O terceiro passo

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A noite passou mais depressa do que eu esperava.
O Luís acordou demasiado cedo para o meu gosto, e pior! Acordou-me demasiado cedo.
Luís- Levanta-te, não temos tempo a perder!
Íris- Mas tu tens a noção de que não vai adiantar de nada começar-mos cedo se estivermos cansados e com sono?
Luís- Mas eu estou enérgico e nem um pouco cansado
Íris- Mas eu estou cansada e com sono!
Luís- Vá lá...
Suspiro.
Íris- Muito bem. (dando-se por vencida)
Luís- Ótimo! Por onde começamos?
Íris- Vamos fazer um visita a Aul.
Luís- Aul? Porquê?
Íris- Porque sim. Agora vamos!
Saímos. (mesmo sem tomar o pequeno-almoço)
... 2h depois ...
Luís- O que é que estamos aqui a fazer afinal?
Íris- Eu quero que tu vejas com os teus próprios olhos as consequências dos teus atos.
Luís- Mas eu quero mudar.
Íris- Para mudar precisas destruir. Aposto que nunca viste nada além do centro em Aul.
Ele balança a cabeça negativamente.
Íris- Pois... Em Agalesia existe muito mais do que Aul e outras cidades que deves conhecer, para te mostrar isso vamos visitar o submundo de Agalesia.
Luís- Submundo de Agalesia?
Íris- Sim, todos os reinos têm pelo menos 1.
Luís- Ainda não entendi.
Íris- Segue-me e vais entender.
Sem argumentar muito Luís apenas seguiu-me até que chegarmos a uma rua estreita, com o piso deteriorado e edifícios com paredes cinza sujo e alguns sem abrigo a pedir esmola na calçada.
Luís- Que lugar é este?
Íris- O submundo de Agalesia.
Nenhum som foi produzido, mas o olhar e a expressão de Luís foram o suficiente para que eu podesse ver o quão difícil era para ele, estar a ver um lugar assim pela primeira vez.
Luís- Eu sou responsável por isto?
Íris- Não. Pessoas consumidas pelo desejo de ganância, vingança, morte e/ou com medo é que criam lugares como este. Isto sem se aperceberem, o que faz com que a situação se agrave a cada dia que passa.
Luís- Como é que isto passa despercebido?
Íris- As pessoas sabem, apenas não falam com medo de acabarem como eles e por ser um assunto bem infeliz na verdade.
Luís- Eu não imaginava.
Íris- Ninguém imagina. Ou estás aqui ou nunca saberás realmente como é.
Luís- Porquê é que eu estou aqui?
Íris- Isso cabe-te a ti descobrir.
Vou saindo em direção ao centro deixando para traz um Luís confuso e estático.
...2 horas depois...
Eu estava cansada e com fome mas não iria deixá-lo ali sozinho (por mais que me apetecesse)
Com as costas apoiadas numa parede e sentada na calçada suja, lá estava eu, ainda á espera do Luís, que ainda se estava a adaptar a ver a vida de olhos abertos para as consequências que ele mesmo tinha ignorado por tanto tempo...
Luís- Íris. (chamou quase num sussurro trêmulo)
Íris- Sim Luís?
Luís- Como é que eu saio daqui?
Íris- Já descobris-te porque é que estás aqui?
Luís- Já.
Íris- E então? Porque é que estás aqui?
Luís- Porque deveria estar aqui.
Íris- Achas-te merecedor desta pena?
Luís- Sem dúvida. Eles não deveriam estar aqui, eu deveria estar aqui. A culpa é toda minha.
Íris- Achas mesmo que o crédito é só teu?
Luís- Íris! Eu sei quem são estas pessoas! Eu sou responsável pelo seu tormento aqui.
Íris- Não sejas tão dramático.
Luís- Se este não era o objectivo, porque é que me trouxeste aqui?
Íris- Por isto mesmo!
Luís- Isto o quê? (grita irritado)
Íris- Ainda não entendes-te pois não?
Luís- Estás a deixar-me cada vez mais confuso com esta história Íris! Vai directa ao ponto!
Íris- Estás a sofrer ao ver isto, certo?
Luís- Certo.
Íris- E estás irritado?
Luís- Sim.
Íris- Isso chama-se compaixão.
Luís- O quê? (cada vez mais confuso)
Íris- Compaixão. Um dos maiores e mais importantes sentimentos que um ser humano pode e deve sentir! Estás a transformar-te no teu verdadeiro eu! Como prometi.
Luís olhava-me confuso mas pensativo.
Íris- Não é difícil de entender.
Luís- Não me podias ter dado um discurso ou assim? Tinhas de me trazer aqui.
Íris- Luís, ambos sabemos que eu poderia ter passado o dia todo a discursar, a dar-te todos os argumentos possíveis e imagináveis para que tomasses consciência disto, mas não seria a mesma coisa.
Luís- E agora? O que é que eu faço agora? Diz-me!
Íris- Agora eu vou para minha casa, enquanto que tu vais começar de novo, e fazer o que achas melhor para ti e para eles.
Luís- Tu não me podes deixar assim!
Íris- Posso sim. Nunca pensei sequer em dar-te aquilo que querias. Estou a dar-te exatamente aquilo que precisas.
Luís- Mas...
Íris- Espero que encontres o teu final feliz...
Ele não teve tempo de responder, eu apenas saí dali e fui em direção á torre vermelha, o Sima já teria o terceiro passo meu plano em prática.

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