CAPÍTULO 9- TRANCADAS

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 Yukineko estava irritado. Não por estar preso por tempo indeterminado no papel de um gato doméstico, mas por não estar conseguindo chegar aonde queria. O plano era simples, tecnicamente. Adentrar na dimensão dos sonhos, seguir os passos da garota durante o sono e tentar descobrir a porta que o levaria até suas memórias perdidas..

Havia algo lá, de fato. Já era a segunda tentativa de desbloquear suas lembranças, mas mais uma vez, alguma força maior o repelia. O mesmo padrão se repetia nos sonhos, mas em determinado ponto tudo desaparecia, como se tivesse sido programado assim.

Nas suas previsões, o processo como um todo já deveria estar avançado. Mas lá estava ele, sentado num canto da casa da garota, sendo amolado de hora em hora pelo seu irmãozinho e tendo que comer ração felina. Não estava nem um pouco parecido com o que ele esperava.

- Mãe, por que o gato não quer brincar comigo? - perguntou o garotinho, depois de tentar fazer Yukineko se interessar por alguma brincadeira.

- Ele não deve ter se acostumado com você ainda, querido – a mãe respondeu, tranquila.

A garota, Kagome, ficava indo e vindo de um cômodo ao outro, ajudando a organizar a casa. Ele podia perceber a inquietação que ela estava sentindo só de encarar seus olhos. Algum efeito ele tinha causado nela.

X

Kagome não conseguia parar de pensar naquilo.

Já era a segunda noite seguida que ela tinha praticamente o mesmo sonho. Lá estava ela, em sua antiga casa, junto de seu avô. Ele parecia desapontado, melancólico ao vê-la de volta, como se ela trouxesse consigo alguma coisa ruim.

"Não era para você ter nascido neste mundo", ele repetiu, após terem a mesma conversa. Kagome sabia que estava sonhando, sabia que aquilo não precisava indicar a realidade dos sentimentos de seu avô para com ela. Mas mesmo assim ainda doía escutar.

"Por que, vovô?, ela conseguiu perguntar.

"Já era pra ter acabado", ele disse, cabisbaixo, "Já era pra ter acabado... o seu sofrimento".

Depois disso, a mesma cena. Ventos fortes e gelados, os amuletos voando pelo céu, o templo desaparecendo e a planície rochosa aparecendo aos poucos. As manchas de sangue no chão pareciam estar por toda parte, ela tentou prestar mais atenção a sua volta, mas seu coração sentia tanto medo. O medo a dominava porque ela já sabia o que a esperava quando se virasse.

Ao se virar, teve a surpresa de não se ver parada na sua frente. A sua imagem, que tinha aparecido no sonho anterior, com o olhar vidrado e morto, já não estava lá. Onde ela estava então?

Quando ela baixou os olhos, viu que suas mãos tinham se manchado de sangue também, estavam geladas e pálidas. A sua outra ''eu'' não estava lá porque ela mesma tinha se transformado nela.

Não demorou muito para que as duas mãos brancas aparecessem, uma de cada lado de seu corpo, envolvendo-a. As garras eram brilhantes de tão afiadas. O medo voltou mais forte do que nunca.

"O que foi que eu fiz?" ela conseguiu ouvir ao pé de seu ouvido. Aquela voz estava carregada de angústia e arrependimento. Mas era uma voz apavorante e que fazia seu corpo inteiro tremer. Ela precisava acordar.

Depois disso, ela acordou e mais uma vez, ficou sem reação por algum tempo.

O gato branco não estava sobre sua cama, como da outra vez, mas estava acordado e olhando fixamente para ela.

X

Faziam dois dias que Kurama não via Kagome. Desde a visita de Hiei, que comprovou que realmente haviam pessoas interessadas nele, o tinha deixado em estado de alerta total.

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