Perigosa Atração

Júlia

Passou – se duas semanas  que eu me mudei para a casa do Thiago  e eu me sinto cada vez mais apaixonada por ele. Não  consegui  descobrir  nada sobre a história  das drogas. Eu não consigo acreditar que ele seja bandido.

Eu estava dormindo  na cama dele, após mais uma longa noite de sexo, quando  eu acordei e olhei para o lado e ele não estava.

O seu quarto era uma suite, olhei para o banheiro  e também  ele não  estava. Uma mulher comum voltaria a dormir, uma mulher que confia em seu homem  voltaria a dormir, mas por mais que  eu o ame e acredite que ele também  me ama, estou investigando ele e por mais que estivesse com preguiça  teria que levantar! Respirei fundo e sai da cama.

A luz da sala estava acesa e ele estava falando com alguém. Coloquei a mão na orelha e vi que esqueci de botar os “brincos” – a escuta - , mas dane-se depois eu coloco o John a par da situação (se o assunto for relevante) resolvi escutar.

“ Porra, Felipe, você é um maconheiro  inútil mesmo! Nem para saber aonde  a Júlia mora e quando que será o leilão da casa  você serve! Eu devia te entregar para a polícia por vender drogas! Eu deveria deixar de ser burro e parar de ceder a minha loja para você cozinhar. Eu estou puto com você! Não só pelo lance da Júlia,mas por tudo! Se eu perder a minha loja, se descobrirem o que eu deixo você fazer...seu merda!” Ele desligou o celular.

Não conseguia me mover, não sabia o que fazer.... ele me viu.

“Júlia, o que você está fazendo aí?"

“Eu...Eu acordei e vi que você não estava na cama, resolvi te procurar.” Dei de ombros.

“Há quanto tempo você está aí parada? Escutou a minha conversa?” Hesitei  em responder.

“RESPONDE, JÚLIA!” Ele grita.

O meu coração  dispara. Arregalo os olhos, ele me olha nervoso. Tenho vontade de chamar a minha mãe! Tento manter a calma e respondo: “Pouco tempo, escutei só um pedaço. O....O seu irmão vende drogas?”

“Júlia, senta aqui no sofá."  Eu sentei.

Ele me fez cafuné : “Me desculpa por ter gritado com você.”

“Tudo bem.” Falo meio triste. Ele me dá um selo e me abraça.

“Eu não queria que tivesse ouvido. Esse assunto me deixa nervoso. Eu vou te contar tudo. Eu e Felipe fomos adotados. Os nossos verdadeiros pais  eram drogados. O meu pai vivia batendo na minha mãe e os dois viviam batendo no meu irmão. Felipe era mais velho e me defendia sempre que eles queriam bater em mim, ou seja, ele apanhava em dobro porque apanhava no meu lugar. O tempo passou e eu prometi para mim mesmo que sempre ia cuidar dele. Ele usa drogas, mas não é viciado e nem violento. Contudo, além dele usar ele vende drogas e é um líder de uma quadrilha e sim, isso me preocupa, porém ele é o meu irmão e eu não quero que ele seja preso, por isso cedi o almoxarifado  da minha loja para ele cozinhar, ele só cozinha lá.  Tudo para que ninguém  desconfie dele. Mas eu sei que estou fazendo errado e deveria entregá – lo para a polícia.”

Ele chora, seco as suas lágrimas, o beijo intensamente e seguro em sua mão:

“Thiago,eu preciso  ser verdadeira com você. O Felipe  não encontrou  aonde eu moro porque o meu imóvel não está no meu nome  e nem  no nome da minha mãe.  Está no nome da DE eu morarei lá até ser demitida ou pedir a demissão. Recebemos uma denúncia anônima de que você era o líder da quadrilha. Me chamaram para eu ficar com você e descobrir toda a verdade. Eu tinha 3 meses para isso. O barraco que eu fiz na sua loja foi armação, mas o que eu sinto hoje por você é verdade. Eu vou tentar te deixar fora disso, mas vou ter que contar a verdade para o meu chefe com relação  ao Felipe.  Eu peço desculpas, porém é o meu trabalho”.

Tentei manter o tom de tranquilidade, mas o meu coração  estava em pedaços, mas precisava ser verdadeira do mesmo modo que ele tinha sido comigo.

Ele larga a minha mão e parece incrédulo.

“Eu não acredito que esse tempo todo você passou me vigiando! Não acredito que essa porra está acontecendo! A única mulher que eu gostei de verdade é uma farsa! SAI DA MINHA CASA, JÚLIA!"

Eu comecei a chorar na frente dele, nunca tinha chorado tanto! Sequei  as minhas lágrimas e fui até o quarto. Quando estava terminando de arrumar as minhas coisas, ele subiu no quarto. Ele ficou me olhando. Eu ainda estava chorando e não o vi entrar.

“Júlia.” Continuei de costas, mas respondi.

“Eu já estou indo embora.”

“Fica...”

Virei  para ele. “Por que?” Estava surpresa com a mudança brusca de atitudes dele.

“Porque eu te amo, me desculpa pelas coisas que eu te falei. Estava nervoso. Eu não quero que você vá."

“É melhor eu ir, vou ter que contar para o meu chefe que o Felipe é o líder.  Você vai me odiar por isso e vai me odiar mais ainda quando eu prender o seu irmão .” Reuni todas as forças que eu tinha para respondê-lo.

“Júlia, é difícil  ter que admitir isso, mas eu sei que  deveria ter entregado o meu irmão para a polícia faz tempo. Isso é cuidar, isso é proteger. Eu não estou fazendo isso cedendo um espaço na minha loja para ele cozinhar. E se quiser eu o ajudo a prende-lo.”

O abracei. Queria tirar toda a sua dor com o meu abraço, queria sugá– la toda para mim.

“Deita aqui comigo, Thiago. Não pensa nessas coisas, não pensa em mais nada e dorme. Te amo muito".

Ele assim fez, fiquei fazendo cafuné  até assistir o meu anjinho  dormir.

De certo modo fiquei  aliviada hoje, tirei um peso enorme das minhas costas, mas não por completo. Thiago  é cúmplice. Acabei caindo no sono também.