Quem sou eu?

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Descemos as escadas na companhia de um silêncio que permaneceu conosco durante todo o jantar.
Depois de acabar de comer...
Luís- Como foi o teu dia? (quebrando o silêncio que ainda permanecia naquela sala)
Íris- Foi bom.
Luís- Só isso?
Íris- Estavas á espera de quê?
Luís- Algo mais concreto e esclarecedor. Talvez uma simples inumeração de acontecimentos do teu dia.
Íris- Muito bem, depois de ti.
Luís- Tens interesse em saber como foi o meu dia?
Íris- Sem dúvida.
Luís- Depois de ti querida.
Íris- Ok.(respira fundo) Deixa ver... Acordei, vesti isto por não ter outra opção, (apontando para as suas roupas) falei contigo, falei com a Claire, tomei o pequeno-almoço, conversei um pouco com os meus guarda-costas antes e depois do almoço, lanchei, dormi uma sesta e tu acordaste-me, falámos e jantamos. Tua vez.
Luís- Não me mintas, eu sei que a Claire saiu e tu esperás-te-a pacientemente. Agora diz-me porquê.
Íris- Pensa um pouco Luís. O que é que eu faço com a maioria das roupas que tu me fazes usar?
Luís- Dizes que as odeias e arranjas novas.
Íris- Novas?(ri com deboche) Tu não me conheces mesmo pois não?
Luís- Ai é? Então como é que estás sempre vestida de forma diferente?
Íris- Eu apenas pego num pouco de tecido, uma agulha, uma tesoura e uma linha e transformo a tua falta de estilo no meu estilo.
Luís- Mas... Isso não explica o que é que a Claire foi fazer!
Íris- Eu pedi-lhe que fosse ao mercado e me trouse-se um pouco de tecido para que eu pudesse mudar um pouco esta... coisa. Obviamente não consegui, isto porque ela chegou um pouco tarde e eu estava cansada demais para o fazer.
Luís- Muito bem! Mostra-me o tal tecido. (levantando-se da cadeira)
Íris- Estás a pensar que foges á minha pergunta?
Luís- Primeiro vais confirmar toda essa história.
Íris- Primeiro! (quase gritei) O que é que fizes-te hoje?
Luís- Eu conto e tu confirmas a tua história, por que senão (aproxima-se perigosamente dela) a tua amiga irá ser julgada como traidora, e tu sabes que eu não perdou-o traidores.
Íris- Tua vez!
Luís- Ok. Deixa cá ver... Acordei, vesti-me, falei contigo, fui acabar com os negócios "ilegais" assim como me pedis-te, voltei para casa, acordei a minha linda flor e passei com ela um maravilhoso serão.
Íris- Acabas-te com todos os negócios ilegais?
Luís- Todos! Agora vamos lá ver como é que queres que seja a tua roupa de amanhã. (estendendo a mão)
Apenas segurei-lhe a mão e fomos em direção ao meu quarto onde já tinha todas as "provas" preparadas naquela tarde com a ajuda do Sima e do Connor.
Luís- Onde está?
Íris- Aqui! (abrindo uma gaveta cheia de tecidos de linho com cor azul e castanho)
Ele pega nos pedaços de tecido e começa a revirar a gaveta em busca de algo mais.
Íris- Contente?
Luís- Ela trouse-te aquele que querias?
Íris- Infelizmente não, mas é parecido não achas. (pegando dois tecidos azuis ligeiramente diferentes)
Luís- Sem dúvida, são muito parecidos.
Íris- Pois é. (colocando-os de novo onde pertencem)
Luís- Desculpa-me por ter duvidado. Apenas... Tive medo.
Íris- Medo de quê? Temos um acordo, lembras-te?
Luís- Eu gostava que me pudesses ver de outra maneira.
Íris- Também eu, talvez um dia.
Luís- O que é que eu tenho de fazer para ter um pouco da tua confiança?
Íris- Queres a minha confiança?
Luís- Quero!
Íris- Liberta os dragões, todos eles. Esse seria uma sacrifício honrado que eu admiraria muito.
Luís- Se eu os libertar tu vais fugir com eles e eu não te posso perder, de novo.
Íris- Ai está ele, o Luís que eu conheço. Aquele que quer a minha total confiança mas não que não confia em mim.
Luís- Eu só não te quero perder.
Íris- Não podes perder algo que nunca foi teu.
Luís- Não! Tu já foste minha. Tu já me amaste assim como eu te amo.
Íris- Luís ouve-me! Eu nunca fui tua e eu nunca te amei isso porque eu sempre soube quem tu eras e quem tu és. Mas tu tens toda a razão do mundo quando dizes que os meus sentimentos podem mudar. Podem! Mas não antes de ti e eu não te posso mudar. A mudança está em ti e no teu coração! Á alguém, por ai que te vai amar sem que tenhas de mudar um fio de cabelo que seja mas essa pessoa não sou eu.
Luís- Mas se não és tu, quem será?
Íris- Eu não sei e nunca poderei saber. Isso é algo que só tu podes saber, algo que nunca será teu se não deixares para trás o ódio e o medo que te mudam e transformam em alguém que tu nunca foste realmente.
Luís- Então diz-me! Quem sou eu?
Íris- Essa pergunta é uma das maiores jornadas da vida. Por norma não tem um fim, isso porque mesmo quando já sabes a resposta á pergunta, a viagem acaba por se tornar algo tão bom que te faz não querer parar nunca.
Depois de ouvir tudo o que eu lhe disse, o Luís senta-se na cama.
Luís- Tu já começas-te a tua?
Íris- Sim.
Luís- E tens a resposta?
Íris- Sim.
Luís- E é bom?
Íris- O quê?
Luís- Saber a resposta.
Íris- É ótimo.
Luís- Quando é que achas que posso começar a minha jornada?
Íris- Agora.
Luís- Tenho alguma possibilidade de conseguir alcançar a minha resposta?
Íris- Tanta quanto eu e eu consegui a minha.
Luís- É difícil?
Íris- O início sim.
Luís- E depois?
Íris- Depois abituas-te, ai aquilo que um dia foi difícil torna-se fácil, isso porque percebes finalmente que a única coisa que realmente tens, sempre tiveste e sempre vais ter é a ti mesmo e tudo o resto deixa de ser tão importante.
Luís- Estás a dizer que é nisso que consiste essa jornada? Aceitar-mo-nos a nós mesmos?
Íris- Exactamente! Não tens de mudar, tens de aceitar quem tu realmente és.
Luís- Se eu aceitar quem sou achas que eu posso finalmente encontrar o amor?
Íris- Tenho a certeza absoluta.
Luís- Sabes... Havia uma menina. Ela era pobre e não tão esbelta assim mas eu gostava dela. Era a filha do padeiro e isso bastou para que a minha família não pensasse duas vezes antes de me proibir voltar a vê-la. Hoje eu poderia encontra-la facilmente e finalmente falar com ela, mas tenho medo.
Íris- Sem medo não há coragem.
Luís- Então acho que me falta coragem.
Íris- Talvez... Mas a coragem é um bem que podes adquirir com esforço e prática.
Luís- Estarias disposta a ajudar-me?
Íris- Estarias disposto a libertar os dragões e a acabar com o nosso acordo se tudo der certo?
Luís- Se tudo der certo, o acordo fica anulado e os dragões são libertados
Íris- Muito bem! Começamos amanhã.

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