. Demos boas gargalhadas. Foi um dia bom. Papai estava sóbrio. Mamãe se preparava para tirar uma soneca. Vovó já estava tirando uma soneca. Mas eu sentia saudades de Rowdy. Ficava só olhando para a porta. Nos últimos dez anos ele sempre vinha à nossa casa para disputar comigo quem comia mais torta de abóbora. Eu sentia falta dele. Por isso desenhei Rowdy e eu , eramos antes:
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Ai eu vesti meu casaco, me calcei, fui andando até a casa de Rowdy e bati à porta. O pai de Rowdy, bêbado como sempre, abriu a porta. - Junior - disse ele. - O que é que você quer? - O Rowdy está em casa? - Não. - Ah, então está bem. Eu desenhei isto pra ele. O senhor pode entregar a ele? O pai de Rowdy pegou o desenho e ficou algum tempo olhando para ele. Depois deu um sorriso que mais parecia uma careta. - Você é meio gay, não é? - perguntou ele Pois é. Era esse o pai que o Rowdy tinha em casa. Céus, não era à toa que meu melhor amigo estava sempre tão zangado. - Dá para o senhor entregar isso a ele? - perguntei. - Tá bem. Eu entrego. Mesmo que esse troço seja meio gay. Tive vontade de xingar o sujeito. Tive vontade de dizer a ele que eu me achava bem macho por ter coragem de ir até lá tentar refazer minha amizade com Rowdy e que se isso fosse ser gay, então eu era o gay mais gay do mundo. Mas não disse nada disso. - Então, obrigado - foi o que eu disse. - E feliz Dia de Ação de Graças. O pai de Rowdy fechou a porta na minha cara e eu fui embora. Dei alguns passos, parei e olhei para trás. Vi Rowdy na janela do seu quarto, no andar de cima. Pude ver a tristeza em seu rosto. Tive certeza de que ele sentia saudades de mim também. Acendi para ele. Ele ergueu o dedo médio para mim. - Ei, Rowdy! - gritei. - Obrigada, tá? Ele se afastou da janela. Por alguns instantes, fiquei triste. Mas depois me dei conta de que, apesar de ter me xingado, ele não tinha rasgado meu desenho. Se ele me odiasse mesmo, teria feito dele pedacinhos de papel. Isso sim, teria me magoado mais do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar. Mas Rowdy ainda respeitava meus cartuns. Talvez, então, ele ainda me respeitasse um pouco.