Proposta

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- LOUCOS SÃO AQUELES QUE ACREDITAM EM DEUSES. Eles não querem saber de nós. Somos bastardos, sem importância, imperfeitos.

Algumas pessoas paravam para ouvir o profeta esquizofrénico, até o lorde, que Zelina perseguia a mais de meia hora, parou à frente do palco improvisado feito de caixas de fruta.

O mercado encheu-se rapidamente depois do macabro espectáculo patrocinado pelo Rei, as bancas já estavam repletas de especiarias, tecidos, doces, os comerciantes berravam preços apelativos e chamavam os fregueses. A Grande Arena era vizinha do mercado por isso havia mais gente do que o habitual, o que fazia com que Zelina tivesse que redobrar a sua atenção para não perder o homem de vista.

- Eles estão a chegar. Eles não terão piedade de nós, seres sem luz. - o maluco olhou para Zelina. Encarou-a durante um segundos e arregalou os olhos.- Eles já andam entre nós! - saltou do palco e ajoelhou-se no chão, abriu os braços para o céu, numa representação bem dramática. - Acudam-nos Deuses das Montanhas Aladas! Ajudai-nos, é somente o que vos peço.

Zelina revirou os olhos. Primeiro diz que os deuses não nos ajudaram e agora pede-lhe ajuda.. por favor..

Depois disso o lorde também deve ter perdido o interesse na profecia e continuou a andar pelas bancas, pegando em coisas e abandonando-as de seguida.

*

Já estava à muito em cima de um telhado de um prédio olhando para a confusão la em baixo e longe dos gritos ensurdecedores dos comerciantes. Sentia-se a suar por debaixo das camadas de roupa e couro, e pesado derivado ao arsenal de armas que trazia consigo.

Continuava a observar a multidão, que era muita, mas não havia sinal do lorde. Nunca marcava um sitio especifico. Marcava num lugar e ele é que ia ao encontro da pessoa. Assim não haveria surpresas desagradáveis.

E lá estava ele, com a sua capa verde e boina a condizer. Detestava-o. Era um lorde falido mas orgulhoso. Na corte ninguém sabia que perdera a fortuna - e a filha, vendida a um bordel- para pagar a divida do seu vicio do jogo. Mas aquele rato, era o único que conseguia comprar naquela corte e não era barato mas dinheiro nunca foi um preocupação.

Preparava-se para cobrir a sua cara com a mascara quando a avistou.

Ela tinha uma luz qualquer, algo que ele nunca percebeu, mesmo quando ela estava enfeitiçada, no corpo de outra mulher, ele sabia quem era ela. Zelina.

Umas horas atrás, quando limpava o sangue da arma, que utilizou para matar o conselheiro, tinha decidido mata-la. E agora la estava ela a perseguir o seu espião.

Meteu a mascara no bolso. Hoje não haveria conversa com o lorde.

- Chegou a hora. - sussurrou.

*

Com as pontas dos dedos a tremer, fechou as mãos, sentiu ocasionais arrepios nos braços e um aperto no coração, isto tudo começou no momento em que deixou o palco improvisado do profeta.

Ela conhecia muito bem aquela estranheza. Uma das razoes por nunca ter sido apanhada era por causa disso mesmo.

Estava a ser seguida.

Parou e ajoelhou-se. Fingiu ajeitar a bota e tirou uma faca, que roubou no café da manha, enfiando-a na manga do vestido.

Desistiu de perseguir o lorde. Quem quer que esteja atrás dela não será, certamente, para coisa boa.

Virou na esquina e esperou.

*

Ela tinha deixado de perseguir o lorde. Talvez fartara-se, ia agora em direcção a um beco. Estranho.

União dos AssassinosOnde histórias criam vida. Descubra agora