Tatuagem

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ZELINA ABDERUS CHEGOU A IRTA, capital do Reino Markien, ao alvorecer com a imagem de uma linda jovem loira, de olhos azuis e ar de menina abastada apesar da roupas rotas. e encardidas do sol.

Passou a manhã a tentar angariar clientes para o talismã de Surry, a rainha perdida. Mas ninguém lhe dava prata suficiente para a replica perfeita que seu irmão,xerves, teve tanto trabalho a fazer.

- Quarenta pratas e um beijinho. - disse um lorde, com bafo a vinho e tabaco. Suas barbas deixavam cair gotas de suor no seu fato verde com apontamentos dourados, que fazia lembrar uma alface queimada pelo sol.

Zelina sorriu inocentemente e piscou os grandes olhos azuis - Humm... Creio que serve, meu lorde.

Aproximou-se para o beijar, sentindo aquele cheio nojento e viu as gotas de suor a cair cada vez mais perto de si. O lorde fechou os olhos e Zelina inspirou pela boca para não ficar enjoada e deu-lhe uma joelhada, na grande barriga, e sentiu algumas das gotas em seu pescoço, rapidamente tirou-lhe o saquinho de veludo cheio de prata e pôs-se em fuga.

- Apanhem-na! - ouviu-se o lorde dizer.

Mas já era tarde demais, quando Zelina se metia em fuga ninguém a conseguia apanhar. Ziguezagueou pela multidão como um gato, virou na esquina mais próxima e correu até outra, onde encontrou um beco sem saída, com um monte de lixo, escondendo-se atrás deste, puxou o capuz da capa para disfarçar a transformação, tirou da sua bota uma garrafa em miniatura com um liquido roxo e bebeu.

Gemeu e pôs as mãos na cara como se algo a estivesse a queimar e, sem mais nem menos, a menina de olhos azuis desapareceu, dando a conhecer uma morena de olhos de avelã.

Saiu do seu esconderijo e foi até a esquina, vendo os guardas a correr pela rua à procura da menina loira. Nem olharam duas vezes para ela.

Deixou-se ficar na ponta da esquina a ver os comerciantes passar e a ouvir as boas novas de Irta.

Desde que o Rei Melanthius morreu que o assunto é sempre o mesmo, a Coroação. O antigo Príncipe e agora Rei, Melanthius II, não era muito adorado pelo povo, assim como o seu falecido pai. "É um tirano que só pensa em guerra", "Dou-te um ano e Rivielli está conquistada", "Naquela família ninguém presta, esta-lhes no sangue".

Bem, nada de novo, constatou Zelina, até que o seu olhar foi para a parede à sua frente, repleta de anúncios de serviços e os famosos "procurados" de todo o reino.

Lentamente, avançou para olhar melhor para os desenhos e recompensas.

E ali estava ela. Fez o seu sorriso trocista ao ver a sua imagem. O cabelo comprido e castanho era de facto o seu original, os lábios carnudos, um pouco exagerados demais, e o formato dos olhos de gata também,mas roxos? Olhos roxos? Quem é que tem os olhos roxos?

Uma gargalhada saiu da sua boca, fazendo duas mulheres, que passavam, parar para a observar mas seguiram caminho assim que Zelina as presenteou com um olhar feroz.

"Olhos roxos... Idiotas..." pensou. Toda a descrição estava quase perfeita, só que ela não tinha olhos roxos mas sim azuis, intensos, como safiras.

Passou o seu olhar para a mensagem em baixo da imagem.

Zelina Abderus, a assassina, ladra, falsificadora, entre outros.

"Entre outros? Mas o que querem eles dizer entre outros?"

Grande recompensa do Rei Melanthius II.

Ela assobiou.

O novo Rei estava a oferecer uma "Grande" recompensa por ela. Das duas uma ou mata a pessoa que a encontrar ou um titulo e terras serão depositadas em nome do grande felizardo.

União dos AssassinosOnde histórias criam vida. Descubra agora