Candidato a Obreiro
"Fiel é a palavra. Se alguém aspira ao Episcopado, excelente Obra almeja."
1 Timóteo 3.1
Eu acreditava naquela época que a direção da Universal ignorava o Grupo Jovem, que éramos responsáveis por tudo na igreja e que os Obreiros não faziam simplesmente nada. Tinha certeza que a diferença entre nós e os Obreiros era que "apenas" não expulsávamos demônios. Eu me achava o cara!
Como Jovem novo convertido, eu me sentia tão responsável quanto um Obreiro... mas não era... ser Obreiro me abriria as portas. Então me candidatei a Obreiro!
Quando me candidatei, tinha mais ou menos 01 ano e 02 meses de convertido, fazia parte do Grupo Jovem e motivo não me faltava para querer ser levantado. Aos domingos, eu costumava assistir o culto das 7h da manhã e obrigatoriamente o culto das 15h. Eu gostava mais do culto das 15h que o culto das 7h, por que era um culto completo com libertação e busca do Espírito Santo.
Muito me lembro dos cultos das 7h. Lembro-me por exemplo, que era o culto principal e que acabava às 10h. Em 1990 o culto era feito pelo Pastor Randal e terminava fielmente às 10h. Como a Universal do bairro Padre Miguel era pequena, metade do tamanho que tem hoje, comportava umas 600 pessoas sentadas naqueles grandes bancos de madeira de lei.
Geralmente o culto era cheio e quando lotava eu tinha que me levantar. Na verdade, vinha o Obreiro Joel (Chefe dos Obreiros na época), olhando pra mim e dizendo: - Meu filho dá seu lugarzinho pros mais velhos, dá? E eu me levantava de cara emburrada por que eu não queria dar lugar aos mais velhos e quanto menos os visitantes (que coisa feia!)
Como Candidato a Obreiro, eu tinha algumas reuniões específicas para participar e existia alguns dias que eu via os Obreiros trabalharem fortemente: Era a sexta-feira o dia do culto de libertação, nas Vigílias ou oração da meia noite (com todas as luzes apagadas) e domingo às 15h que era o culto de libertação e busca do Espírito Santo.
Na sexta-feira o inferno se levantava em peso e eu adorava ver os Obreiros se embolando com os demônios no chão, em outras palavras com as pessoas manifestadas. Algumas vezes manifestava "o coisa ruim mesmo" aquele que o Obreiro tinha que sair no braço pra resolver. Eu não fechava os olhos, eu queria ver o que acontecia e fazer o que eles faziam; Eu queria libertar as pessoas como os Obreiros libertavam em nome de Jesus, com toda aquela autoridade.
Algumas vezes presenciava situações que achava incomum, como o Obreiro orar uma pessoa manifestada e soprar no seu ouvido após pronunciar o nome de Jesus: - EM NOME DE JESUS... FUUUUSSHHH – Pronto tá liberto! Eu me perguntava, como? Ele não disse o SAI! Apenas soprou e o demônio foi embora? Simples assim?
Em outros casos eu via um Obreiro olhar para um membro e colocar apenas dois dedos na pessoa e falar: - Demônio manifesta! E o membro manifestava com espírito maligno e gritava muito.
Entrevistas com demônio era algo que também gostava de ver, simplesmente por que o demônio dizia que não sairia da vida da pessoa e logo depois implorava pra ir embora, que não podia ficar mais ali, coisa e tal... QUEEEEEEEIMAAAA! FOGO NO DIABO DA CABEÇA AOS PÉS... E o capeta pulava e pulava e se contorcia todo: SEGUUUUUURA OBREIROOOO, SEGURAAAAAA! E o capeta dizia: ME MANDA EMBORA, ME MANDA EMBORA! E lá estava o Obreiro fazendo o trabalho dele. Eu queria ser Obreiro, eu queria fazer milagres em nome de Jesus.
Mas a Formação a Obreiro não era fácil, não durava 2 semanas, não se ouvia falar em padrinhos ou madrinhas para se levantar a Obreiro (pessoas que eram levantadas diretamente de membro sem participar de um grupo de evangelização, por ser parente de um pastor), E também dois tipos de candidatos. O com crachá e o sem crachá.
Os Candidatos sem crachá, no caso dos homens usavam calça jeans e blusa branca; E as mulheres saia jeans e blusa branca. Trabalhavam no culto, mas não podiam participar das reuniões de libertação, libertando as pessoas, pois ainda não poderiam ainda "pegar o demônio pelo chifre" no salão.
Os Candidatos com crachá podiam participar das reuniões de libertação (nós chamávamos essa reunião de sacudimento) e podiam pegar o diabo pelo chifre (expressão da época). Aliás, o que todo candidato gostava mesmo era a reunião de sacudimento, pegar os demônios (libertar uma pessoa manifestada com espírito maligno) e no final ficar contabilizando os libertos e às vezes até rindo sobre as dificuldades da função e algumas situações engraçadas que aconteciam.
Os Candidatos não eram levantados de vez. Primeiro colaboravam com a igreja e aprendiam na prática sobre libertação. Mas também tinha parte teórica.
Na minha formação, eu era obrigado a ter duas bíblias e mais uma chave bíblica. Uma bíblia era exclusiva para as reuniões de candidatos a Obreiro. A bíblia dos candidatos era toda rabiscada. Cada início de livro tinha um rabisco de quem escreveu o livro, capítulos, versículos, versículo chave, tema, livros da lei ou Pentateuco, históricos, poéticos, evangelhos, cartas de Paulo, onde fala sobre fé, heróis da fé e assim por diante.
Lembro-me das aulas duas vezes na semana e principalmente das provas escritas. Sim, perguntas sobre a bíblia, sobre a formação de obreiro era padrão.
#Não levanto Ex-Obreiro.
Ainda como Candidato a Obreiro, o meu pastor da época chamado Jonas era o Regional e fazia regularmente reuniões com todos os Grupos. Numa dessas reuniões, um obreiro interrompeu o pastor para falar a respeito de um casal que estava sentado em frente ao seu gabinete.
O pastor se virou para o casal e afirmava que já tinha conversado eles e que manteria a decisão de não levantar novamente a Obreiro, qualquer Ex-Obreiro que o Bispo Randal tivesse colocado no banco. Ele afirmava isso várias vezes: - Não levanto Obreiro que o Bispo colocou no banco.
Aliás, colocar no banco era uma expressão que eu não entendia muito bem. Mas a partir desse momento comecei a entender sobre o preconceito com o ex-obreiro. Quando se falava em ex-obreiro, logo se lembrava de pecado, principalmente pecado de prostituição. Mas na verdade, para o candidato deixar de ser Obreiro, há muitos motivos por trás.
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Memórias de um Obreiro
Non-FictionMeu nome é Alexandre Fernandes de Lima e em 2007 eu criei um blog chamado Cristão da Universal e gostaria de reunir ali uma parte da minha vida e até mesmo um livro de provérbios pra minha filha que acabava de nascer. O tempo passou e o conteúdo foi...