CAPÍTULO 6-DÚVIDA

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O caminho que Kurama Youko escolheu para levar a humana que havia feito refém até seu acampamento era difícil de percorrer. Muitas plantas selvagens e pequenos youkais carnívoros os impediam de andar com mais rapidez. Para o próprio Youko, aquelas coisas não representavam nenhum problema já que ele se livrava delas com uma facilidade absurda.

As roupas típicas da garota que o acompanhava, com visível dificuldade, já estavam rasgadas e sujas. Ela ainda mantinha o olhar sereno e sua energia espiritual focada em se proteger das ameaças que a floresta do Makai pudesse apresentar. Tecnicamente, aquela era a primeira vez que ela estava sozinha num ambiente hostil, sem seu grupo para apoiá-la ou confortá-la.

O acampamento de Kurama Youko ficava ao pé de uma montanha coberta de neblina, um lugar perfeito para um bando de ladrões. De fato, após atravessarem a densa floresta já estavam próximos de chegarem lá. Como Youko estava acompanhado de uma humana, provavelmente seus companheiros já deveriam ter chegado lá. Não que ele não pudesse carregá-la com ele, mas achou prudente cansá-la um pouco. Não era prudente desafiar os poderes espirituais dos humanos do Makai.

- Já estamos nos aproximando - advertiu Youko, sua voz causou um estranho arrepio da garota, que se irritou consigo mesma por ter permitido isso.

- E os seus amigos - ela começou a falar, sentindo a garganta arranhar - vão ser tão gentis como você?

Ela estava apreensiva. Tinha que estar. Kurama sentia que por baixo daquela tranquilidade havia um resquício de medo. Estava prestes a entrar no covil do inimigo, desprotegida e em desvantagem. Mas ele precisava dela para realizar a troca, se ainda quisesse ter a relíquia que deixou para trás.

- Serão do jeito que eu mandar - ele respondeu.

A segurança dele não a convenceu tanto assim. Ela havia nascido naquele mundo, e desde que conseguia lembrar fora alertada a nunca confiar em youkais, principalmente naqueles que assumiam características humanas. Se eles eram capazes de se parecer com o homem, seriam capazes de fazer as mesmas atrocidades que eles.

Alguns dos homens de Youko já estavam de volta ao acampamento, outros haviam saído para procurá-lo. Quando um deles o avistou ao longe, logo anunciou a plenos pulmões que o seu chefe havia retornado. Para a surpresa de alguns, que imaginaram que ele havia capturado uma garota humana com outras intenções, ele estava junto dela até agora. E ela não parecia machucada nem apavorada.

- O chefe trouxe uma humana - um youkai de pele verde e pegajosa disse, surpreso.

- É o nosso prêmio pela batalha - outro deles disse, animando alguns outros que estavam por perto.

Kurama já podia ouvi-los enquanto caminhava em sua direção. Olhou de relance para a garota, chamada Yume, que andava ao seu lado. Se ela pudesse imaginar o que aqueles youkais pensavam dela não estaria agindo na mesma forma. Mas ele estava decidido a não permitir que nenhum deles a torturassem. Ela era a moeda de troca. Os humanos não fariam acordo se ela não estivesse em perfeito estado.

- Fique perto de mim - ele disse para ela, que pareceu ficar surpresa com a súbita preocupação dele.

Os youkais se amontoaram.

- Ei, chefe, aonde você foi?

- Trouxe uma humana...

- Podemos ficar com ela depois, não é, chefe?

Kurama Youko não precisou falar nada. Não precisou ordenar silêncio. O calafrio na espinha que seus homens sentiram com seu olhar foi o suficiente para fazê-los pararem.

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