Rafinia

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- TIREM-LHE TUDO O QUE ELA TEM. - Foi tudo o que o príncipe disse às criadas, de aparecia modesta, que os esperavam à porta da sala do trono. Virou-lhes as costas e foi embora. Parecia furioso. Zelina poderia ter ficado satisfeita, visto a vida de Daemon não estava a correr tão bem assim mas não, o irmão assombrava-lhe os pensamentos.

As duas mulheres apresentaram-se como suas aias pessoais. A mais jovem atendia pelo nome Nia, era muda, explicara Briseida, a mulher mais velha com rugas vincadas no rosto. Encaminharam-na por corredores que Zelina nem se deu ao trabalho de decorar, pois na sua cabeça só havia Xerves.

Ele estava em perigo. A mercê dos caprichos daquele rei cruel e desequilibrado, assim como ela. O que aconteceu naquela sala foi só uma amostra, já ouvira histórias piores sobre o rei. Por isso, mesmo lhe garantindo que Xerves estava vivo, as palavras daquele homem não a descansavam. Ela tinha de apanhar o assassino mas antes de o fazer tinha de arranjar um plano para pôr seu irmão em segurança, longe das garras do rei.

Sabia muito bem o que o príncipe queria dizer quando ordenou as criadas para que lhe tirassem tudo. Pois, apesar de os guardas a terem revistado, Zelina ainda tinha cerca de oito garrafinhas de poção espalhadas pelo corpo. Poções essas que lhe dariam jeito no castelo, por isso tinha de guardar algumas sem as mulheres perceberem.

Chegaram finalmente a uma porta, igual a todas as outras por que passaram, grande e forte. Abriram-na e deixaram Zelina entrar primeiro.

O que a jovem viu deixou-a de boca aberta, o quarto era enorme, todo pintado de branco mas cheio de apontamentos dourados, um lustre magnifico pendia do tecto reflectindo a luz que vinda da grande janela aberta, com as cortinas a esvoaçar. E a cama... a cama dava pelo menos para cinco pessoas, cheia de almofadas cremes e brancas com bordados.

- Para cortesã, estou muito bem instalada. - murmurou.

- Menina, é a cortesã do príncipe, merece ser bem tratada. - disse a criada mais velha. - Tem de ser despir, menina.

Zelina virou-se para ela - Com certeza. O quarto de banho é naquela porta, suponho?

As criadas entreolharam-se e a mais velha falou - Tem de ser despir à nossa frente, menina.

- Perdão? - disse Zelina escandalizada.

- São as ordens do príncipe.

Uma fúria cresceu dentro dela. Queria esconder as poções. Tinha de as esconder, pelo menos duas delas.

E de um momento para o outro, uma ideia surgiu na sua cabeça.

- Acho que não me estou a sentir bem...- disse a jovem, fingindo estar a perder as forças.

As mulheres correram para a amparar, até que a mais velha disse para Nia ir buscar um copo de água enquanto a encaminhou para a cama.

Óptimo. Muitas almofadas.

Deitou-se na cama, contorceu-se e tirou uma garrafinha da bracelete de couro, metendo-a em seguida no meio das almofadas, longe do olhar de Briseida - Creio que estou a ter uma quebra de tensão. Poderia fechar só um pouco as cortinas? Esta luz esta-me a fazer confusão.

A aia assim o fez. Bingo.

Rapidamente, Zelina retirou do seu espartilho mais duas garrafas e guardou-as continuando o teatro em seguida.

*

Nuvens de pó de arroz, jóias, pérolas no cabelo entrelaçado, perfume, sapatos e vestido. Formaram as três horas de loucura e stress no quarto de Zelina.

União dos AssassinosOnde histórias criam vida. Descubra agora