Capítulo V

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Eu havia finalmente chegado, no correr dessa

perambulação, às prateleiras que contêm livros de

autores vivos — de homens e mulheres, pois há

agora quase tantos livros escritos por mulheres quanto

por homens. Ou, se isso ainda não é exatamente

verdade, se o masculino é ainda o sexo volúvel, é

certamente verdade que as mulheres já não escrevem

apenas romances. Há os livros de Jane Harrison sobre

arqueologia grega; os livros de Vernon Lee sobre

estética; os livros de Gertrude Bell sobre a Pérsia.

Há livros sobre todo tipo de assuntos, que, há uma

geração, nenhuma mulher teria tocado. Há poemas

e peças e crítica; há histórias e biografias, livros de

viagens e livros de erudição e pesquisa; há até algumas

filosofias e livros sobre ciência e economia.

E, embora os romances predominem, é bem possível

que os próprios romances tenham mudado a partir

da associação com livros de outra natureza. A simplicidade

natural, a era épica da produção literária

das mulheres, talvez tenha passado. A leitura e a

crítica talvez lhe tenham ampliado o alcance, aumentado

a sutileza. O impulso para a autobiografia

terá se esgotado. Talvez a mulher esteja começando

a usar a literatura como uma arte, não como

um método de expressão pessoal. Entre esses novos

romances se poderia encontrar a resposta para diversas

dessas indagações.

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Tomei um deles ao acaso. Estava bem no canto

da prateleira; chamava-se A aventura da vida, ou

um título semelhante, de Mary Carmichael, e foi publicado

neste exato mês de outubro. Parece ser seu

primeiro livro, disse a mim mesma, mas é preciso

lê-lo como se fosse o último volume de uma série

bastante longa, em prosseguimento a todos os outros

que andei olhando: os poemas de Lady Winchilsea

e as peças de Aphra Behn e os romances das quatro

grandes romancistas. Pois os livros vêm sempre

numa seqüência, apesar de nosso hábito de julgá-los

separadamente. E devo também considerá-la — essa

mulher desconhecida — como a descendente de todas

aquelas outras mulheres cujas condições de vida

estive examinando e ver o que ela herdou de suas

características e restrições. Assim, com um suspiro

— pois os romances freqüentemente proporcionam

um paliativo, e não um antídoto, fazendo-nos deslizar

Um teto todo seuOnde histórias criam vida. Descubra agora