Marcas Diferentes

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UM MILHÃO DE PENSAMENTOS VOARAM pela mente de Zelina quando acordou - lembranças do dia de ontem. O espectáculo na Grande Arena, a conversa, proposta e aliança com o assassino de Markien, a luta com Rafinia, o veneno, a conversa com aquele Rei asqueroso e por fim, ter conseguido dormir com Daemon ao lado.

Deveria estar realmente exausta para ter adormecido.

E aquele toque no rosto...

Foi um sonho. Melhor dito foi um pesadelo horrível.

Ele não lhe podia tocar. Para quê ter um jeito daquele género com ela? Não se conhecem, mal falam.

Foi um pesadelo, um pesadelo.

A discussão na sua mente podia ter durando ainda uns minutos mas algo, em cima da sua mesa de cabeceira, prendeu a sua atenção.

Sentou-se na cama e viu um envelope branco com uma palavra escrita.

Mana.

Xerves. Era uma carta de Xerves. Era a letra dele, constatou.

Agarrou-a com as mãos a tremer. Lágrimas já queriam sair dos seus olhos. Abriu o envelope rapidamente e leu.

Mana,

Sei que as vezes demoras muito tempo no teu trabalho mas desta vez algo deve se ter passado.

Tenho senhores a rodear-me a casa. Senhores com armaduras e espadas, daquelas que costumas usar.

Eles invadiram a casa e tiraram todas as tuas armas, está tudo desarrumado. A tua colecção de livros, que eu pus por ordem alfabética, estava toda no chão mas já a organizei. E a cozinha também, os talheres numa gaveta, os copos grandes atrás e os pequenos à frente, no armário ao pé do lavatório, esta quase tudo organizado.

Eles não me deixam sair, mana. Nem deixam entrar a nossa amiga que trás os medicamentos.

Já fiz mais um quadro mas a tinta esta a acabar.

Quando voltares trás mais, mana.

Preciso de tinta para pintar.

Xerves

Zelina chorava. Soluçava, releu a carta vezes sem conta.

E continuou a chorar ate as aias entrarem no quarto passado uma hora.

*

Vaias e gritos furioso se faziam ouvir na multidão enquanto os guardas conduziam um homem de roupas modestas para a plataforma de execução, que ontem montaram bem no meio do mercado.

Algumas pessoas atiravam-lhe com frutas podres, outras cuspiam insultos e maldiçoes. Pessoas que se vestiam com trapos, sapatos gastos e de aspecto porco. Tantos pobres e desesperados que foram ver um dos seus morrer por ter roubado uma peça de roupa num estendal.

O homem subiu a plataforma, onde o executor se encontrava, tinha a cara tapada para não sofrer represálias.

Esperto. Embora para Laetes, que o observava no topo da igreja, não fosse assim tão esperto.

Para ele que compactuasse com aquela lei ridícula do rei deveria morrer.

Por ele, todo Markien devia desaparecer do mapa.

*

Zelina andava por corredores e mais corredores ate finalmente encontrar a entrada da cave. O guarda cedeu-lhe a passagem sem nada perguntar.

União dos AssassinosOnde histórias criam vida. Descubra agora