O Medalhão Mágico - A Cidade Perdida

Capítulo 13 O ATAQUE DE ELSORIS

Emy e os outros sobrevoavam a imensidão do mar. Os ninfos voavam baixo, suas patas quase tocavam as ondas. O dia estava amanhecendo, no horizonte já era possível ver o rosa e o dourado misturarem-se a um azul muito claro. A fuga do castelo atravessara a noite. Estavam todos cansados, sonolentos em cima das criaturas. Emy sentia a brisa marinha bater em seu rosto e podia jurar que sua boca estava salgada, só de olhar para a imensidão do mar. Tinha fome e sede.

O silêncio fúnebre em que estavam envolvidos trazia uma sensação de calmaria tão grande que começava a inquietar a garota. Muita calma provocava insegurança em Emy.

A menina olhou para seus amigos, Frank, Matt e Lia. Algo mudara em suas feições desde que chegaram a Atlântida. Estavam mais determinados, mais maduros, como se tivessem envelhecido alguns anos. Não sabia o que os amigos sentiam, não poderia ler em seus rostos cansados.

Desde que haviam chegado a Atlântida, aconteceu uma sucessão de fatos desastrosos. A perseguição por criaturas monstruosas, até o ataque a Akima. Envolver-se nessa história não estava sendo o mesmo de quando ajudara a salvar Damantiham e seus personagens. Lá ela sabia que era esperada, que havia expectativa sobre sua chegada, expectativa sobre quem era, elementos que não a faziam sentir-se tão deslocada naquele reino. Já em Atlântida acontecia o extremo oposto. Desde a vinda até a cidade, até a participação na história. Era como se fosse desnecessária ali, e sua presença junto aos amigos estivesse causando problemas ainda maiores para os personagens.

O envolvimento de Call e Albergain era responsabilidade sua, bem como a segurança de seus amigos. Pelo menos ela não se sentia mais tão sozinha, Hank estava sempre ali, a menina sentia uma afeição muito grande pelo rapaz. Não entendia como, mas estavam ligados.

No entanto, Emy preferia estar em uma terra que não estivesse com os dias contados. Ela podia prever o final de Atlântida, não precisava nem dos poderes de Ember para isso, não seria feliz como o final em Damantiham, não haveria comemoração por salvar o continente, porque ele não poderia ser salvo. Não havia motivos para continuar arriscando a vida dos amigos e a sua. Não havia motivos para lutar, ela sabia disso. Só o que não sabia era como dizer a todos que seu continente, sua terra, acabaria debaixo d'água, reduzida a uma lenda cheia de expectativas com o passar dos séculos.

Por estar perdida em suas dúvidas, Emy não soube dizer com certeza se o que viu refletido nas águas do mar era real, ou sua imaginação evocando suas lembranças de Damantiham. O símbolo de Elsoris, igual ao seu broche desaparecido: duas espadas cruzadas sobre uma chama pequenina brilhavam radiantes debaixo das águas escuras.

Conforme Cully avançava, voando sempre muito baixo, assim como os outros ninfos, o símbolo a perseguia. Desaparecendo, vez ou outra, sob a sombra de Cully, para tornar a aparecer do lado oposto do animal.

O espanto de ver tal desenho novamente deu lugar ao medo. Ainda não entendia absolutamente nada sobre Elsoris, tudo era muito superficial e confuso, apenas frases desconexas ditas por seu pai, Aros, Albergain e Amyla. Porém, a menina tinha certeza de que as espadas sobre a chama não faziam parte do enredo de Atlântida. Estava em uma história totalmente diferente, eram outros personagens e outros mistérios, ver o símbolo não podia significar boa coisa.

Emy tencionou os joelhos contra os flancos de Cully. Sentia os nervos da perna bem como todos os outros do corpo, enrijecidos. O animal percebeu a súbita mudança de uma postura relaxada, para outra completamente tensa.

— Algum problema, Emy? — perguntou ele, virando levemente a cabeça para poder olhá-la.

Ela não achou que deveria responder. Emy tinha a nítida sensação de que aquilo estava ali por causa dela. Entretanto, mesmo que a garota tivesse decidido contar a verdade ao ninfo, não teria tido tempo. O grito cortante de pavor da princesa Ember rompeu o silêncio de forma brutal, rasgando o ar a quilômetros de distância.