O detetive Robert Dylan ergueu a foto no alto para que todos os policiais pudessem vê-la: o rosto feliz de uma garotinha, com um sorriso largo demais e com dentes de leite de menos. Ela usava um enorme e redondo chapéu de praia que pendia para a direita, quase caindo, feito um disco voador que aterrissara torto no topo de sua cabeça. Nas pequenas mãos, a menina segurava um girassol tão amarelo quanto seus cabelos.
- Emma Greendance – disse Bob. – Ela tinha dez anos, e foi a primeira vítima dele. Há dois anos, realizávamos uma batida de rotina lá pelos lados da linha de trem e a encontramos morta em um dos vagões. Alguém a enforcou com o vestido que ela usava. Um vestidinho do Mickey.
- Eu sempre odiei a porra daquele rato – disse Greg. De todos os policiais, ele era o único em pé, encostado à porta com os braços cruzados.
Os demais policiais se remexeram inquietos em suas cadeiras e deram risinhos nervosos. Devia ser a zilionésima vez que escutavam o comentário de Greg sobre o vestido do Mickey e, por algum motivo que Bob nunca entendeu, eles sempre riam. Bob esperou a pequena comoção morrer e colou a foto de Emma Greendance no painel de vidro acoplado à parede da sala de reuniões da delegacia de Oldwheel.
- Harry Simpsons – a foto seguinte que Bob ergueu mostrava um menino negro com uma bola de futebol americano enfiada debaixo do braço, vestindo uma camiseta que estampava a águia verde do time dos Eagles. – Oito anos. Encontrado morto há um ano e meio, no terreno atrás do posto abandonado.
- O posto que explodiu? – perguntou Bradley. O rapaz, também conhecido como Bradley Novato, era o membro mais recente da equipe: entrara para a polícia fazia apenas um mês e jamais participara de uma daquelas reuniões.
- Qual outro posto seria, Bradley? – disse a policial Jude.
Bradley deu de ombros para ela e virou-se para Bob, que assentiu.
- Isso mesmo, o posto que explodiu – disse Bob. Virou de costas para a equipe e colou no painel a foto de Harry Simpsons, ao lado da de Emma. – Mas ele não foi enforcado. O assassino o asfixiou.
- Filho da puta – disse Bradley, mais para si mesmo do que para os outros.
- Todos aqui concordamos com isso – e Bob ergueu uma terceira foto: uma garotinha ruiva com uma constelação de sardas no nariz e nas bochechas. – Natasha Watson. Dez anos. Seis meses depois de encontrar Harry Simpsons, a polícia achou o corpo de Natasha boiando no rio Waterway. O legista não conseguiu determinar com certeza a causa da morte, porque o corpo estava inchado devido à água, mas suspeita-se de enforcamento.
O Novato Bradley abriu a boca de novo e todos o olharam, esperando sua pergunta. Mas o rapaz limitou-se a balançar a cabeça e baixar o rosto, fitando as mãos. Ele as cruzava com tanta força no colo que as juntas de seus dedos estavam brancas.
- Preciso de um copo d'água – ele disse.
- Aqui – Bob pegou a jarra d'água sobre a mesa e encheu um copo, que entregou para Bradley. O rapaz aceitou com as mãos trêmulas.
- Desculpe.
- Tudo bem, Bradley.
Os outros policiais assentiram em concordância. Todos naquela sala já tinham passado pela mesma situação ao longo dos últimos dois anos, e entendiam perfeitamente o que Bradley sentia. Ver fotos de crianças mortas é uma experiência que mexe com você. E como não mexeria? Você olha para aqueles rostos que não carregam nada além de pureza, intocados pela idade e pelos desejos mesquinhos da vida adulta, e se pergunta que espécie de filho da puta doente faria mal a eles, pelo amor de Deus. Ao mesmo tempo, reprime o desejo de se levantar e correr para um lugar onde não precisa encarar tanta inocência assassinada. Reprime porque você quer estar ali, quer ajudar a pegar o homem que matou meninos e meninas de oito ou dez anos de idade. É um cabo de guerra: sua mente lhe diz para fugir antes que sua sanidade entre em colapso, enquanto seu coração fala que permanecer e lutar são as coisas certas a fazer. No fim das contas, como sempre ocorre quando a razão e a emoção engrenam uma briga de bar, você acaba partido ao meio.
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A Mãe de Todos Eles.
Misterio / Suspenso"Querido Robert: Espero que meu presente chegue em bom estado às suas mãos. E peço desculpas pela demora em lhe dar os parabéns. Sei muito bem que seu aniversário foi na semana passada - é só que eu estive ocupado preparando esta surpresa especialm...