Vaias psicóticas

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Ah, infância, época que carrega centenas de lembranças e sentimentos. Você fazia o que bem quisesse, sem pensar na possibilidade de isso o seguir pelo resto da vida. Colocava a roupa que sua mãe mandava, e nem por um segundo cogitava em pensar no papelão que iria passar. Penteava o cabelo de um modo que se tentasse hoje perderia metade dele só tentando. Falava com qualquer um da sua idade, e em poucos minutos já o considerava seu melhor amigo do mundo todo (pelo menos até a festinha de aniversário acabar ou você ter de voltar para casa). Seu único problema, cara companheira, é ser tão breve.
Ah, infância, mas não me esqueço: tu também és cruel. Quantos momentos de angústia. Ainda me lembro dos simples instantes dentro de minha mente, onde eu jazia prisioneiro, escapulindo de um momento de extrema vergonha. Pois esse é seu defeito: com o tempo, você vai acabando, e isso molda o caráter de qualquer um. Pois essa é sua formação, infância. Você é feita por crianças, e crianças são inconsequentes. Quem nunca sofreu de um imenso "IHHHH" ou "NÓÓÓ", por algo que disse na sala de aula, nunca encarou seu verdadeiro lado obscuro. Vaias essas que você na maioria das vezes nem entendia a razão, mas preferia não contestar mesmo assim. Muitas dessas vezes você mesmo se vaiava. Você pensava que naquele momento estava marcado por aquelas vaias. Porém, no fim das contas, no dia seguinte nem você nem ninguém se lembrava do ocorrido. Mas as vozes continuam lá, e você não se lembra delas como algo vergonhoso: você apenas se lembra.
Com o tempo, as vaias param, e a "vidinha real" vai chegando mais. O coleguinha inescrupuloso não puxa mais a vaia, pois ele prefere agora a fofoca. E essa transformação da infância ocorre com quase todos, sendo para o bem ou sendo para o mal. Pois crianças, mesmo inconsequentes, são inocentes. E elas viram adultos, que por sua vez podem ser bons, ou podem continuar inconsequentes mas cruéis. Apenas o que é difícil de saber é a contestável capacidade de alguns "coleguinhas" de quererem sempre escolher o caminho da vaia, ou, sendo mais preciso, o da velha criancice. Ter sempre um pouco da infância dentro de si é essencial. Guardar velhos hábitos infantis é retrocesso, ou uma grande vontade interior de não crescer, pois é incapaz de encarar o mundo real.
Rogo por um mundo com mais adultos felizes e menos adultos complexadamente infantis.

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