Capítulo 2

25 7 0
                                    

O mercado estava muito vazio hoje. Primeiro porque estávamos em pleno inverno e as pessoas não tinham muitas coisas para vender e segundo porque ninguem tinha dinheiro para comprar nada.

Nós tinhamos 35 dólares para passar o inverno e eu não sabia por quanto tempo conseguiríamos sobreviver com isso.

Á nossa volta pessoas pediam ajuda, definhando de fome no chão. Elas pediam comida ou um casaco quente, era uma visão muito desesperadora e eu queria ajudar, mas minha situação não estava muito diferente. Me pergunto quanto tempo vai levar até eu me tornar uma dessas pessoas.

O tempo estava piorando e meu fino casaco de lã logo não conseguiria me proteger do intenso frio. Estava na hora de ir para casa, mesmo não conseguindo um emprego porque até mesmo as famílias ricas estavam abrindo mão do "luxo" de ter uma empregada. E também tinhamos conseguido pouca comida, pois nosso dinheiro era insuficiente.

- Cam, temos que ir. O frio está aumentando. - Digo me virando para ele.

- Mas só conseguimos algumas frutas. Não vamos durar muito tempo com isso. - Diz ele impaciente.

- Eu sei, mas se não voltarmos agora vamos morrer de frio.

- Deve ser melhor do que morrer de fome - Diz ele olhando as últimas pessoas do mercado recolherem seus pertences e irem embora.

- Você acha que eu também não estou com medo de morrer de fome naquela casa? - Digo com raiva e com os olhos vermelhos pelo meu choro reprimido. - Você acha que eu não quero achar uma solução?

- Eu sei, mas estou começando a achar que falhei em proteger você e foi a única coisa que seu pai me pediu. - Diz espelhando minha raiva.

- Me pai não tinha o direito de te pedir tal coisa, você só tinha dez anos e não era sua obrigação cuidar de mim.

- Seu pai me deu uma casa e comida - Agora ele está gritando - eu devo tudo a ele, pois eu estaria morto agora. Você não entende nada Valentina.

Antes que eu pudesse responder à sua explosão, uma figura surge entre as árvores. Cam instintivamente se coloca à minha frente.

- Calma crianças, eu não mordo - Diz o homem muito estranho de com vestes escuras e longas.

- O que você quer? - pergunta Cam, autoritário.

- Eu não pude deixar de ouvir a conversa de vocês e eu poderia ajudar. - Diz com eu leve sorriso macabro no rosto e só agora percebo que os seus olhos estão costurados. - Vocês estão com fome e eu conheço alguem que tem muita comida.

- Não precisamos de sua ajuda - Digo me colocando à frente de Cam.

- Não é o que o seu corpo magro está dizendo. - e dá outro breve sorriso macabro - seus corpos estão gritando por comida.

- O que você pode fazer para nos ajudar? - Pergunta Cam e eu olho confusa para ele, por dá atenção a esse homem.

- É o que vocês podem fazer para se ajudar - Diz o sujeito - Vendam suas almas para a rainha e ela lhes dará tudo o que precisam.

- O quê? - Pergunto perplexa - Cam, vamos embora agora.

Eu já ouvi histórias de pessoas que vendiam suas almas para rainha em troca de comida mas nunca achei que era verdade. Quem faria uma coisa dessas? Era loucura ser escravo de alguem por um prato de arroz, mas as vezes a fome mudava a pessoa.

Cam continuava parado olhando o sujeito vestido de negro e ele parecia o fitar também, mas com os olhos costurados era difícil dizer se o homeme estava realmente o fitando.

- Cam, vamos embora - Digo nervosa - Esse homem é louco.

- Não podemos ir embora Valentina. Vamos morrer naquela casa. - Diz ele com um tom de amargura na voz.

- E não podemos continuar aqui ouvindo esses absurdos. - Digo espantada com sua reação.

- Vá para casa, Valentina - Diz Cam sem olhar para mim - Eu vou procurar algo para comer. Eu volto ao anoitecer.

- Eu não...

- AGORAAA - Ele grita me interrompendo. Cam nunca gritou comigo daquela maneira e eu fico horrorizada com a sua reação.

O sujeito continua parado em meio as árvores e parece se divertir com a situação e tudo que eu faço é me colocar para o caminho de casa sem olhar para trás. Talvez tenham razão. A fome pode mudar as pessoas.

ValentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora