Uma de suas mãos estava na porta, onde tinha acabado de fechar, a outra estava pousada em seu colo. Seu rosto estava manchado por lágrimas, principalmente pelo rímel e lápis de olho pretos, que havia passado mais cedo.
Marcel correu e abriu a porta do passageiro, sentando-se ali, sem ao menos perguntar se podia. Lucy continuou olhando para frente, amaldiçoando-se por ser tão fraca, por ter que enfrentar todos aqueles problemas, por sua família ser horrivel, por todos a julgarem sem ao menos conhecê-la direito, por falarem que ela era um patricinha, que se achava melhor que todos.
Amaldiçoava-se por, simplesmente, existir.
- Posso perguntar o que aconteceu? - ele perguntou de modo inocente, só quero ajudar.
Ela assentiu. Alguém estava a se preocupar com ela, não estava? Se Marcel tinha vindo atrás dela, era porque ele se preocupava, não?
- Vamos sair daqui, sim? - ela pediu, assim que conseguiu controlar sua voz. Ele concordou e Lucy ligou o carro, dirigindo sem pressa pelas ruas calmas de Manhattan.
Assim que chegou à praça que ficava em frente ao seu prédio, estacionou e saiu do carro, sendo seguida por Marcel .Lucy estava com uma roupa mais simples das que costumava usar, mas de qualquer modo, as enormes etiquetas de marca deixavam a roupa mais chique do quer era.
Vestia umas calças de ganga clara, colada ao corpo, uma camisa branca justa, sem desenho algum, e umas botas de salto alto, pretas. Os seus cabelos caíam que nem cascata pelas suas costas e uns brincos de prata com formato de anjo.
Marcel olhou dentro dos olhos castanhos dela, assim que se sentaram num banco, esperando que ela respondesse há pergunta que fizera no carro, quando entrou.
- Então, queres saber o quê? O porquê de eu e o Zayn termos brigamos ou porque sou idiota e hipócrita?
Ele fecho os lábios com a pergunta dela. Não a achava idiota e hipócrita, nem nada do tipo. Se ela era assim, era porque tinha um motivo, certo?
- Quero saber por que tu és desse jeito... Não me leves a mal! Mas, sabes, tu fechas-te para todo o mundo... – Marcel respondeu-lhe, juntando as mãos sobre o colo e esperando que ela respondesse à sua pergunta.
Lucy ficou em silêncio por um tempo, decidindo se respondia ou não. O que ele tinha perguntado era... Pessoal demais. Ela, claro, tinha motivos pra ser daquele jeito, mas não ligava para o que as outras pessoas diziam dela. Todos com os seus problemas, e ela com os dela.
No entanto, tinha vontade de se abrir com alguém. Desabafar um pouco. E Marcel estava ali, disposto a ouvi-la.
Suspirou, levantando-se e sentou em baixo de uma árvore ao lado do banco, assim poderia ficar frente a frente com Marcel.
- Eu não fui planejada quando nasci, entendes? - ela foi directo ao assunto. – A minha mãe tentou o aborto várias vezes, mas nenhum com sucesso, então, nasci. Eu fui rejeitada demais... O meu pai não me queria, porque ele tinha medo que a família dele descobrisse e o deixasse sozinho. Ele pertencia a uma família rica, e a minha mãe era pobre.
“Os pais da minha mãe descobriram a gravidez dela quando ela completou cinco meses de gestação, então colocaram-na fora de casa. É por isso que minha mãe tem raiva de mim; ela já não tinha nada, então teve ainda menos quando não teve para onde ir. O meu pai tinha dezessete anos, assim como ela, e morava com os pais. Ele não podia assumir um filho, muito menos uma mulher.
Lucy respirou fundo, vindo mais lágrimas ao seu rosto.
“Quando eu já tinha quatro anos de idade,os meus avôs paternos descobriram-me. Eles estavam velhos já, e meu pai já trabalhava. Eu morava com a minha mãe, e era o meu pai que a sustentava. O meu pai, com seu jeito explosivo, desafiou os meus avôs e disse que já era independente, que podia muito bem ter uma família. Mas não foi bem assim;os meus pais batiam-me sempre e após um tempo, a minha avó paterna levoume para morar com ela e com o meu avô.
Marcel analisou Lucy, e num gesto de quem queria confortá-la, segurou a sua mão. Ela, surpresa por tal gesto, olhou as mão dos dois juntos, e sorriu levemente.
