"I do believe in ghosts. I do! I do!"

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Vi um fantasma na semana passada. Juro que vi. Não desses que várias religiões tentam pintar e empurrar pras pessoas, ou desses de filme de terror. Tampouco era um fantasma bonito feito Patrick Swayze. Não: meu fantasma era arrepiante à sua própria maneira. Estava jantando, pedi licença para ir ao banheiro, e, quando encarei o espelho, lá estava ele: de cabelo feio ( Por estar sem cabelo. Na verdade, Recém raspado) e uma roupa levianamente bonita. Não posso provar que o fantasma estava lá, pois, afinal, só havia eu. Intranscedentemente, eu. Demorou um pouco pra perceber que eu era o fantasma. Mas, continuo dizendo, era um fantasma!

Prefiro explicar metafisicamente, para que até Kant possa entender. Eu estava lá, mas na verdade não estava lá, não realmente. No dia passado, eu e minha namorada da época tínhamos acabado de decidir que dentro de uma semana iríamos terminar. Coisa essa que talvez poucos casais façam. Entretanto, decidimos também que manteríamos o relacionamento normalmente até o momento marcado. Por isso fui jantar lá na casa dela, e, por isso também, eu não estava realmente lá. De alguma maneira, os olhos humanos percebem a diferença entre presença e imagem. Você pode ver a imagem de um fantasma, mas a presença física, mental, ideal, não pode ser forjada. Logo, eu estava lá, mas não realmente. Era apenas uma lembrança ainda formando, o pequeno fio de linha que resta para que a corda do balanço estoure. Era um fantasma.

Após tal experiência extracorpórea, passei a prestar mais atenção à aparição de meu pequeno fantasma pessoal. Reparei que ele me visitava com mais frequência do que eu imaginava, e, após um tempo, passei a ver mais fantasmas ao meu redor. Fosse em despedidas de amigos, em reuniões de família, uma ida ao café, eles nunca mais me deixaram em paz.

Decidi (ou quis acreditar) que, na verdade, eu era real, e todos os outros eram os fantasmas, mas com o tempo essa ideia pareceu tão depreciativa que resolvi elaborar algumas hipóteses. A primeira era de que talvez não existissem fantasmas, só pessoas e surtos de identidade e vida. A segunda, de que o mundo era tão solitário, que o planeta próprio fosse um fantasma. A terceira foi a escolhida. Nela resolvi pensar que somos a linha perfeita entre o mundo dos vivos e o dos mortos, podendo vaguear por aí sozinhos feito fantasmas, ou vivos e suportando a vida e seus momentos fantasmagóricos os quais estamos sujeitos. Prefiro assim, cada um recaindo para o lado da linha que quiser.

Eu mesmo, agora, encontro esses fantasmas com menos frequência. A vida do momento parece mais bonita que o fantasma dum futuro ou dum passado. O meu, ainda vejo vez ou outra, principalmente quando leio Julio Cortázar. Aprendi a ser amigo dele. Conversamos em nossos momentos, e as conversas são sempre proveitosas. Semana que vem, vamos assistir Ghost. Ele ficou de aparecer e trazer a pipoca. Não a doce, pois não queremos mais fantasmas chorando no filme com a gente.

Salada de BalançosOnde histórias criam vida. Descubra agora