Capítulo 3

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         Já era quase meia noite e Cam não havia voltado. Eu estava com medo pelo o que ele poderia fazer e precupadas com as consequências de seus atos.

         E como se esperasse uma brecha, a porta se abre.

         Era Cam.
 
         Aonde você estava? - Pergunto preocupada, me atirando aos seus braços. - Quase fui atrás de você.

        Ele continua parado, sem dizer uma palavra, com os olhos distantes e só agora percebo as sacolas de comida em sua mão.

         - Onde conseguiu essa comida? - Pergunto, mas já sei a resposta.

      - Você vendeu sua alma. - Sussurro.

        - Me perdoe, Valentina.

        - Meu deus! - Digo e desabo no chão. Cam vendeu sua alma para a Rainha, uma mulher cruel e fria. Eu já tinha perdido meu pai e agora vou perder o único que eu amo. - Como você pôde fazer isso comigo?

        - Como eu pude? - Diz irritado. - Eu salvei sua vida. Tem comida aqui para todo o inverno - e joga as sacolas em cima de nossa mesa de madeira.

        - Você salvou minha vida e entregou a sua. Agora eu vou ficar sozinha. - Digo atordoada.

        - Valentina - Diz e se abaixa pegando meu queixo para que eu possa olhar nos seus olhos. - Eu te amo e faria qualquer coisa para não vê-la sofrer.

        - Mas agora meu coração está sofrendo. - Me esquivo do seu toque. - Como você acha que eu vou me sentir vendo você dar sua alma para a Rainha?

        - Eu sinto tanto. Gostaria de te dar a vida que você merece, mas parece que não sou capaz de fazer isso. - Diz com a voz um tanto rouca.

        - Cam? - Digo e ele olha bem no fundo dos meus olhos.

        - Sim? - Diz.

        - O que vai acontecer com você agora? - Digo sussurrando.

       Ele se levanda e vira de costas para mim, como se não pudesse me encarrar.

       - Eles virão amanhã me levar para que eu possa pagar minha divida.

       - Não! - Digo e começo a chorar copiosamente. Eu não posso suportar a ideia de Cam ter aue ser um escravo por minha causa. É como uma faca enfiada no meu peito e essa dor é muito forte.

        - Você vai ficar bem. Depois que e
o inverno acabar vá caçar e acumule comida durante a primavera. Você é uma sobrevivente, você vai conseguir. - Ele ainda não olha para mim e sem dizer mais nenhuma palavra ele se retira do cômodo. Me deixando chorando no chão congelado.

                       ____'''____

         A noite passou como um borrão. Não me lembro de nenhum detalhe. É como se nada tivesse acontecido. Era como se a única pessoa que sempre esteve ao meu lado não estivesse indo para a morte certa.

          - Não faça isso. Por favor - Eu imploro a Cam, enquanto ele se prepara para partir.

          - Já esta feito. Não posso mudar nada agora. - Diz com a voz amargurada.

          - Você vai voltar algum dia? - Pergunto enquanto a solidão invade minha alma.

         Ele para e demora para responder e quando eu acho que se passou uma eternidade, ele responde:

        - Eu não sei.

        Nesse momento eu sei que ele nunca mais voltará. Quem faz acordos com a Rainha nunca volta.

         - Eu tenho que lhe mostrar uma coisa. - Ele me tira do meu devaneio.

         - O quê? - Pergunto.

         - Seu pai me deixou uma coisa. Mas acho que não me servirá de nada agora. - Ele vai até um canto da sala e retira de uma taboa solta, que eu não sabia que existia, uma enorme espada dourada com o cabo de madeira. - Isso é para você.

          - A espada so meu pai - Digo espantada. Não a vejo desde meus oito anos. - Ele me ensinou a lutar com ela.

          - Quero que fique com você. Para a sua proteção. - Ele me entrega a espada.

          - Mas eu nem sei mais como lutar.

          - Algo assim você nunca se esquece. - Ele diz com um sorriso triste.

         Eu vou até a taboa solta e recoloco a espada lá.

         Nesse momento nossa porta é arrombada e cinco homens muito fortes, feios e com vestes certamente pertencentes à realeza entram em nossa pequena sala.

         - Cam August Tolkien? - O do meio pergunta - Você tem uma dívida com a Rainha Soberana do Norte e deverá pagá- la agora.

         - Sim, eu sei.

         - Nos acompanhe sem resistencia até o castelo ou deverá enfrentar as consequências.

         Cam começa a ir em direção aos homens, mas eu o interrompo.

         - Cam, não vá - E começo a chorar.

         - Eu tenho que ir meu amor, mas você irá ficar bem. Só faça o que eu te disse. - E repentinamente ele me dá um longo e demorado beijo. Um beijo de despedida. Um beijo de adeus.

         - Se os pombinhos já terminaram. Nós temos que levar um prisioneiro. - Diz um dos homens e pega Cam pelo braço à força, interrompendo o beijo.

          - Isso não é um adeus. - Digo a Cam antes de um dos homens produzir uma fumaça preta e todos desaparecerem diante dos meus olhos.

       

       

        

ValentinaOnde histórias criam vida. Descubra agora