REINCARNATION

CAPÍTULO 20 - RETORNO

A mulher despertava aos poucos, como se voltasse de um longo e fundo mergulho. Sua mente parecia emergir de um lugar escuro e abafado, como se tivesse sido forçada a se esconder lá, para se salvar.

Quando sua visão começou a clarear, ela se deparou com um teto branco e liso sobre sua cabeça e o som rítmico e regular de alguma máquina soava distante. Seu corpo estava dormente, por mais que ela tentasse virar a cabeça para olhar ao redor seus músculos do pescoço não obedeciam.

- Senhora? - ela ouviu uma voz ecoar em seus ouvidos.

De repente, um rosto apareceu em seu limitado campo de visão, ficando na frente do teto branco. Uma luz amarelada brilhou direto em seus olhos.

- Senhora, está me ouvindo? - a voz continuava falando - Consegue falar? Se lembra como se chama?

O nome. Ela precisava se acalmar e pensar. No meio do furacão que estava na sua cabeça, ela precisava encontrar um porto seguro. Antes de entrar em pânico, ela se concentrou nas memórias que ela guardava com mais carinho: andar de bicicleta com a mãe durante o verão, tomar sorvete enquanto assistia aos fogos de artifício explodindo no céu. O nome veio aos poucos, como se a fumaça tomasse forma: Megumi Tanaka. Ela era Megumi Tanaka, tinha trinta e dois anos e trabalhava como atendente numa empresa de computadores, morava sozinha num pequeno apartamento. Pelo menos não tinha perdido a memória.

- Megumi - ela respondeu, estranhando o som da sua própria voz, rouca e falhada.

- Senhora Megumi, esteve internada desde a noite passada - a mulher, que Megumi conseguiu identificar como uma enfermeira, disse rapidamente - Foi encontrada desacordada ao lado de mais duas pessoas. A senhora se lembra o que aconteceu?

- Não... não me lembro - ela começou a sentir uma leve dor de cabeça, e sentiu dificuldade em mover o braço para colocá-lo na testa.

- Não faça esforço - a enfermeira pediu - Está muito debilitada, com anemia e desidratação. Seus músculos estão rígidos e seus batimentos cardíacos estão se normalizando aos poucos.

Tudo o que a enfermeira falava parecia sair de um rádio mal sintonizado. Para Megumi conseguir juntar uma frase na outra precisava juntar muita energia e concentração. De repente, ela achou que seria uma boa ideia dormir de novo.

- Vou chamar o doutor, tudo bem? - A enfermeira disse, com a voz calma e tranquilizadora.

Alguns instantes depois, um médico de meia idade apareceu. Ele pareceu interessado no fato de Megumi ter despertado. Ele começou a examiná-la em silêncio, parecia muito pensativo.

- Os outros dois pacientes já acordaram e passam bem - o médico disse, assim que conseguiu.

Quando o médico encarou diretamente os olhos de Megumi Tanaka, sua expressão era de pura curiosidade. Nenhum dos outros pacientes se lembravam de como haviam ido parar naquele galpão abandonado e nem como os três haviam conseguido a mesma marca do lado esquerdo do corpo, logo abaixo das costelas.

Megumi poderia ser a última chance de tentar desvendar o mistério.

- Senhora Megumi Tanaka - o médico falou, injetando algum medicamento no soro que estava pendurado ao lado da cama dela - Consegue me ouvir? Me entende bem?

Megumi fez que sim com a cabeça, o que fez a dor aumentar um pouco.

- Estou adicionando um relaxante muscular e um analgésico - ele comentou, com a voz tranquila - Isso deve ajudá-la a se mover melhor.