Joguinho divertido

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Eu quase não fui fazer o teste para o time de basquete da escola. Achava que não era bom o suficiente para entrar sequer na reserva da reserva da equipe C. E eu não queria ser rejeito. Não conseguiria viver com tal humilhação.
     Mas meu pai me fez mudar de ideia.
     - Você sabe como foi que conheci sua mãe? - perguntou ele.
     - Vocês dois são da mesma reserva, não? - disse eu. - Então foi aqui mesmo. Manda outra pergunta, que essa foi fácil.
     - Mas eu só me mudei para a reserva quando tinha cinco anos de idade.
     - E daí?
     - E daí que sua mãe tem oito anos a mais do que eu.
     - Tudo bem, pai, mas vai direto ao assunto.
     - Sua mãe tinha treze anos e eu tinha cinco quando nos conhecemos. E, adivinhe como nos conhecemos.
     - Como?
     - Ela me carregou para que eu bebesse água no bebedouro.
     - Essa história está me parecendo que vai ficar imprópria para menores - disse eu.
     - Eu era pequenininho - disse ele - e ela me levantou para que eu bebesse água. Imagine só, tantos anos depois estamos casados e temos um casal de filhos.
     - E o que tem isso a ver com basquete?
     - A pessoa precisa sonhar alto para alcançar o que está no alto.
     - Isso é muito otimismo vindo do senhor, Pai.
     - Bem, sabe como é... Sua mãe me ajudou a beber no bebedouro ontem à noite, se é que você entende o que estou dizendo.
     Só pude fazer uma careta para meu pai, pois nada tinha a dizer.
     Aliás, está é mais uma coisa que as pessoas não sabem sobre os índios: nós adoramos falar coisas obscenas.
     Seja como for, me inscrevi no teste para o time de basquete.
     Ao entrar na quadra da escola pela primeira vez, eu me senti baixinho, magricela e lento.
Todos os meninos brancos eram bons. Alguns eram enormes.
     Tinham mais de 1,90m.
     Roger, o Gigante, era forte, rápido e bom e cesta.
     Tentei não ficar no caminho dele. Se ele me atropelasse, eu certamente morreria. Mas ele sorria o tempo todo, jogava com disposição e me dava tapas nas costas.
     Ficam os todos fazendo cestas por algum tempo. E então o treinador entrou na quadra.
     Os quarenta meninos IMEDIATAMENTE pararam de bater bola e de falar. Ficamos em silêncio, todos ao mesmo tempo.
     - Quero agradecer a vocês por terem vindo aqui hoje - disse o treinador. - Vocês são quarenta, mas só temos vaga para doze na equipe principal e doze para a equipe de juniores.
     Eu sabia que não ia entrar para nenhuma das equipes. Eu era material para equipe C, sem dúvida alguma.
     - Em outros anos, tivemos também uma equipe C com doze atletas - disse o treinador. - Mas este ano não temos orçamento para ela. Isso significa que terei que cortar dezesseis jogadores hoje.

     Uns vinte caras estufaram o peito

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     Uns vinte caras estufaram o peito. Sabiam que eram bons o suficiente para entrar em uma das duas equipes - a principal ou a dos juniores.
     Os outros vinte baixaram a cabeça. Sabíamos que éramos contáveis.
     - Eu realmente detesto fazer isso - disse o treinador. - Se dependesse de mim, eu ficaria com todos vocês. Mas não depende de mim. Por isso vamos fazer o que for possível hoje aqui, está bem? Vocês jogam com dignidade e respeito, e eu tratarei vocês com dignidade e respeito, certo?
     Todos concordamos.
     - Então está bem. Vamos começar - disse o treinador.
     A primeira prova foi uma maratona. Bem, não exatamente uma maratona. Tivemos que dar cem voltas correndo pelo ginásio. Éramos quarenta no início.
     E trista e seis no fim.
     Depois de cinquenta voltas, um cara desistiu, e como a desistência é contagiosa, três outros pegaram a doença e abandonaram a corrida também.

Diario Absolutamente Verdadeiro De Um Índio De Meio ExpedienteOnde histórias criam vida. Descubra agora