sete; oportunidades
75 KM DE DISTÂNCIA
53 MINUTOS PERDIDOS
0 ARREPENDIMENTOS
Brisas aprazíveis, tonalidades amenas e acolhedoras. A sensação inexplicável de liberdade a percorrer todos os meus vasos sanguíneos, juntamente com a ligeira adrenalina conseguia acalmar o meu estado de espírito, independentemente da situação. A forma como poderia observar a subtileza e magnificência das paisagens citadinas sem ser impedido por um vidro, a maneira como poderia colocar a minha segurança em perigo somente com uma distração, as direções tomadas à última da hora, as trocas de olhares através do retrovisor, os cumprimentos entre motoqueiros desconhecidos e os contornos no meio do trânsito infernal, faziam-me reviver o quanto venerara os escapes nas viagens de mota. Porém, desta vez, o cenário era completamente diferente. Alinhara nas suas palavras pronunciadas quase como uma melodia e juntara o seu toque discreto e trémulo no meu tronco às viagens sem destino. Decerto que estaria a agir de forma impulsiva contudo, as memórias que atormentavam a minha mente negavam a minha decisão duvidosa.
Encaro novamente a minha face pálida e carregada de sinais de cansaço no espelho danificado, ignorando o jovem rapaz que escrevia uma frase fútil com o seu marcador negro numa das portas do sanitário. Necessitava de assimilar toda a informação de forma coerente e prática. Com os punhos pousados nas bermas do lavatório, questionara-me da crueldade e frieza das palavras que transmitira a Isa e a sua possível reação quando denotasse a minha ausência. O que estaria a fazer, neste exato momento? Rendido aos meus pensamentos absurdos, refresco o meu rosto com a água refrescante do lavatório, abandonando finalmente o espaço.
– Voltei. – declaro, sentando-me no sofá desconfortável enquanto observava a jovem entretida a reler os papéis perdidos nos bolsos do meu casaco.
– Com que então, és uma obra de Siena... – ela murmura, relendo o certificado que recebera após o primeiro ano de universidade juntamente com os papéis do concurso que participara recentemente.
– Na verdade, a minha cidade natal é Veneza. – informo, esfregando as minhas mãos nos meus braços gelados, uma consequência de ter oferecido o antiquado casaco à rapariga. – Mas uma Veneza pura, sem rancores, incógnitas, delírios e sisuda.
Posiciono o meu queixo sob a palma da mão, analisando as gotas fortíssimas que embatiam contra o vidro do lote comunitário. Os seus silêncios prolongados geravam ambientes embaraçosos. Não saberia em que assunto discutir sem desconfiar da possibilidade de receber um comentário inconveniente. Não a conhecia. Ela impedia que a conhecesse. Semicerro os olhos que ameaçavam não resistir a mais esforços da minha parte em permanecer acordado, mirando discretamente as suas feições morenas e atentas aos meus textos entediantes para o concurso regional.
– Porque é que estás comigo? – ela inquere, pousando o seu olhar destemido na minha expressão cismática. – Quer dizer, porque é que alinhaste neste rumo sem planos?
– Acho que todos merecemos oportunidades.
– Mesmo que seja um erro? – Rya insinua, demonstrando-se abismada com a minha justificação pouco plausível.
– Independentemente disso.
Novamente desvio a minha atenção da sua figura marcante, analisando totalmente todos os pormenores do café pouco sofisticado da paragem de serviço. Os candeeiros que transmitiam uma luz débil e amarelada, o azulejo angustiante que revestia o extenso chão, as mesas distribuídas de forma desorganizada, o enorme balcão que ocupava a maioria do espaço, as três máquinas de jogos encostadas à parede com inúmeras fissuras e a pequena papelaria que se encontrava fechada. Identifico o som incomodativo da campainha ao denotar a presença de outra pessoa para além do jovem rapaz admirava a vitrina que cobria os bolos do balcão. Agarro na ementa exposta na mesa, tentando abstrair a minha mente dos assuntos maçadores que me levavam a interrogar sobre a minha disposição.
– E agora, quais são os teus planos? – interrogo, encobrindo as minhas bochechas com menu plastificado.
– Não existem planos, somente uma estrada, um transporte, duas pessoas e pouca sanidade.
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Overtime · cth
Fanfiction{book 3} ❝Nós estávamos fora de tempo. Em geral, na verdade. Nem mesmo os relógios de pulso que quebravam os nossos momentos lúcidos recorriam à mesma hora; uns segundos a mais, uns minutos a menos. Nem mesmo os batimentos cardíacos que emitiam as...