Paraíso Interrompido

Prólogo - Fogo Purificador

O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade.
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca acaba.

1 Coríntios 13:4-8 (NVI)

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DAVI

[5 ANOS ANTES]

- Rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém. - A nossa presidente, Wanda Finch, começou seu discurso. A televisão ligada mostrava a imagem de sua autoridade em um palanque alto em frente ao Palácio da Justiça. Sua roupa branca e seu crucifixo transmitiam uma imagem de pureza que era quase inimaginável. - Caros cidadãos de Paradiso, eu, a sua presidente, venho até vocês humildemente, com as ordens de Deus, cumprir com as leis que o próprio Criador nos deu.- uma multidão estava ajuntada ao redor do palanque. Eram em sua maioria padres, duques, bispos e toda a nobreza do país - É escrito na palavra Santíssima que nenhuma folha cai de uma árvore se o Criador não a assim fizer, e como é do conhecimento de todos, passamos por uma fase de grandes mudanças climáticas, com frios horrendos seguidos de ondas de calor insuportável, chuvas destruidoras e ciclones que matam e acabam com tudo o que encontram em sua frente. Isso é um assunto que tem sido constantemente discutido em nossas assembleias, visto que não é algo cotidiano, normal. Nossos bispos e cardeais têm feito suas preces e eis que Deus revelou-se a nós novamente.

Um som de surpresa foi audível por todo o local.

- "A doença caminha entre vocês, filhos. Eles fingem estar saudáveis, mas estão doentes. Isto é um mal que se alastra", disse o próprio Deus. Confesso que ficamos assustados e completamente atônitos com a sua fala. "Impossível! Não há nada que aconteça nessa cidade que fuja de nosso conhecimento. Não há doença entre nós que possa se alastrar sem que antes saibamos dela", dizíamos seguramente entre nós mesmos. A palavra de Deus é verdadeira e não volta vazia, sabemos muito bem disto, e eis que sempre o que está encoberto vem à tona. No outro dia do falar divino nós prendemos dois homens acusados de cometer o mais miserável de todos os pecados.

Todos pareciam atônitos. O silêncio era tão cortante que, mesmo pela televisão, o som do bater das asas de um grupo de aves pelo local era facilmente identificável. 

Ninguém cometeria um ato daqueles. 

O último fora há 10 anos, e ambos sabíamos o que acontecera com ele.

- Impossível! - um grito pôde ser ouvido da multidão.

- Mas como eles se colocaram assim para serem descobertos! - protestou minha mãe. Ela estava sentada ao meu lado e não parecia nada contente com a notícia - Por que não fugiram da cidade? Por que simplesmente não fingiram que não havia nada? Há boatos de tribos livres além das fronteiras! Ninguém descobriria!

- Mas isso já é de conhecimento de qualquer pessoa, mãe. Esta prática é pecado imperdoável e deve ser paga com a morte. - questionei.

- Como dizes tal coisa com tamanha frieza, meu filho?

- Porque é o que é, Rosalina. - a voz do meu pai ecoou pela sala, grave e imponente. - Para esses abomináveis, a única coisa que merecem é, de fato, a morte. Pelo menos no inferno essas bestas não podem poluir nossos olhos e sujar nossos costumes, pregando com suas vidas que as famílias hoje em dia não têm mais valor algum.

Minha mãe pensou em responder, chegando até a virar-se na direção dele, mas curvou-se em uma tosse violenta. Seu problema no pulmão não havia sido identificado ainda, aguentávamos suas tosses diárias torcendo para que tudo aquilo acabasse e ela melhorasse logo.