Episódio 17

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                Quando o motoboy estacionou o veículo de traslado em frente da Delegacia do Setor 12, ainda acreditava que estava atravessando uma fase de muita sorte. Primeiro, conseguira tomar a bordadeira do outro motoboy, e isso o segurara no emprego no Condomínio Fortificado Atlântica Sereia. E agora, intermediar uma aquisição do DELEX iria lhe garantir uma boa comissão – mesmo descontando a mordida do gerente do Departamento.

Então, foi logo na entrada que tomou o esbarrão de Bazu que o projetou de costas no chão. O policial, transtornado, o agarrou pela gola da jaqueta e suspendeu-o, berrando:

- O médico! Você é o desgraçado do médico?

Em pânico, o motoboy (que, por ironia, estava dirigindo uma camioneta com caçamba, neste serviço extra, e não sua moto), sacudiu a cabeça negativamente. Bazu atirou-o longe e correu de volta para dentro. Sobre uma mesa, Zuca estava se contorcendo feito uma serpente, com o peito e o estômago varado de bala. Era inacreditável a quantidade de sangue que jorrava de seus ferimentos. Junto da mesa, Zeromeia e Zerossix comentavam justamente isso, se perguntando quanto mais sangue o policial baleado poderia perder, quando Bazu debruçou-se sobre ele, os olhos esbugalhados, os punhos cerrados de fúria, a voz rouca:

- O pessoal do Condomínio prometeu mandar um médico. Aguenta, Zuca. Só mais um pouco. Não me deixa! Somos a Grande Dupla, lembra?

- Não contaria muito que esse tal médico viesse da Zona Oeste até aqui só para atender uns tiras baleados, sabe? – atreveu-se a comentar Zerossix.

Bazu voltou-se para ele com um rugido que fez o delegado se encolher, sobressaltado. Havia outros policiais da 12ª feridos, mas nenhum com a gravidade de Zuca, que, no auge da excitação, não se contivera e saltara de dentro do blindado, com a metralhadora, e por isso recebera uma rajada em cheio do blindado adversário.

- Eu avisei para vocês não se meterem no território da 5ª! O pessoal da Delegacia do Centro leva concorrência a sério. Eu avisei!

- Mas nós chegamos primeiro! – berrou Bazu. – Dois bandos de pivetes se matando. Nessa escassez de presas, não dava pra desperdiçar, não é? Quando começam a brigar, ficam loucos. Não se separam nem com a gente caindo com as redes em cima deles. E aí? Íamos esperar os bonecões da 5ª chegarem?

O motoboy entrou, hesitante, na delegacia. A cena daquele homenzarrão numa mesa, estrebuchando, e do outro agarrado nele, já ensopado de sangue também, às lágrimas, o assustou. Mas, com esforço, conseguiu se convencer que, se aquela confusão toda não era com ele, devia era tratar de seu negócio ali e sair o mais depressa que pudesse.

- E daí? – berrou de volta zerossix, já encarando Bazu. – Os bandos andam sem comida! Estão se pegando toda noite. Deveriam esperar uma chance aparecer no nosso território. Vocês bobearam!

- Seu cretino! -, vociferou Bazu, partindo para cima do delegado. Zerossix desceu a mão ligeiro para o coldre e sacou sua pistola. Bazu foi agarrado por Zeromeia e outros. Por instantes, ainda se debateu, urrando de ódio e frustração, mas em seguida acalmou-se. Pelo menos, um pouco.

- O pessoal da 5ª já chegou atirando em nós. Nem se preocupou com os moleques. O Zuca saiu do blindado... foi mal... mas eles provocaram. Quem eles pensam que são? Zuca furou uns três, antes de o pegarem. Canalhas!

- Era o território deles. Vocês estavam invadindo. Não podiam capturar presas que eram deles!

Foi quando o motoboy resolveu que tinha de tentar chamar alguma atenção, ou ficaria ali para sempre, assistindo à discussão. Aproximou-se então de Zerossix e arriscou:

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