Estava chovendo. Julie decidira levar Emy até a casa de Valentini. Se não conseguia evitar que a filha se envolvesse cada vez mais com o desaparecimento do pai, o melhor que podia fazer era acompanhá-la e observar de perto quem eram as pessoas com que a menina estava se encontrando. Não que Julie pretendesse entrar para conversar com a linguista. Aliás, isto estava fora de cogitação. Lembrava-se bem de Valentini para querer evitar um novo encontro com a mulher.
Era apenas três da tarde do domingo, mas o tempo estava tão escuro que parecia já ter anoitecido. Julie manobrou com dificuldade o carro pela entrada do condomínio onde a linguista morava. Havia muitas árvores e plantas para todos os lados. O lugar mais parecia uma floresta. Julie estacionou em frente a um dos chalés mais bonitos. Mesmo com toda aquela chuva e o excesso de verde, a casa era perfeita. Na entrada um lindo arco cheio de flores exalava um perfume adocicado quando se passava debaixo dele. Um grande jardim muito colorido se estendia até a varanda. A madeira era trabalhada em todos os cantos. As janelas estavam cobertas de pequenas flores, cujo nome Emy não sabia. Olhando atentamente, o chalé parecia uma construção saída de alguma pintura.
Uma mulher de longos cabelos ruivos estava parada na porta. Segurava uma xícara com um líquido fumegante e observava, pensativa, o interior do carro.
— Não deixe a moça esperando, Emy. — disse Julie, evitando olhar para Valentini.
Emy desceu do carro. Valentini acenou para Julie, que não retribuiu o aceno.
— Minha nossa, você está crescida. — disse ao olhar a menina mais de perto. — Você lembra muito o seu pai, Emy. Não estava esperando tamanha semelhança, isso é um pouco desconcertante.
A garota sorriu sem graça. Por mais que o lugar lhe tivesse chamado a atenção pela beleza, sentia-se intimidada por aquela mulher.
Valentini fez sinal para que a menina a acompanhasse até a sala de estar. Por dentro, o chalé aparentava ser um daqueles lugarzinhos aconchegantes. Era óbvio que só podia estar na casa de uma colecionadora de objetos históricos. Os móveis eram antigos, e isso emprestava um charme especial à decoração da sala, com altas poltronas de veludo vinho, na qual Emy se acomodou, seguindo a indicação da mulher. Havia também muitos livros, de todos os tipos, enfeites por todos os lados, tapetes felpudos, luminárias em formato de gárgulas e uma lareira crepitante.
— A chuva deixa o chalé úmido, prefiro manter a lareira acesa, se achar que está abafado é só dizer. — explicou Valentini.
— Está bom assim.
— Quer beber alguma coisa? Um chá? Refrigerante?
— Obrigada, eu estou bem. — respondeu a menina, mais acanhada do que gostaria de aparentar.
— Faz algum tempo que eu queria lhe conhecer, Emy — disse Valentini com um sorriso.
— Sério? Talvez você precisasse de mais três anos para resolver me procurar, já que queria me conhecer. — a garota foi ríspida e não sabia explicar de onde viera aquele sentimento de desconfiança que estava sentindo diante da ruiva.
— Bem, Emy, não lhe procurei antes por achar que você e sua mãe estavam vivendo um momento difícil, e além do mais eu fiquei pouco tempo na cidade, estou quase sempre viajando. — justificou a mulher, era visível que ficara constrangida.
— Desculpe, não quis ser rude. Só acho que não precisamos desse tipo de bajulação, como você dizer que sempre quis me conhecer, por ter trabalhado com o meu pai. — Emy mantinha a fisionomia séria, livre de expressões.
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O Medalhão Mágico - A Cidade Perdida
AdventureOs mistérios que cercam a vida de Emily Dismorri estão de volta após sua primeira aventura pelo reino de Damantiham. Enquanto ela tenta recuperar a rotina normal de sua vida em São Francisco ao lado dos amigos Matt, Frank e Lia, a menina investiga p...