Capítulo 2 O Estranho

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Ao chegar a sua casa Emy foi direto para o chuveiro. Tinha menos de quinze minutos para o banho antes de a mãe chegar. Estava preocupada. Sabia que a garota aventureira que ficara em Damantiham era uma parte de si que precisava recuperar, mas como?

Enquanto se trocava, ela pensava no envelope do pai, na mochila. Por mais curiosa que estivesse, não estava disposta a ler o que ele continha naquele momento. Ouviu o carro de Julie estacionar. Em seguida, a voz animada e contagiante da mãe encheu a casa.

— Emy, você está aí? — chamou ela ainda no andar de baixo.

— Aqui em cima.

Julie entrou no quarto.

— Vou tomar um banho rápido e já saímos.

Emy assentiu.

Quando Julie ficou pronta, Emy assobiou baixinho. Estava muito bonita, usava um vestido rodado de cor verde, os cabelos estavam soltos e os cachos bem arrumados, ela havia colocado brincos de pérola e borrifado seu perfume preferido da Calvin Klein.

— Está muito bonita para um jantar no sítio do Whally. — comentou Emy, casualmente.

— Acha que exagerei? — ela parecia apreensiva.

— Não, está ótima assim.

— Então vamos de uma vez.

O sítio ficava a quarenta minutos saindo da cidade. O percurso de estrada de terra era o pior, o jipe sacolejava desconfortavelmente.

— Agora me lembro do porquê de não virmos muito para cá. — queixou-se a menina, segurando-se a cada nova lombada ou buraco.

— A comida vale à pena, pense nisso. — brincou Julie.

— A comida e a presença de Whally, não é Sra. Julie? — repreendeu a filha de um modo divertido.

As duas chegaram por volta das sete horas. Whally estava esperando ansioso. Fazia um bom tempo que não via as Dismorri. Como Emy, ele deixou escapar um assobio quando Julie desceu do carro.

— Acho que terei de levá-las para jantar em um lugar mais elegante. — comentou ao sapecar um beijo na bochecha de cada uma.

— Pelo amor de Deus, Whally! É só um vestido encalhado no armário.

Os dois sorriram.

Foi um jantar agradável, mesmo que Emy tenha passado a maior parte do tempo calada, ouvindo a conversa animada dos dois adultos. Whally falava principalmente sobre sua vida no campo, sobre suas plantações, as hortaliças que estavam ficando no ponto de colheita antes do tempo, o milharal que crescia a olhos vistos e contou sobre sua nova aquisição, um notebook com conexão à Internet. Whally era jovem, mas vivia isolado da civilização há muito tempo. Emy se divertiu com as histórias que ele contou e só quando começou a cabecear de sono no sofá foi que a mãe se deu conta da hora e resolveu voltar para casa.

Ela não precisou carregar a filha para o quarto, Emy subiu sozinha. Arrumou-se para dormir automaticamente, olhando para a mochila a cada segundo. Então se decidiu que não conseguiria dormir sem ler o que tinha naquele envelope.

Retirou a carta de dentro da mochila. Ficou algum tempo olhando para ela. Sentimentos misturados começavam a tomar conta dela. Estava morrendo de curiosidade para ler o que o pai havia escrito, mas ao mesmo tempo com muito medo do que poderia conter ali.

Lentamente, Emy abriu o envelope e retirou a carta amarelecida pelo tempo de dentro dele. Depois a desdobrou cuidadosamente e leu:

Para minha querida Emily,

O Medalhão Mágico - A Cidade PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora