Capítulo 6 - Escravo dos próprios erros

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Eu não entendo o que faço, pois não faço o que gostaria de fazer. Pelo contrário, faço justamente aquilo que odeio.

Romanos 7:15 (NTLH)

...

JÔNATAS

Pai, perdoa-me, pois pequei.

Sabes bem que sou seu filhinho querido e que fujo de qualquer coisa que tenha a mínima chance de desagradar o Teu coração. Eu não sou perfeito e o Senhor sabe disso melhor do que ninguém. Sabe o que eu penso, por onde eu ando, e todas as intenções do meu coração são conhecidas antes por Ti do que por mim mesmo.

E o Senhor sabe que eu tenho tentado me manter distante de qualquer um, o tempo todo. O meu coração é enganoso e o meu corpo é impuro. Meus gostos são duvidosos e eu os temo. Temo a mim mesmo tanto quanto temo a própria morte. E por isso não deixo com que ninguém se aproxime – e ninguém deixa que os outros se aproximem de mim também.

Mas...

Por que eu não consigo tirá-lo da minha mente, Pai?

Eu o encontrei tão por acaso, numa situação tão estranha e corrida. Por que os olhos dele parecem ficar rondando o meu cérebro? Por que sinto que aquelas íris esverdeadas estão pregadas na parte de trás das minhas pálpebras? Porque toda vez que o fecho os olhos eu simplesmente as vejo. E elas são tão lindas.

Perdoa-me, Pai, porque eu sei que deveria manter distância dele. Deveria mantê-lo longe da minha cabeça, mas tenho falhado tão miseravelmente.

Porque quando sentia que a sua imagem estava desvanecendo eu... me forçava a lembrar.

E quanto mais a sua imagem desvanecia e eu a puxava de volta, mais eu queria saber de coisas simples. Qual era o seu nome? O que ele gostava de comer quando pensava num jantar ideal? Qual era a história das cicatrizes que ele possuía? O que mais odiava em seu trabalho?

E quanto mais eu puxava a sua silhueta e a sua expressão taciturna só que recheada de meiguice, mais eu queria saber de coisas complexas. Qual era a sua opinião sobre o mundo? Ele acreditava em Ti, Pai? Acreditava que as suas mãos moviam os nossos corações? Acreditava que o mundo nem sempre foi tão injusto quanto parecia ser hoje em dia? Teria ele fé que tudo isso poderia, um dia, ser realmente... bom?

Dúvidas.
Dúvidas.
Dúvidas.

Quando minha mente passou a pensar se ele já havia se apaixonado, e... se ele se apaixonaria por alguém que jamais imaginou... bem, eu entendi que tinha ido longe demais. Entendi que aquilo, aquela falta de saber, de encontrar, de entender, estava me matando. De tanto me isolar, passei a me interessar mais pela única pessoa que encontrara em minha pequena fuga da paróquia.

E foi quando eu pedi para que o Senhor me livrasse de tudo o que me afastaria de Ti.

Mas o Senhor... me trouxe até ele?

Pai, perdoa-me, pois pequei em pensamento. Questionei a sua decisão, e admito a estar questionando até agora. Por que me colocou aqui, do lado dele?

Pai, perdoa-me, pois fui fraco e em diversas vezes me rendi a tentação.
Me rendi a tentação de pensar em como seria se vivêssemos em um lugar diferente. Me rendi a pensar em como seria se vivêssemos em um lugar em que o simples fato de pensar nisso não me faria... sentir culpa.

Sinto-me mais perdido do que o pródigo filho, que se permitiu viver os seus prazeres bem longe da casa do Pai. Temo ir longe demais e que não saiba mais como voltar depois, Pai.

Paraíso InterrompidoOnde histórias criam vida. Descubra agora