“Eu gostava deles, e eles pareciam gostar de mim; nós brincávamos, a minha avó fazia sempre bolo de chocolate, levava-me ao parque e dava-me sempre gelado às sextas. Mas, quando eu completei doze anos, eles morreram. Primeiro o meu avô, e depois a minha avó. Eu tive que voltar para a casa dos meus pais, sitio onde não poderia receber mais carinho.
Quando Lucy parou de falar, Marcel aproveitou e levantou-se do banco - ainda sem tirar a sua mão da dela - e sentou-se ao lado dela, que chorava a ponto de soluçar. Lucy tomou fôlego e continuou.
“E, como sempre, os meus pais continuavam a bater-me. Os meus avôs maternos tinham morrido também, e eu estava sozinha. Não tinha para onde correr. A minha mãe agora era rica, e era tudo o que ela queria. Ela passava o dia inteiro na casa das amigas, ou no salão, ou no centro comercial. O meu pai trabalhava o dia inteiro. Poucos meses depois, eles mandaram-me para um internato em Londres, e eu fui.
Lucy mordeu o lábio inferior, tentando controlar os soluços que chegavam à sua garganta.
Continuou.
“Lá foi a pior coisa que me aconteceu. Eu fui... Violada. Depois disso, comecei a drogar-me para tentar esquecer tudo. Fora péssimo, mas depois de um tempo, com ajuda das drogas, eu superei. Quando completei quinze anos, o reitor do internato descobriu e ligou para os meus pais, e no final, voltei para casa. Tudo era diferente agora. Eu estava diferente. Respondia aos outros de forma mal educada , fugia de casa quase todas as noites, ficava com todos os rapazes que eu encontrava, e todos os da escola... Eu começava um relacionamento, mas não aguentava e traía os meus namorados... E eu admitia tudo: era uma vaca.
Ela parou, tentando continuar, embora se sentisse cheia de tudo. Olhou para Marcel, que não olhava para ela. Sentiu-se culpada por fazer aquilo, mas quando ele pediu que continuasse, foi em frente.
“Quando eu fiz dezesseis anos, chamaram-me para entrar nas cheerleaders na escola, e eu aceitei. Gostava disso. Mas a capitã disse que se eu não emagrecesse em um mês e começasse a vestir o número 36, eu sairia da equipa. Entao, eu deixei de comer, apenas tomava leite de manhã, e o resto do dia, sobrevivia a beber água. Depois, com esforço, parei de me drogar. Foi difícil, eu era dependente, mas consegui. Às vezes eu escapava, e drogava-me, mas era raramente, até que parei. Quando a capitã saiu da escola, eu me tornei a nova líder. E todos me respeitavam e eu amava tudo aquilo.
Ela parou novamente e Marcel olhou-a surpresa. Não podia julgá-la. Ela tinha superado tudo, e ele admirava isso. Admirava, acima de tudo, a sua força de vontade.
“No meio do ano, Zayn entrou na escola, e tornou-se, rapidamente, o capitão da equipa de futebol. No primeiro momento, eu o achara idiota, mas depois comecei a gostar dele. Achei até que estivesse apaixonada, mas nada era comparado ao que... Enfim, nós começamos a namorar há mais ou menos dois meses, mas ele era arrogante demais. Então, brigamos. E estou a onde estou.”
Quando Lucy acabou de contar a sua triste história, os dois ficaram quietos. Ele não sabia o que dizer, e ela tinha medo de que ele se afastasse dela. Claro, Marcel era a única pessoa que tinha agora, se é que o tinha.
Sinto muito por isso – Marcel sussurrou, quebrando o silêncio. Não tinha ninguém na praça, eles estavam sozinhos ali.
- Tudo bem - ela sorriu fraquinho. - Acho que já superei isso - dobrou os joelhos apoiando a cabeça neles. Um pouco desconfortável, soltou sua mão da de Edward e sentiu a falta na hora.
Ela não sabia o que estava acontecendo, mas era novo. Desde do dia em que se viram pela primeira vez, quando ele a salvou na piscina, tinha sentido algo especial por ele.
E tinha sido culpa dela. Ela estava quase que anémica. Ficava sem comer por dias para continuar magra e continuar na equipa.
Então, como nadar era uma coisa que exigia energias, desmaiou em plena água. Talvez, estivesse tentando se matar. Tanto faz, quem sentiria a sua falta?
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Catch a grenade for you (harry styles fanfic portugues)
FanfictionMarcel não era popular e não tinha namorada. Ele não era nerd, como muitos pensavam; apenas inteligente e dedicado aos estudos, com o sonho de se formar em música em Juilliard. Quando sai de Holmes Chapel Comprehensive School e vai para um colégio e...