O corpo do menino chegou às mãos do detetive Robert Dylan embrulhado para presente, por assim dizer.
Havia até mesmo uma embalagem: um quadrado de papelão com mais ou menos um metro de altura por um de largura, envolvido por um elegante laço de presente vermelho-berrante. A caixa, agora alienada de sua função original – guardar objetos delicados, como copos de vidro e pratos de porcelana – e transmutada em uma espécie bizarra de caixão, exibia na frente as palavras: CUIDADO AO MANUSEAR. CARGA FRÁGIL. Um aviso totalmente desnecessário, uma vez que o conteúdo lá dentro já tinha sido esmagado, triturado e quebrado de todas as formas possíveis. O assassino dobrara o menino como quem faz um origami, transformando-o em um monte de pele amassada e ossos moídos.
O detetive Robert Dylan não sabia de nada disso ao sair de sua casa às oito da manhã daquela terça-feira e encontrar a caixa largada na soleira de sua porta. Quase tropeçou nela, e por pouco não derramou na camisa recém-passada o café escuro que bebia em uma xícara. Ficou olhando de testa franzida para aquele estranho quadrado de papelão. Uma das orelhas do laço pendia torta como a de um coelho. A outra estava ereta feito um grande ponto de exclamação.
Ao cabo de alguns segundos, Bob virou-se na soleira da porta e gritou para o interior da casa:
- Mary? – a única resposta que recebeu foi o barulho da água tamborilando no piso do banheiro. – Marybelle?
- Que foi? – o detetive escutou o ranger do registro do chuveiro fechando e, em seguida, os passos molhados de Mary pelo corredor. Ela surgiu na cozinha enrolada em uma toalha branca. – A gente não pode nem mais tomar banho em paz nessa casa.
- Você esperava alguma encomenda? – perguntou Bob. A luz da manhã ensolarada entrava pela porta aberta e pintava de amarelo-claro o corredor da casa deles.
- Encomenda? – Mary franziu os grandes olhos azuis – Na-não. Encomenda nenhuma.
Ela envolveu o cabelo com as mãos e torceu para tirar o excesso de água. Quando soltou os fios, a cabeleira ruiva caiu em um aglomerado encharcado por seu ombro direito. Parecia uma cascata de sangue – saída de uma jugular aberta, talvez. Depois de tanto tempo trabalhando como um detetive de homicídios, Robert Dylan descobrira que tudo tem a capacidade de remeter à morte. Tudo mesmo. Até o cabelo molhado da sua mulher grávida de quatro meses.
- Certo – ele virou-se de novo para a caixa.
- Deve ser para você – Mary já se dirigia de novo para o banheiro. – Um presente de aniversário atrasado, sei lá.
Bob respondeu com um "hum" irritado e olhou a caixa. Havia um cartão pendurado na orelha torta do laço, ele percebeu. Presente de aniversário atrasado? É, talvez. Parecia plausível, embora Bob não conseguisse pensar em ninguém que pudesse ter enviado aquilo. Excluindo sua irmã, com quem ele não falava há anos, sua única família estava no banheiro naquele instante, penteando os cabelos e cantarolando em frente ao espelho. Ele não possuía outros parentes de longe ou amigos distantes.
Ele terminou seu café com um só gole, deixou a xícara vazia na bancada ao lado do telefone e saiu outra vez de casa. Pegou a caixa com ambas as mãos, esperando algo pesado, mas o conteúdo era bastante leve. Uma pilha de roupas, quem sabe. A ideia, claro, era ridícula – ninguém enviava uma pilha de roupas em uma caixa de papelão. Pensou no pessoal da delegacia e uma imagem bastante nítida formou-se em sua mente: Greg e Jonathan, fardados e separando cuidadosamente um monte de peças em uma loja de lingerie, rindo da pegadinha que planejavam pregar nele. Ei, Greg, imagine só a cara do Bob quando ele abrir esse treco e encontrar um monte de calcinhas fio dental vermelhas! A brincadeira tinha tudo a ver com eles.
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A Mãe de Todos Eles.
Mystery / Thriller"Querido Robert: Espero que meu presente chegue em bom estado às suas mãos. E peço desculpas pela demora em lhe dar os parabéns. Sei muito bem que seu aniversário foi na semana passada - é só que eu estive ocupado preparando esta surpresa especialm...